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Motos em Hollywood

Hollywood adora as motos, só que nem sempre pilotadas pelos mocinhos

Por Eduardo Viotti | fotos: divulgação
Atualizado em 9 nov 2016, 11h55 - Publicado em 6 dez 2011, 13h36
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    Nas produções clássicas de Hollywood, a motocicleta é obrigatória na construção de personagens rebeldes e contestadores. Na telona, raramente nós, motociclistas, aparecemos ao lado da lei e da ordem.

    Escolhemos 25 filmes em que a moto é destaque. Há dúzias de outros bons exemplos, e também há películas memoráveis que ficaram de fora. São opções, um pouco pessoais.

    O Selvagem marcou época, estrelado pelo galã – e meio outsider – Marlon Brando, em 1953. O filme aludia ao evento ocorrido no dia 4 de julho de 1947 em Hollister, pacata cidade californiana invadida por gangues de motociclistas que acabaram entrando em conflito e aprontando a maior arruaça. O filme fixou estereótipos, como a jaqueta transpassada de couro preto e zíperes reluzentes que Johnny Strabler (o personagem de Brando) usava, o boné tombado de lado, as botinas de meio cano e as calças jeans bem justas. A bicilíndrica inglesa Triumph Thunderbird T6 que o ator pilotava em cena também virou ícone até os anos 60.

    E por falar na marca inglesa, Fugindo do Inferno (1963), com o astro Steve McQueen, na vida real um apaixonado por motocicletas e pelo automobilismo, é quase uma introdução ao motocross. A estrela, ao lado de McQueen, é também uma Triumph. O filme é ambientado na Segunda Guerra Mundial, com as tentativas de prisioneiros norte-americanos para escapar de uma prisão nazista. O capitão Virgill, personagem de McQueen, acaba encurralado em campo aberto por uma tropa alemã. Com uma Triumph TT Special 650 que pode ser definida como uma scrambler, uma das precursoras das off-road modernas, McQueen transpõe a cerca do campo de prisioneiros em um salto ousado, depois de uma sequência de manobras fora de estrada nunca vista antes nas telas.

    Seis anos mais tarde, no auge do movimento hippie, da contracultura e da rebeldia contra o sistema, Dennis Hopper (também diretor do filme) e Peter Fonda protagonizaram Easy Rider – Sem Destino (1969). Dois cabeludos (e um advogado recém-convertido à maluquice, papel que alçou Jack Nicholson ao estrelato) empreendem uma lisérgica viagem através dos Estados Unidos. A coisa toda é meio alucinada demais, e datada, mas as cenas com as duas choppers rodando ao som de grandes clássicos do rock são inesquecíveis – incluía Jimi Hendrix, Steppenwolf, The Birds etc. As Harley-Davidson Panhead 1951 eram um troço único. A de Hopper era uma Bobber, de frente convencional e guidão reto. A longa “Capitão América” de Fonda é, até hoje, a chopper mais imitada nos EUA. Não tinha freio na frente, nem suspensão traseira, uma legítima raboduro. O filme, para completar, não tem final feliz: ao contrário, os dois são assassinados a tiros de calibre 12 apenas por serem libertários demais. E as motos explodem. Curiosidade: as originais foram roubadas.

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    Dez anos depois, em 1979, George Miller fez Mad Max, uma parábola fatalista rodada na Austrália. Nele, uma gangue de motociclistas aterrorizava o que restou de um mundo devastado pela hecatombe bélica atrás de – adivinha? – gasolina! Nesse cenário apocalíptico, Max Rockatansky (Mel Gibson), ex policial, salva tudo em um mundo de máquinas apodrecidas e desgastadas. O filme teve continuações, com motos, em especial a segunda, Mad Max 2, de 1981, tão boa quanto a primeira. A série criou um estilo de customização, as rat bikes, em que ferrugem é indispensável.

    Ainda no alvorecer dos anos 80, o então astro pop Prince tentou uma aventura motociclística a bordo de uma Honda 400 carenada à moda touring, toda personalizada, em Purple Rain, fita com nome de música – incluindo a cor púrpura na moto. O filme foi um fracasso de crítica e de público, mas a moto – que também não era nada disso – aparecia o tempo todo e não como simples figurante. Só serve para quem quer ver (e ouvir) Prince de moto, e olhe lá…

    Tron – Uma Odisseia Eletrônica, de 1982, era quase uma animação da Disney, apesar dos esforços do então jovem Jeff Bridges. No futuro, programadores entram dentro de um videogame, e a aventura começa… O filme é meio chatinho, mas marcou o início dos efeitos especiais no cinema. Teve continuação, Tron – o Legado, em dezembro de 2010. Jeff Bridges estava lá, 18 anos depois, aos 61 anos, rejuvenescido por computador. Ô vida dura.

    Em 1986, Tom Cruise estrelava Top Gun – Ases Indomáveis, e conquistava a linda Kelly McGillis sobre uma Kawasaki GPZ 900R. Todo mundo queria comprar óculos escuros Ray-Ban Aviator e jaquetas de náilon depois do filme.

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    Arnold Schwarzenegger era o fortão de plantão quando fez Exterminador do Futuro 2, em 1991. O androide enviado do futuro para manter vivo no presente o salvador da humanidade se valia, a certa altura da ininterrupta ação, de uma Harley-Davidson Fat Boy. Fez a fama da Fat Boy, sempre associada a certa virilidade fisiculturista e à frase “I will be back” (traduzindo: “Eu voltarei”).

    Pulp Fiction, cult movie de 1994 que lançou Quentin Tarantino como cineasta de primeiro escalão e reavivou a carreira de John Travolta, tem uma só cena com motocicleta. Mas ela vale um longa. Saindo de um massacre sanguinário de maníacos homossexuais, o personagem de Bruce Willis encontra a moto de um dos mortos em frente à loja e a toma para fugir. Ao chegar em casa, tem que explicar para a namorada (a portuguesa Maria de Medeiros), com uma paciência infinita, que a moto é do Zed, um dos mortos. O diálogo é antológico. “De quem é essa moto?”, pergunta Maria. “Do Zed.” “E cadê Zed?” A frase “Zed’s dead, baby. Zed’s dead”, dita com muita calma, é um must. O melhor de Tarantino.

    James Bond, conhecido pelo número 007, usa motos. A criatura do escritor Ian Fleming valeu-se de uma igualmente britânica BSA Lightning em Thunderball; de uma Kawasaki Z900 em O Espião que me Amava; de uma Yamaha XT 500 em Somente para seus Olhos; de uma Yamaha XJ 650 Turbo em Nunca Mais Outra Vez; de uma Cagiva 600 trail em GoldenEye (já com Pierce Brosnan) e uma BMW R 1200 C em O Amanhã Nunca Morre (2003), entre outras. É um dos raros mocinhos que sempre usa motocicletas.

    Há outros, ainda bem. As motos salvaram a humanidade várias vezes nas telonas. Anote aí: Tom Cruise usa uma Triumph Speed Triple 1050 como arma de duelo em Missão: Impossível 2, de 2000. Angelina Jolie, no auge de sua beleza, salta e atira sobre uma moto em Lara Croft: Tomb Rider (2001). Mantendo a feminilidade, Carrie-Anne Moss arrepia com um japonês na garupa de uma Ducati 996 em Matrix Reloaded (2003). Imagine se ele se desse conta de que a moto era italiana…

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    O revolucionário argentino Ernesto “Che” Guevara (na pele de Gael Garcia Bernal) foi um garupa mais poupado em Diários de Motocicleta (2004), na Norton 500 conduzida por Rodrigo de la Serna em uma viagem de descoberta e autoconhecimento pela América Latina.

    Em 1983, por sua vez, Mickey Rourke estrelou O Selvagem da Motocicleta, depois de haver feito o desconhecido Harley-Davidson and the Marlboro Man, título sem tradução oficial. Will Smith também lançou mão de uma futurista MV Agusta SPR para perseguir robôs cheios de vontade de dominar o mundo, no filme Eu, Robô (2004).

    O filme que vai mais fundo na paixão pelas motos é Desafiando Limites (2005), em que Burt Munro, um neozelandês (que realmente existiu) interpretado por Anthony Hopkins encasqueta de bater recordes de velocidade com sua Indian nos desertos de sal de Bonneville, nos Estados Unidos. E consegue, apesar da dureza, da idade e dos sacrifícios. Uma valiosa lição de humildade, alegria e jovialidade.

    Motoqueiros Selvagens (2007) traz um grupo de amigos liderados por John Travolta e Tim Allen que sai em busca de aventuras a bordo de suas Harley Davidson pelos Estados Unidos. Pacatos chefes de família e burocratas ensimesmados encontram o espírito de aventura e o companheirismo sobre a estrada em duas rodas. Acontece todo dia.

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    Em Batman – O Cavaleiro das Trevas (2007), Christian Bale conta com o apoio de Batcycles, projeções fantásticas que mal se mantinham de pé… A chopper de O Motoqueiro Fantasma (2007), com Nicholas Cage, também é idealizada, mas baseada em exemplares desenvolvidos a partir de modelos Harley. No filme, a moto é um instrumento do demônio, como o personagem de Cage, que entrega a alma em troca do sucesso, bem ao estilo de Evel Knievel – sem as fraturas.

    Os heróis de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008), com Harrison Ford; Transformers 2 – a Retaliação (2009), com a deliciosa Megan Fox; e Capitão América (2010), com Chris Evans, também andaram de moto, para salvar eficientemente – e com agilidade e economia incomparáveis – a humanidade.

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