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O mistério do Fiat Tempra 16V de Ayrton Senna

Fiat Tempra 16V deu carona a Ayrton Senna em sua vitória no GP Brasil de F1 de 1993, mas onde estará esse carro?

Por Felipe Bitu
Atualizado em 13 nov 2021, 06h20 - Publicado em 12 nov 2021, 22h43
Ayrton Senna, no Safety Car, comemorando a vitória no GP Brasil de F1.
Ayrton Senna, no Safety Car, comemorando a vitória no GP Brasil de F1 de 1993 (Claudio Larangeira/Quatro Rodas)
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Destinados a limitar a velocidade dos competidores durante situações de risco, os carros-madrinha (safety cars) são um espetáculo à parte nas corridas de Fórmula 1. Baseados em modelos de alta performance, eles representam a oportunidade perfeita para reforçar a imagem de qualquer fabricante.

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Foi o que ocorreu durante o Grande Prêmio do Brasil de 1993, ocasião perfeita para que a Fiat apresentasse o Tempra 16V, primeiro carro nacional dotado de quatro válvulas por cilindro. Prestes a ser lançado, o sedã ítalo-mineiro impressionou pelo desempenho: ia de 0 a 100 km/h em apenas 10,54 segundos e chegava a impressionantes 191,5 km/h.

O que os executivos da Fiat não poderiam imaginar é que a partir daquele distante 28 de março de 1993 o Tempra ficaria eternamente associado à imagem do piloto Ayrton Senna. Para celebrar sua 37º vitória (a última da carreira no Brasil) o tricampeão mundial foi levado ao pódio de carona em um mítico Tempra 16V pintado na cor vermelho perolizado.

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Quase três décadas depois o mesmo Tempra reaparece no autódromo de Interlagos para reviver um dos momentos mais importantes na carreira do saudoso Senna. É o que afirma o entusiasta Ivan Gusmão, proprietário do Tempra 16V de placas FBM-1001 que foi encontrado em São Roque (SP), prestes a ir para o desmanche.

Ayrton Senna, no Safety Car, comemorando a vitória no GP Brasil de F1._1
(Marcos Rosa/Veja)

Morador de Itabuna (BA), Ivan relata que passou quatro anos em busca do Tempra e que contou com ajuda da Fiat para certificar-se de que aquele era o mesmo automóvel utilizado no GP Brasil de 1993.  Gusmão declarou ter pago R$ 2.500 pelo carro e mais R$ 7.500 para regularizar sua documentação.

“Mandei fazer artesanalmente todos os giroflex, pois não existiam mais do mesmo modelo” – conta Gusmão. “Mandei fazer a credencial dos carros usada no GP de 1993. Foi o mais difícil porque eu não tinha uma imagem de como ela era. A FIA o certificou como o primeiro Safety Car oficial da Fórmula 1”.

A história contada por Gusmão é célebre entre os aficionados por automobilismo, mas sua autenticidade há tempos foi colocada em dúvida por vários entusiastas do Fiat Tempra.

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Muitos resolveram tirar essa história a limpo e deram início a um trabalho de investigação que levantou informações conflitantes.

Fiat Tempra 16V fabricado em 04/08/1993
Fiat Tempra 16V do entusiasta Ivan Gusmão (Fabio Pagotto/Acervo pessoal)

“Na minha opinião não se trata do Tempra que levou o Senna, mas sim de uma réplica-tributo” – conta Luiz Fernando Rodrigues, responsável pela fundação do Tempra Clube em 1997. “Mas acho que se trata de uma homenagem muito válida, que engrandece a história do Fiat Tempra e encanta os fãs do Ayrton Senna”.

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A opinião é compartilhada pelo colecionador Marcelo Paolillo, dono de quatro Tempras e conhecido no meio antigomobilista pela preservação de modelos da Fiat e Alfa Romeo: “Os Tempras do GP Brasil de 1993 eram unidades pré-série não emplacadas e que provavelmente foram escrapeadas, sucateadas ou integradas à frota da Fiat. Se esse Tempra fosse autêntico acredito que o mesmo já teria sido incorporado ao acervo do Instituto Ayrton Senna”.

“Na minha opinião, falta um documento oficial reconhecendo a autenticidade desse Tempra” – relata Alan Brito, proprietário de três Tempras e especialista em carros dos anos 90. “Mas fico muito feliz em ver uma homenagem tão fiel ao Senna: a restauração foi muito bem executada em todos os detalhes”.

Ayrton Senna, no Safety Car, comemorando a vitória no GP Brasil de F1._3
(Claudio Larangeira/Quatro Rodas)

Outro entusiasta do Fiat Tempra é o colecionador Alexandre Badolato: “Quando esse carro apareceu eu tive um sentimento duplo: de alegria pela preservação de um carro importante mas também uma inquietude em saber se o carro realmente era o que gostaríamos que fosse. Acho que a chave é data de produção do modelo, facilmente atestável pelo fabricante. Se o carro tiver sido fabricado após a data do Grande Prêmio Brasil de 1993, não tem como ser o mesmo carro.”

Questionado sobre a autenticidade do Tempra, Gusmão omitiu o número do chassi do Tempra de placas FBM-1001, obrigando a reportagem a consultar fontes públicas de acesso ao histórico do veículo. Argumentou, ainda, ter posse de um certificado emitido pela própria Fiat, mas que não pode mostrá-lo devido a um contrato firmado com o fabricante: “O carro já foi convidado pra ir a Mônaco no ano que vem e de lá quero levar pra Silvestone e Suzuka. O contrato contempla a apresentação do carro no Brasil e fora dele”.

A afirmações de Gusmão não são ratificadas pela Fiat: “O veículo em questão, chassis XXXXXXXXXXXX41122, foi produzido em 04/08/1993 e não temos nenhum acordo firmado com relação a este automóvel”, informa comunicado oficial do fabricante.

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Consultado, o Instituto Ayrton Senna declarou através de sua assessoria de imprensa que não tem como atestar a autenticidade do Fiat Tempra mas que manifesta seu apreço pela homenagem feita por Gusmão.

O sentimento é compartilhado pelo jornalista e colecionador André Tavares: “A homenagem é muito válida, pois representa uma mistura de sentimentos. A paixão por veículos faz com que apaixonados busquem e preservem a sua história. Torço para que outros fabricantes tomem a mesma atitude: é bom para o antigomobilismo e para a preservação da real história de cada automóvel.

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