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O Beetle virou ladrão de banco

A última reencarnação do Fusca ganhou um ar de mau que não combina com ele. Parece um hippie que malhou até parecer o Rambo. Enzo Ferrari uma vez disse que o Jaguar E-Type era o carro mais bonito já produzido. E mesmo hoje, 51 anos após seu lançamento, você ainda consegue mais atenção dirigindo um […]

Por Jeremy Clarkson
14 dez 2012, 14h13
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  • A última reencarnação do Fusca ganhou um ar de mau que não combina com ele. Parece um hippie que malhou até parecer o Rambo.

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    Enzo Ferrari uma vez disse que o Jaguar E-Type era o carro mais bonito já produzido. E mesmo hoje, 51 anos após seu lançamento, você ainda consegue mais atenção dirigindo um E-Type do que se estivesse cavalgando um dinossauro. Ele transcendeu a moda, algo que nem Marilyn Monroe conseguiu fazer. No seu tempo ela era considerada a mulher mais bonita do mundo, e morreu antes que a idade pudesse vir a contestar seu título. Hoje, contudo, a maioria dos homens jovens a chamaria de “um pouquinho gorda”.

    A verdade é que nosso gosto muda constantemente. Mas, através das décadas, o E-Type se manteve vencendo todas as pesquisas sobre qual é o carro mais bonito já feito. Ele era considerado bonito quando foi lançado. Ainda era bonito quando saiu de linha. Daí ter passado pela cabeça da diretoria da Jaguar fazer com que o próximo F-Type se parecesse com um tipo de interpretação moderna do mito. Um E-Type para o século 21. Mas não. Na minha opinião não há um único detalhe inspirado no E-Type. E eu acho isso muito, muito estranho.

    Não é como se não houvesse um bom mercado para designs retrô atualmente. A Fiat tem o 500, que pelo menos em Londres parece ter conseguido 75% do mercado, e há o sucesso do Mini. Também até pouco tempo atrás tivemos o Chrysler PT Cruiser… mostrando que nem sempre as coisas funcionam tão bem quanto o fabricante do carro espera.

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    E falando nisso temos o novo Beetle, daVolkswagen. Quando fui apresentado à primeira versão da reencarnação moderna do Fusca fiquei encantado. Achei que era uma ótima ideia vestir o Golf com uma roupagem da Segunda Guerra e até colocar um vasinho dentro. Até considerei comprar um. Ainda bem que não comprei, porque logo ficou claro que a VW errou a mão. Parte do problema é que ele parecia amistoso demais na época. E modelos com cara muito amistosa sempre parecem um pouco insossos. Carros precisam ter pelo menos uma pitada de agressividade – e o New Beetle não tinha. Eu pensei que a VW ia desistir, mas não. Agora ela acabou de aparecer com um novo Beetle, mais baixo e determinado. Tem rodas invocadas, um spoiler ameaçador e um pouquinho de escuridão na alma. Pense em um primo do Herbie que tenha virado ladrão de banco.

    Dentro, o vasinho de flores sumiu. No lugar há um painel da cor da carroceria, um porta-luvas em formato estranho, equipamentos eletrônicos modernos e o maior mostrador de combustível que já vi num carro em toda a história. Parece uma lua cheia. É tão grande que você fica com a impressão de que pode andar 5 000 km com o ponteiro na reserva.

    Mas funcionou? Bom, eu detesto ser um estragaprazeres, mas acho que não. Parece um hippie que malhou até ficar parecido com o Rambo. O Fusca pode ter sido um subproduto da guerra, mas tornou-se um símbolo da paz. E a nova agressividade? Não sei. Imagine aquele símbolo hippie de paz e amor pendurado em uma corrente de arame farpado. Uma pomba com metralhadoras.

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    Bom, talvez dê para suavizar as coisas com adesivos. O Mini e o Fiat 500 têm várias opções de adesivos, para invocar imagens de estilistas famosos ou Roma num dia de sol. Mas que adesivos você colocaria no novo Fusca para trazer à mente suas origens de carro do povo do nazismo? Pensando bem, melhor deixar os adesivos de lado. De qualquer maneira, não há dúvidas de que algumas pessoas gostaram do design como está. Então, vamos ver como ele é enquanto carro.

    E a resposta é: nada mau. Há uma versão 2.0 de 200 cv, mas eu experimentei a esperta 1.4 Sport, que oferece boa economia de combustível e, graças a dois turbos, 160 cv.Você tem de trabalhar duro no câmbio de seis marchas para fazer uso de toda a potência, mas é bom saber que ela está lá quando você quiser. A dirigibilidade é boa e tem um diferencial eletrônico que dosa tração nas rodas dianteiras e permite que você dirija como um macaco, cravando o pé no acelerador mesmo quando não deve.

    Mas ele é principalmente um carro confortável e silencioso, fácil e relaxante de guiar, com alguns toques genuinamente legais. O grande teto solar é um deles e o sistema de som Fender, outro. Em parte porque ele brilha de noite, em parte porque o áudio é bom, mas principalmente porque é um Fender.

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    Em essência, ao volante ele se parece muito com um Golf. O que não é surpresa, é claro, já que sob seu traje é isso que ele é. Você não tem a praticidade de um Golf – o banco traseiro é bem apertado –, mas pelo menos o porta-malas é maior que no antigo New Beetle. Você tem, no entanto, um padrão de encaixe das peças e um acabamento bem melhor, porque o Golf é fabricado na desleixada Alemanha, ao passo que o novo Fusca é feito no México, sinônimo de atenção aos detalhes, como todos sabemos.

    Então, vamos ao que interessa: o preço. O novo Fusca custa aproximadamente o mesmo que um VW Scirocco equipado com o mesmo motor. E isso parece ser bastante inteligente. Você escolhe: retrô ou moderno? Talvez fosse o que a Jaguar deveria ter feito com seu novo carro. F-Type ou Ponto G?

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