Era sábado de Carnaval quando um grupo de seis amigos decidiu viajar para a praia de Guarapari, no Espírito Santo. Corria o ano de 2004 e eles haviam se conhecido no curso de resgate da CruzVermelha. Logo no início da viagem pela BR-381, que liga Belo Horizonte ao Espírito Santo, deram de cara com um acidente grave que acabara de acontecer. Pararam e imediatamente iniciaram o trabalho de resgate das vítimas, que ainda estavam nos carros. Já com os acidentados devidamente imobilizados, começaram a chegar as unidades de resgate. A partir do acontecido, o grupo constatou a utilidade de um serviço de primeiro atendimento voluntário, dando origem à ONG Anjos do Asfalto.
O trecho mineiro da BR-381, inaugurado há mais de 50 anos, não se modernizou e mantém até hoje o mesmo traçado sinuoso. Os números da Polícia Rodoviária Federal mostram que essa é uma das estradas mais perigosas do país. Foram 9 369 acidentes no ano de 2012, com 256 vítimas fatais. Conhecida como “rodovia da morte”, é o trecho com o maior número de acidentes graves do estado de Minas Gerais. Sua parte mais sinistra fica entre Belo Horizonte e o município de João Monlevade. Com 86 km de extensão, somou 119 vítimas fatais no ano passado. “São mais de 200 curvas que, combinadas à imprudência, dão origem à maioria dos acidentes graves,” diz o chefe da delegacia da Polícia Rodoviária Federal de Belo Horizonte, Denis Botelho.A Polícia Rodoviária apoia oficialmente o grupo voluntário e aprova com entusiasmo sua atuação. “O trabalho da ONG é exemplar e realmente salva vidas”, diz Botelho. O grupo de apoio estabeleceu seu posto na própria rodovia entre as duas cidades.”Como o posto fica em um lugar estratégico, eles chegam antes no local do acidente e, além de prestar o primeiro atendimento, informam aos grupos de resgate oficiais, SAMU (Serviço de Atendimento Médico de Urgência) e Bombeiros se há casos graves que exigem o transporte de helicóptero”, afirma Botelho. A equipe de voluntários não apenas se ocupa de socorrer feridos, mas também de sinalizar a via e desobstruí-la para evitar outros acidentes e congestionamentos.
Atualmente, o grupo conta com 17 voluntários que se revezam para atender os acidentados todos os domingos e feriados. O grupo é conhecido dos motoristas que usam a estrada e são comuns os acenos e buzinadas dos que passam. Tamanha popularidade se deve não só à presença nos sábados chuvosos, domingos e feriados – faça chuva ou faça sol – e dos vistosos uniformes amarelos na pista, mas também pelos mais de 1 000 atendimentos desde sua criação, segundo Marcus Campolina, presidente e fundador da ONG.
Com a popularização do projeto, aumenta o número de candidatos a fazer parte do grupo. “É necessário ter um curso de primeiros socorros de 40 horas e passar por um período de experiência”, diz Campolina, que afirma ter barrado candidatos por falta de estrutura emocional para enfrentar as situações de trauma dos acidentados.
Os Anjos não recebem acompanhamento psicológico para lidar melhor com as situações não raramente dramáticas que têm que enfrentar. “Quando chegamos ao local do acidente, somos frios e calculistas. Estamos ali para salvar vidas”, diz Saulo Monteiro, vice-presidente da ONG. O grupo voluntário é mantido por meio de doações de empresas e os custos fixos são pagos com a contribuição dos próprios integrantes. Atualmente, eles contam com duas ambulâncias na frota.
Parceria público-privada
Na fronteira da área de atuação dos Anjos do Asfalto fica o município mineiro de João Monlevade. A cidade não tem atendimento de resgate, cobertura do SAMU, tampouco do Corpo de Bombeiros. Mas conta com a colaboração do Sevor (Serviço Voluntário de Resgate), que existe desde novembro de 2000. O Sevor não só atua nos mesmos moldes do serviço vizinho como também, em caso de necessidade, os dois grupos realizam operações em conjunto. “Ficamos de plantão 24 horas por dia e temos ao todo 50 voluntários”, diz Humberto Fernandes, presidente da ONG. A prefeitura cobre os gastos com combustível e doou uma das três ambulâncias da frota. “Por ter um médico no grupo, que sempre nos orienta, além de prestar os primeiros socorros nós transportamos a vítima até o hospital.” Pelo atendimento que presta à população o serviço é reconhecido como utilidade pública em âmbito estadual e municipal.
O mesmo reconhecimento teve o Anjos do Asfalto atuante no Rio Grande do Sul, mais especificamente nos municípios de Gravataí e Cachoerinha. O grupo conta com 70 voluntários e atua nas quartas e quintas-feiras à noite e também nos fins de semana. “O grupo surgiu em 2004 e vive graças à contribuição de empresas da região”, afirma Rodrigo Iparraguirre, vice-presidente da ONG.
O trabalho da equipe consiste em oferecer atendimento pré-hospitalar. Mas a ONG também se preocupa em evitar os acidentes. “No ano passado, fizemos mais de 30 blitze educativas em parceria com agentes de trânsito e a Polícia Rodoviária”, diz Iparraguirre. A intenção é conscientizar sobre a importância da direção defensiva e segura.
SERVIÇO
Anjos do Asfalto / MG
Emergência: (31) 9888-0022
Sevor: sevor.com.br/site
Anjos do Asfalto/ RS
Emergência: (51) 3421-1999