Encontrar lojas de seminovos em São Paulo é quase tão fácil como achar uma padaria. Há centenas de multimarcas, com ofertas dos mais variados modelos e preços. Porém, se você busca um carro antigo, a história é outra. Apesar de ser um mercado pequeno, ele está em crescimento, seja pelo interesse do público, seja pela oferta de carros. A mais recente novidade no setor é a abertura da Mille Duke Universo Marx, em Moema. Com sua estreia, São Paulo chega a cinco lojas especializadas, que reúnem um estoque de centenas de opções, com valores que vão de módicos 20 000 reais a impressionantes 500 000 reais, quase o preço de um Porsche 911 zero.
Inaugurada em maio, a Mille Duke tem como um dos sócios Maurício Marx. “Meu pai era colecionador e desde pequeno eu brincava com carrões em vez de carrinhos”, conta o empresário. Apesar de a loja ser recente, Maurício não é novo no ramo: já comercializa antigos desde 1999. A ideia de criar um espaço para expor e vender veículos de forma mais profissional surgiu quando o atual sócio de Marx o procurou com a intenção de começar um novo negócio. “É mais do que um espaço para venda de carros: aqui eu recebo meus amigos”, diz Maurício.
Ao contrário de uma concessionária ou loja multimarcas, um comércio de antigos não costuma ter giro muito grande. Na Mille Duke, a média é de três a cinco veículos vendidos por mês, com faixas de preço variadas. Hoje o modelo mais barato no seu estoque é um Ford Maverick 1976, por 37 000 reais, enquanto o mais caro é um Mercedes 190 SL 1959, de 450 000 reais. Caso nenhum deles agrade ao cliente, é possível ainda “encomendar” um carro específico. “Como nasci entre pessoas que gostam de automóveis antigos, para mim é muito fácil encontrar um modelo raro”, diz.
Além dos clássicos, Maurício tem uma oficina de restauração em Cotia, na Grande São Paulo, e alguns carros na sua coleção particular. Porém, há dois veículos que o empresário não vende de jeito nenhum: uma Kombi picape cabina dupla 1964 e uma Romi-Isetta 1957. “Já me ofereceram o dobro do valor, mas eles eu não vendo”, conta.
Mais antiga que a Mille Duke, a Private Collections conta com visual e estrutura semelhantes aos de uma grande concessionária – afinal ela fica na Avenida Europa, reduto das lojas de carros de luxo de São Paulo. Entre os clientes ilustres, há artistas e pilotos. Foi uma deles que rendeu uma das histórias mais curiosas da loja. Um ex-campeão mundial de F-1 encomendou um Cadillac 1959 conversível. “Ele deu uma volta e me ligou dizendo que fecharia negócio, mas que precisaria de um boné, pois viajaria 1 000 km com o carro”, diz Ricardo Robertoni, dono da Private. “Recomendei que o levasse numa prancha, pois, apesar das boas condições do carro, é uma viagem longa. Ele não aceitou, mas enviei um caminhão para segui-lo. Quando chegou lá, ele me telefonou empolgado dizendo que o Cadillac era ótimo.”
O acervo da Private é recheado, com modelos comoVW TL S 1972, de 25 000 reais, e DMC DeLorean 1981, que sai por 165 000 reais. Mas a grande estrela é um Mercedes-Benz 280 SE Cabriolet 1971.
Ricardo não divulga o preço, mas, segundo uma fonte próxima, está avaliado em 700 000 reais, por ser uma versão com apenas 1 200 unidades produzidas e estar num estado de conservação digno de concurso internacional. Além das vendas na loja, a Private também aposta em outra modalidade de negócio, popular nos EUA. “Fizemos uma parceria com o canal Terra Viva e vamos começar a vender carros numa espécie de leilão pela TV, em que o dono pode comprar o carro sem sair de casa”, conta Robertoni.
Uma das primeiras lojas do ramo, a Jardineira existe desde os anos 70, fundada por Assadur Mekhitarian, na Vila Prudente. “Na época, o mercado de carros antigos, assim como o de peças, era muito mais restrito”, conta o filho de Assadur, André, que hoje administra com o pai a loja localizada na Avenida dos Bandeirantes. Entre os 12 modelos expostos, o mais raro é um Jaguar Mark I 1958. “Um médico comprou esse carro zero-quilômetro na época e só conseguiu rodar 600 km antes de morrer. Depois, ele ficou parado todos esses anos”, afirma. Após passar por uma revisão, o Jaguar já está disponível a qualquer um que esteja disposto a desembolsar 400 000 reais. “Mas aqui também há opções mais populares, como Fusca, que varia entre 20 000 e 25 000 reais”, diz.
Outro negócio que passou de geração a geração é a JS Autos Antigos, na Mooca. Tudo começou há 50 anos, quando Romeu Siciliano montou uma loja de antigos no bairro. Anos depois, nasceu seu filho, João, que desde criança passou a frequentar o espaço. “Com 16 anos, meu pai me deu uma filial para cuidar”, conta João Siciliano. Com a morte do pai, em 2008, ele unificou as duas lojas da família em um único espaço, na Rua da Mooca. A JS oferece cerca de 50 opções, com preços que começam em 14000 reais – pedidos por um Fiat 147 ano 1979 – e terminam em duas raridades avalia- das em 430 000 reais.A primeira é um Buick Roadmaster 1951, cuja produção contou com menos de 500 unidades. A outra, um raro Horch Phaeton 1931, mas que exige uma restauração.
Entre tantos veículos antigos que passaram pelas suas mãos, um deles tem importância especial para João. O Ford Coupe 1930 é o xodó do proprietário da loja. “Quando era criança, meu pai me levava para passear num desses. Tanto que, quando encontrei um, logo comprei”, diz. O Fordinho é o único carro antigo da loja que não está à venda. “Ele tem um valor sentimental.”
ESTRELAS DO PASSADO DAS LOJAS DMC DELOREAN 1981
R$ 165 000
FERRARI 308 GTB
R$ 220 000
CORVETTE STING RAY 1964
R$ 285 000
BUICK ROADMASTER 1951
R$ 430 000
HORCH PHAETON 1939 (para restaurar)
R$ 430 000
MERCEDES 190 SL 1959
R$ 450 000
MERCEDES 280 SE CABRIOLET 1971
R$ 700 000
CLÁSSICOS POPULARES FIAT 147 1979
R$ 14 000
VW FUSCA 1972
R$ 16 000
VW FUSCA 1968
R$ 18 000
BMW 520 1974
R$ 20 000
VW TL S 1972
R$ 29 000
MERCEDES 350 SE 1975
R$ 35 000
CHEVROLET C-10 1972
R$ 40 000