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Negros denunciam casos graves de racismo e segregação em fábrica da GM

Ex-funcionários dizem que empresa foi tolerante com discriminação, que incluiu ameaças, forcas penduradas e mensagens de ódio

Por Gabriel Aguiar
Atualizado em 5 jun 2020, 19h22 - Publicado em 5 jun 2020, 07h00

Racismo em fábrica da GM — Forcas e segregação, com escrita “só para brancos” no banheiro (CNN/Reprodução)

É indiscutível que o racismo deve ser combatido – e com urgência. Se trabalhar sob ameaças, discriminações e discursos de ódio pode parecer roteiro de ficção, para funcionários da GM foi uma dura realidade. E não estamos falando da década de 1950, mas de… 2018!

“Eu costumava orar. Literalmente, dizia ‘Senhor, me proteja’. Foi como estar em uma guerra”, explica Marcus Boyd, que trabalhou como supervisor na fábrica de Toledo, no estado norte-americano de Ohio, onde são feitas peças para Buick, Cadillac, Chevrolet e GMC.

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Segundo reportagem da CNN, foram penduradas forcas nas áreas com colaboradores negros. Também havia formas de intimidação mais “sutis”, ainda que tão agressivas quanto, como xingamentos. Em comum, nenhum desses casos recebeu a atenção da empresa.

Fábrica da General Motors em Toledo, Ohio, nos EUA — Fábrica da GM em Toledo, Ohio, acusada pelos casos de racismo (General Motors/Divulgação)

Foram criadas reuniões para tratar da violência e as cordas passaram a ter controle de acesso. Mas nenhum funcionário foi advertido ou responsabilizado pela segregação. Quem sofreu com abusos afirma que a GM só eliminou o objeto, sem tentar controlar as ameaças.

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Esse posicionamento apenas repetiu a postura adotada pelo fabricante em outro caso, quando um supervisor (branco) disse a Boyd que “antes, teriam enterrado [ele] com uma pá”. Mesmo depois de assumir a discriminação, não foi adotada nenhuma medida disciplinar.

O termo “negro” – considerado pejorativo nos EUA – se tornou comum durante o expediente, ainda que ninguém assumisse os comentários. Pouco depois, os afro-americanos começaram a ser chamados “Dan”, uma sigla em inglês formada pelas iniciais de “negro idiota”.

Marcus Boyd também relatou à GM a ameaça que sofreu de outro subordinado. “Ele gritou e levantou uma embreagem como se fosse me golpear. Isso poderia ter sido mortal”, explica. Como consequência, o agressor perdeu um dia de salário. “Um dia!”, reclama Boyd.

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Junto com outros oito ex-funcionários negros da fábrica de Toledo, o ex-supervisor abriu uma ação judicial coletiva contra a empresa por permitir “ambiente subjacente, de ódio violento e intimidações”. A GM, que não quis ser entrevistada pela CNN, nega as acusações.

“Discriminação e ameaças não são aceitáveis e estão contrárias à forma que esperamos que as pessoas se portem no trabalho. Tratamos qualquer incidente denunciado com sensibilidade e urgência”, afirma o fabricante por meio de um comunicado divulgado à imprensa.

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“Os castigos foram iguais em todos os âmbitos. Se ele [Boyd] sente que a gestão era tolerante, eu não vejo. Nunca vi isso. Não são racistas, se você me pergunta. Acho que as pessoas estão sensíveis atualmente? Com certeza”, diz Dennis Earl, presidente do sindicato local.

O dirigente, que representa a categoria dos trabalhadores da indústria automotiva nos Estados Unidos, é branco e trabalhou por 34 anos na fábrica da GM acusada judicialmente em Toledo, Ohio. “O que acontecia há 20 anos já não acontece nos dias atuais”, completa Earl.

De acordo com os advogados responsáveis pela ação contra a empresa, as declarações de ódio e de racismo continuavam ao menos até 2019. Nas paredes da empresa, foi encontrada a frase “só tem que enforcar os bastardos maus, mas maus bastardos têm que enforcar”.

Confira o comunicado da General Motors do Brasil após a publicação da reportagem:

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Expressamos nossa indignação com o fato de qualquer um de nossos funcionários ter sido alvo de discriminação e assédio ou o ter iniciado esses comportamentos. A posição da GM é clara: não toleramos comportamentos racistas ou discriminatórios. Estamos comprometidos em transformar a GM na empresa mais inclusiva do mundo.

Em 2017, a liderança da fábrica da GM em Toledo (EUA), incluindo o sindicato local, investigou imediatamente as alegações de comportamento racista e emitiu uma comunicação definitiva a todos os funcionários de que qualquer tipo de conduta de assédio ou ameaça não é tolerado. Também tomamos várias ações para eliminar a discriminação e o assédio de nossas instalações de Toledo e do restante de nossa empresa:

Aprimoramos nosso treinamento contra assédio, anti-discriminação e anti-retaliação para todos os funcionários em Toledo e nas nossas outras operações, em conjunto com o sindicato. Em 2018, mais de 50.000 pessoas participaram de sessões de treinamento presencial e todos os funcionários assalariados concluíram o treinamento on-line.
Ao longo de 2019 e início de 2020, a equipe de liderança sênior de manufatura da GM realizou reuniões com os funcionários para discutir discriminação, assédio, diversidade e inclusão.
No ano passado, nossa CEO, Mary Barra, visitou a fábrica de Toledo para convocar uma reunião de engajamento de funcionários e esteve lá com Gerald Johnson, nosso vice-presidente executivo de manufatura global, no mês passado.“

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