Os SUVs representaram 43,8% dos carros novos vendidos no Brasil, uma participação que cresce ano após ano. Mas, afinal, o que é um SUV?
A categoria de carros que mais cresceu nas últimas décadas no Brasil e no mundo é representada pela sigla SUV, que significa Sport Utility Vehicle, ou Veículo Utilitário Esportivo na tradução literal. Mas “esporte”, neste caso, é no sentido de “recreativo”. São poucos os SUVs que realmente são esportivos.
Em geral, os SUVs são mais altos e robustos que sedãs e hatchbacks, seus maiores concorrentes de mercado. Mas há muitos carros que parecem SUV mas não são classificados desta forma, bem como existem os que não são SUVs mas são vendidos como tal
Quando os SUVs surgiram?
Como os automóveis surgiram da evolução das carroças motorizadas, nas primeiras a elevada altura do solo e rodas grandes eram muito comuns. Afinal, estradas pavimentadas eram raridade.
A origem dos SUVs remete a 1935, com o lançamento do Chevrolet Suburban Carryall (imagem acima), primeira station wagon com a carroceria toda feita de aço. O modelo foi criado para transportar famílias inteiras, por ser um carro espaçoso, com três fileiras de banco e confortável e caiu no gosto do consumidor na época. O modelo existe até hoje, sendo o mais longevo da história.
Outro modelo importante é o Range Rover, que surgiu em 1970 unindo a capacidade off-road e a robustez de um jipe utilitário com materiais, acabamentos e equipamentos dos carros de luxo da época.
Mas o verdadeiro pai dos SUVs modernos, com carroceria monobloco e muito mais leves do que utilitários com carroceria montada sobre chassi, foi o Jeep Cherokee de segunda geração, lançado em 1984.
Essa mudança permitiu o uso de motores menores, mais eficientes e também um melhor comportamento dinâmico, além de um espaço interno melhor aproveitado. Isso ajuda a explicar a evolução das vendas deste tipo de veículo nas décadas seguintes: só esta geração do Cherokee teve mais de 3 milhões de unidades fabricadas nos Estados Unidos até 2001, mas sua produção na China continuou até 2014.
O que define um SUV?
A partir do momento que os SUVs passaram a ter carroceria monobloco como qualquer automóvel de passeio, muitos automóveis de passeio tentaram se aparentar aos SUVs. O Brasil teve um grande segmento de carros aventureiros a partir do lançamento do Fiat Palio Adventure em 1999, com modelos como VW CrossFox, Idea Adventure, Renault Sandero Stepway e Citroën Aircross.
O questionamento de qual carro pode ser definido como SUV ou não aumentou. Pelo consenso geral, um SUV normalmente é caracterizado por ser um veículo mais alto e espaçoso, tanto internamente quanto externamente, com motor potente e alguma capacidade de vencer obstáculos.
Isso pode gerar algumas distorções, porém. De acordo com a classificação do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), um SUV precisa cumprir quatro dos cinco requisitos a seguir:
- Ângulo de ataque mínimo de 23°, com tolerância de -1°.
- Ângulo de saída mínimo de 20°, com tolerância de -1°.
- Ângulo de transposição de rampa mínimo de 10°, com tolerância de -1°.
- Altura mínima livre do solo entre os eixos de 200 mm, com tolerância de -20 mm.
- Altura livre do solo sob os eixos dianteiro e traseiro mínimo de 180 mm, com tolerância de -20 mm
Na gama de carros da Renault, por exemplo, Kwid e Stepway podem ser enquadrados dentro do que chamamos de SUVs compactos, ainda que não sejam tratados como tal pela fabricante. O mesmo acontece com o Citroën C3: para a fabricante francesa, seus SUVs no Brasil são o C4 Cactus (imagem acima) e o futuro C3 Aircross, apenas. O C3 é um “hatch com atitude de SUV”.
Também pela classificação do Inmetro, Chevrolet Tracker, VW Nivus, Toyota Corolla Cross, todos esses cumprem apenas 3 dos 5 critérios. Já o Fiat Uno Way ou o Honda WR-V cumpriam pelo menos quatro desses quesitos e podem ser considerados SUVs.
A discussão fica ainda mais confusa se envolvemos a classificação feita pelo Departamento Nacional de Trânito (Denatran), que classifica Crossovers e SUVs como caminhonetas.
Para o órgão, caminhonetas são “veículo automotor, misto, com quatro rodas, com carroçaria, destinado ao transporte simultâneo ou alternativo de pessoas e carga no mesmo compartimento”. Vale tanto para peruas, quanto para SUVs.
Todo SUV precisa ter tração 4×4?
Não mais. No início, quando o chassi era separado da carroceria, ou tinham tração 4×4 ou no mínimo tração traseira, como as picapes médias. Contudo, nem o Inmetro nem o Denatran fazem qualquer distinção sobre a mecânica de SUVs ou caminhonetas.
Hoje a tração 4×4 tem oferta limitada a modelos como Jeep Renegade, Compass e Commander, Mitsubishi Eclipse Cross, Suzuki Jimny e Ford Bronco, entre os compactos e médios.
Como ficaram mais leves, os SUVs de hoje conseguem superar situações off-road mais leves apenas com o controle de tração, que consegue simular nos freios um bloqueio do diferencial. Modelos como o Peugeot 2008 THP e Citroën C4 Cactus THP ainda têm modos de atuação do controle de tração ideal para cada situação.
Como os consumidores enxergam os SUVs
Mesmo com as qualificações do Inmetro e Denatran, montadoras e consumidores continuam com as suas próprias qualificações para determinar se um carro é SUV ou não. É o mercado quem acaba ditando o que é e o que não é um SUV.
Quando um veículo tem algo que o submeta a um SUV, ele é tratado com um olhar diferente, isso se dá pela procura desse tipo de carro hoje. Com ressalvas ao Renault Kwid, que virou alvo de memes após ser chamado de “SUV dos compactos” pela empresa francesa. Mas, ainda assim, teve boa aceitação no mercado brasileiro.
O que tanto atrai os consumidores é a altura. É o maior vão livre da suspensão que sugere maior capacidade e durabilidade nas estradas nem sempre boas no Brasil. Também conta a posição de dirigir elevada, que dá maior visão do trânsito e alguma sensação de poder.
A realidade é que os critérios para se chamar, ou não, um carro de SUV são um pouco confusos e trazem uma flexibilidade para os consumidores e para as empresas classificarem seus carros e se “aproveitarem” do alto interesse pelo segmento.
Então, caso você esteja interessado nesse estilo de veículo, vale definir muito bem quais são as características que está buscando em um carro. Afinal, tanto o Renault Stepway quanto Jeep Compass Diesel 4×4 podem ser tratados como SUVs.
Como é o mercado de SUVs no Brasil?
Muitas vezes o termo ideal, especialmente para os modelos derivados de carros de passeio, seria “Crossover”. É um termo ambíguo: vale para qualquer modelo que misture características de duas categorias de carros, ao mesmo tempo que sugere que o veículo é capaz de superar obstáculos.
A distinção entre SUVs e crossovers, porém, é mais comum nos Estados Unidos e na Europa, mas não colou no Brasil.
Os mercados europeu e americano já estão completamente dominados pelos SUVs, e o Brasil não está muito diferente. Em 2022, os SUVs representavam 43,84% dos emplacamentos dos país, tendo o Chevrolet Tracker como líder de vendas, com mais de 70 mil unidades.
Essa alta do mercado brasileiro parece que não vai passar tão brevemente. Todos os anos as montadoras investem e apostam mais na modalidade e, até o momento, tem dado muito certo. Hoje já são mais de 20 modelos, em diferentes versões, à venda no mercado brasileiro.
Há, inclusive, novos subsegmentos, como o dos SUVs cupês, representados pelo Fiat Fastback e Volkswagen Nivus. A previsão é que nos próximos anos, esse número continue subindo, enquanto segmentos como sedãs médios, hatches médios e peruas estão desaparecendo.