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Impressões: domamos o caminhão de R$ 1 milhão que puxa até 500 toneladas

Mercedes-Benz Actros é exagerado em tudo: da capacidade de carga ao preço, passando por suas complexas operações de transporte

Por Paulo Campo Grande
Atualizado em 16 ago 2019, 15h57 - Publicado em 18 jul 2019, 07h00
Feito para cargas especiais, existem apenas oito destes rodando no Brasil (Fernando Pires/Foto/Quatro Rodas)

Quem se depara com o Mercedes-Benz Actros 4160 SLT logo vê que ele é um caminhão grande e forte. Ainda mais carregado como nesta foto. As aparências, porém, só revelam parte das características deste Mercedes-Benz.

O Actros 4160 SLT suporta até 500 toneladas de carga, o que faz dele o caminhão com maior capacidade máxima de tração (CMT) à venda no Brasil.

Para se ter ideia do que isso significa, os caminhões do segmento de extrapesados, que fazem nossos automóveis parecerem brinquedos de criança nas estradas, têm CMT entre 45 e 74 toneladas.

O 4160 SLT foi desenvolvido para levar o que os profissionais chamam de cargas indivisíveis – que excedem em peso e tamanho e que não podem ser secionadas.

São turbinas, transformadores e tanques para hidrelétricas, termoelétricas e indústrias diversas. Para levar essas cargas, o SLT conta com reforços estruturais no chassi e equipamentos dimensionados para o trabalho pesado.

Seu motor, por exemplo, é um V8 16.0 (isso mesmo, 16 litros!), diesel, que rende 598 cv de potência a 1.800 rpm e 285,6 mkgf de torque a 1.080 rpm. Na transmissão, a tração é integral 8×8 e o câmbio é automatizado de 16 marchas.

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A embreagem tem um sistema que permite arrancadas (e frenagens com uso de freio motor auxiliado por sistema hidráulico integrado na caixa de marchas) sem desgaste, mesmo nas condições mais severas, como manobras em baixa velocidade, aclives e declives e pisos sem pavimento (terra, pedra e neve). 

A aplicação específica do SLT faz com que não existam muitos deles rodando por aí. Segundo a Mercedes, atualmente há apenas oito unidades no Brasil.

Por esse motivo, para conhecer melhor esse caminhão, contamos com a cortesia de um dos proprietários, a empresa Megatranz, de São Paulo.

Cavalo mecânico mede 8,36 m de comprimento e 3,98 m de altura (Fernando Pires/Foto/Quatro Rodas)

O que inicialmente parecia uma limitação acabou se mostrando uma oportunidade de avaliar o caminhão em condições reais de uso.

Quem vê o Actros passar não faz ideia do trabalho que suas viagens dão. Seus fretes requerem longos planejamentos: dependendo do caso podem durar mais de um mês, segundo o supervisor da Megatranz Dionísio Bizerra, 34 anos.

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Ele conta que, antes de sair da garagem, é necessário estabelecer rotas e horários de partidas e chegadas, pontos de parada e providenciar todas as autorizações legais para circulação.

A preparação inclui até uma viagem prévia, em um automóvel, percorrendo o roteiro estabelecido para checar se as condições de rodagem foram previstas corretamente.

Nesses roteiros, frequentemente, é necessário providenciar desvios, pontes e realocar a rede elétrica, entre outros serviços para o carregamento avançar.

Atividade apaixonante

Um caminhão como o SLT nunca roda desacompanhado. O Actros que dirigimos viajava na companhia de escolta privada, de um caminhão de apoio mais a escolta da Polícia Rodoviária, que é obrigatória no estado de São Paulo.

A equipe envolvida no frete era composta pelos motoristas do caminhão e das escoltas e pessoal de apoio, que pode chegar a 35 pessoas.

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Numa de suas paradas, onde tivemos nosso primeiro contato com o SLT, surgiu um grupo de funcionários para fazer manutenção nas ripas de madeira que ficam no alto da carga: elas servem para desviar os fios da rede elétrica.

O lastro de 18 toneladas aumenta a aderência nas rodas traseiras (Fernando Pires/Foto/Quatro Rodas)

O motorista Gilson José Gonçalves, 53, disse que as ripas tinham sido danificadas numa árvore.

Nesse dia, contamos nove pessoas ao redor do Actros, além de nós (editor e fotógrafo, mais a assessora de imprensa da Mercedes e o motorista que nos levou até lá).

Para o supervisor Bizerra, o transporte pesado é uma atividade apaixonante.

Enquanto esperava a chegada da Polícia Rodoviária, que faria a escolta naquele dia, ele nos contou vários casos de cargas desafiadoras que já transportou, emendando um relato ao outro, como o do submarino da Marinha do Brasil, que para ser retirado do mar precisou de um colchão de ar para fazê-lo flutuar e vir à tona.

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O prazer que Bizerra demonstra ao falar da profissão também é evidente no restante da equipe. A única queixa que parece ser unânime é a saudade dos filhos e da esposa.

Um dos motoristas da escolta, o gaúcho Mauro Brites, 52, contou que estava longe de casa fazia cinco meses. “Só volto depois deste frete, o que vai levar mais 20 dias”, explicou enquanto aproveitava a parada para se barbear com um aparelho à pilha.

Brites contou que passa os dias dentro do carro da escolta, um Fiat Palio.

Como é o responsável por sinalizar a comitiva, ele não desgruda do caminhão e, à noite, dorme no Palio, que possui uma cama improvisada no lado direito da cabine, onde não há o banco do passageiro.

Semirreboque é motorizado: tem eixos tracionados e direcionais (Fernando Pires/Foto/Quatro Rodas)

A missão de Bizerra, Brites, Gonçalves e seus companheiros era levar a carga, um módulo evaporador de 140 toneladas, para uma usina de etanol de Piracicaba (SP) a Sinop (MT).

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Nosso plano era acompanhar um trecho dessa viagem, entre as cidades de Barra Bonita e Jaú (pela vicinal BRB-010), no interior de São Paulo, o que levaria um dia, e ao final do percurso dirigir o caminhão.

Como a unidade da Polícia Ro-doviária que faria a escolta naquele dia não apareceu porque estava ocupada em atender outras ocorrências na região, nós só pudemos fazer as impressões ao dirigir do caminhão.

Por motivos legais, guiamos apenas o cavalo mecânico, a unidade composta pela cabine, motor e rodas de tração. Para dirigir com a carga, além da CNH categoria E, é necessário fazer um curso específico para o transporte das tais cargas indivisíveis.

Dois requisitos que nós não atendíamos. O semirreboque (a parte de trás do caminhão) ficou no acostamento, mas vale a pena descrevê-lo.

Mais de 150 rodas

Da marca alemã Scheuerle, ele tem seu próprio motor (de oito cilindros e 380 cv de potência), que serve para auxiliar na movimentação da carga em manobras, em pátios ou dentro de galpões, dispensando o caminhão.

O controle é feito por meio de um joystick. Com 25 m de comprimento, o semirreboque possui 20 eixos, sendo que os quatro dianteiros são tracionados e direcionais. Ao todo, são 160 rodas (oito por eixo).

Subi à cabine do Actros, enquanto o motorista Gonçalves se acomodou no banco do passageiro. A única dificuldade foi reconhecer os comandos do câmbio.

A alavanca fica no apoio de braço do assento, do lado direito. Mas a seleção do modo de uso manual/automático é feita em uma tecla do tipo on/off e as trocas no modo manual ocorrem pelos dois gatilhos localizados na parte frontal do apoio, acessados pelos dedos médio e indicador.

A alavanca do freio de mão (que também é um redutor eletrônico de velocidade), por sua vez, está no painel bem próximo ao volante.

Motorzão V8 de 16 litros rende 598 cv e 285,6 mkgf (Fernando Pires/Foto/Quatro Rodas)

Feito esse reconhecimento, dei a partida e acelerei. O motor V8 ronca alto e vibra. A aceleração é lenta mas progressiva. Ao contrário do que a força do motor sugere, o Actos não exige esforço do motorista.

O volante é leve e o banco confortável tem amortecedor que ajuda a filtrar as vibrações que a suspensão transmite à cabine. Logo nos primeiros metros, Gonçalves me alertou para não deixar a roda do caminhão cair no acostamento (sem pavimento e em desnível).

“O lastro aqui atrás é um pouco pesado, 18 toneladas”, disse. “É perigoso o caminhão tombar”, afirmou.

Atento ao asfalto, me surpreendi ao ver o teto da cabine passar rente à copa de uma árvore à beira da estrada. Acelerei o SLT até a velocidade máxima de 60 km/h (limitada eletronicamente).

Mas o motorista me contou que com o caminhão carregado raramente se passa dos 50 km/h. E,  se a carga for um gerador, esse limite cai para 20 km/h, para não se correr o risco de danificar o equipamento, sensível a impactos.

A Mercedes não divulga números de consumo, pois depende do peso transportado e da velocidade desenvolvida. Mas, segundo os motoristas, a experiência mostra que a média fica ao redor de 4 litros para rodar 1 km!

Ou seja: os 900 litros de capacidade do tanque são suficientes para rodar cerca de 225 km. 

Na cabine espaçosa, há cama e porta-objetos por todos os lados. O painel exibe informações em tela LCD. A alavanca de câmbio fica no apoio de braço do assento e a do freio está localizada no painel. Posição de dirigir é confortável (Fernando Pires/Foto/Quatro Rodas)

Preço nas alturas

O cockpit do Actros é envolvente. O painel tem velocímetro e conta-giros analógicos e tela digital com informações do veículo (temperatura do motor e da transmissão, modo de uso do câmbio).

No console, há os comandos do ar-condicionado e teclas dos faróis e do pisca-alerta. Por todo lugar que se olhe há um porta-objetos, até no alto, acima do para-brisa, e nos batentes das portas.

A cabine é ampla: de uma porta a outra há 2,20 m de espaço. E atrás dos bancos fica uma cama, que tem 75 cm de largura.

Segundo a Mercedes, com a capacidade de 500 toneladas, o Actros faz sozinho o que outros dois ou três caminhões só conseguem interligados em comboio.

Assim, ele reduz os custos com motoristas, combustível, pneus e pedágio. O Actros 4160 SLT, porém, é mais caro que seus pares em versões comuns.

O SLT custa R$ 1 milhão na configuração básica, enquanto um Actros na versão 2651 6×4 (CMT de 80 toneladas), que é o modelo regular mais caro da Mercedes, sai por R$ 500.000.

Metade do preço. Ou seja: não é só no porte e na força que o SLT supera os demais.

Veredicto

Ao fazer o trabalho de um comboio de caminhões, o Actros 4160 SLT não reduz apenas os custos. Ele contribui também para diminuir as emissões e tornar o transporte de carga mais fácil e simples.

Ficha técnica

  • Motor: diesel, V8, 16.000 cm3, 598 cv a 1.800 rpm, 286 mkgf a 1.080 rpm
  • Câmbio: automatizado, 16 marchas, tração integral 8×8
  • Direção: hidráulica
  • Freios: disco nas oito rodas
  • Suspensão: molas semielípticas e barras estabilizadoras
  • Rodas e pneus: 315/80 R22.5
  • Dimensões: comp., 836 cm; larg., 247,5 cm; alt., 398 cm; peso, 14.812 kg; tanque, 900 l; carga máxima de tração, 500 toneladas
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