Dirigir deixou de ser um sonho há muito para se tornar uma necessidade. Conquistar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) é um divisor de águas na vida do cidadão, pois permite que ele conduza um veículo, seja ele motocicleta, carro, caminhão ou ônibus, para o lazer ou para o trabalho. Mas fato é que todo condutor deveria guiar um caminhão, antes de receber sua habilitação.
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E o motivo é simples: o motorista de um automóvel ou piloto de moto não faz ideia de como um caminhão se comporta no trânsito urbano ou rodoviário.
Já tive a oportunidade de guiar caminhões ou ir de “zequinha” na boleia em algumas situações. E é fato, se todo motorista soubesse como se comporta um caminhão jamais faria presepadas na frente desses gigantes.
De acordo com a edição mais recente do “Painel CNT de Consultas Dinâmicas dos Acidentes Rodoviários 2020”, publicado em fevereiro de 2021, dos 63.400 acidentes de trânsito contabilizados em 2020, 59% foram por colisão.
Desse total,13.000 tiveram envolvimento com caminhões. Pode parecer pouco diante do total de ocorrências, mas fato é que, segundo o Denatran, dos 110 milhões de veículos que circulam nas vias brasileiras, os caminhões correspondem a mesmo de 3% da frota, com 2,9 milhões de unidades. Ou seja, proporcionalmente os caminhões se envolvem em mais acidentes que os 59 milhões de carros de passeio e outros 8 milhões de picapes.
Os fatores que provocam um acidente são muitos. Mas é fato que boa parte das colisões envolvendo caminhões poderiam ser evitadas. Isso porque em muitos casos o motorista do automóvel não tem a menor noção de como se comportar próximo a uma carreta ou até mesmo de um caminhão pequeno.
Isso porque eles são veículos que geralmente levam muito peso. E quanto maior a massa deslocada, maior é o tempo de resposta. Exemplo: quando um automóvel entra na sua frente, o motorista pisa com força no freio e o carro consegue desacelerar rapidamente, evitando o pior.
Massa em deslocamento
Com um caminhão é diferente. Em um carro de passeio, que pesa entre 900 e 1.500 quilos, reduzir a velocidade rapidamente é fácil para os discos e pastilhas de freio. Já no caminhão, que na grande maioria das vezes roda carregado (pois sua função é transportar carga), a massa deslocada é muitas vezes maior que o peso do carro. E imobilizar esses veículos exige muito espaço livre, freio motor e freio de implemento, além das lonas das rodas.
Num teste com o Mercedes-Benz Actros, puxando 50 toneladas de areia, no campo de provas em Iracemápolis (SP), foi possível ver quanto espaço é preciso para a parada completa desse monstro numa velocidade abaixo dos 60 km/h. É uma sequência que inclui acionar antecipadamente o freio motor (redução de marchas), o retarder (freio hidráulico que atua no diferencial), o freio do implemento, que são as lonas da carreta, assim como os freios do cavalo-mecânico.
Tudo isso leva tempo e muitos metros até que a parada seja finalizada. Agora imagine quando um carro entra na frente e freia?
Conversando com caminhoneiros, muitos dizem que há situações em que não há o que fazer. “Ou você passa por cima, ou tenta tirar com o risco de perder o controle e tombar”, contou um motorista de reboque, que deixou de guiar a carreta para se dedicar à prancha, enquanto “excomungava” um incauto condutor de um Fiat Palio que entrara à sua frente.
É assustador, mas é fato. Pois o caminhão simplesmente não é capaz de parar. Outra situação que todo motorista deve evitar é ficar lado a lado com um veículo de grande porte. Por mais que os grandes caminhões tenham uma série de retrovisores (e até câmeras) que permitem ver tudo ao redor, se o caminhoneiro precisar trocar para a faixa do lado na tentativa de evitar uma colisão, ele não pensará duas vezes.
E se o amigo estiver trafegando ao seu lado, pode ser abalroado pelo implemento. Assim, quanto estiver trafegando lado a lado com esses gigantes saia de perto o quanto antes, pois um desavisado poderá entrar na frente da carreta e você corre o risco de se tornar a bola da vez.
E por fim, não fique dando bobeira atrás de uma carreta numa ladeira. Segundo um técnico da Mercedes, num teste rodoviário, em que fui na condição de dublê do Stênio Garcia, o imortal Bino, ele demonstrou o assistente de partida em rampa, do Actros, com a carreta mais uma vez lotada de areia.
“A tecnologia permite arrancar com segurança, mas em carretas antigas, há o risco de o implemento puxar o cavalo. Por isso ficar atrás de uma carreta carregada é arriscado”, contou o experiente condutor enquanto demonstrava as capacidades do extrapesado alemão numa rampa de acesso ao rodoanel paulistano.
Assim, a dica é: Se puder, faça uma aula de direção num caminhão para entender como essas máquinas se comportam. Do contrário evite frear bruscamente na frente deles, colar na traseira ou achar que você pode esconder debaixo da carreta como em “Velozes e Furiosos”.