O conceito do carro pé de boi, depenado de equipamentos, surgiu em 1965. Com a crise que assolava o Brasil, o governo resolveu reduzir impostos e criar um financiamento de 90% do carro. As montadoras responderam com versões despojadas de seus modelos de maior sucesso: assim surgiram Volkswagen Pé de Boi (que viraria sinônimo do segmento), Willys Teimoso, Simca Profissional e DKW Pracinha.
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Mas poucos sabem que, três anos antes, a Vemag já havia investido nessa ideia, com o objetivo de ampliar seu mercado. A Pracinha, uma versão simplificada da perua Vemaguet, nada mais era que a reedição da Caiçara, tentativa fracassada de popularizar o utilitário alemão considerado o primeiro automóvel nacional.
Custando cerca de 40% menos que a Vemaguet, a Caiçara havia sido apresentada em 1962, eliminando tudo o que fosse considerado supérfluo: a carroceria não ostentava frisos e os cromados se limitavam a espelho retrovisor, maçanetas e aros dos faróis. Contorno da grade, para-choques e rodas eram da cor do carro, ou seja, bege ou azul-claro. As calotas pretas pareciam sobras de estoque: eram as mesmas que equiparam os DKW até 1960.
O interior tinha uma simplicidade própria: o estofamento vermelho contrastava com o volante preto, o quebra-sol era só para o motorista, o porta-luvas perdia a fechadura com chave e não havia sinal do rádio.
Só as portas recebiam forração: as laterais dos passageiros de trás e o porta-malas permaneciam expostos. Mas, enquanto a Vemaguet trazia uma luxuosa porta traseira bipartida, a da Caiçara era inteiriça, com sistema lateral de abertura.
Apesar do aspecto franciscano, ela mantinha as virtudes da Vemaguet: o motor de dois tempos e três cilindros tinha apenas oito peças móveis (virabrequim, eixo da hélice do radiador três pistões e três bielas), o suficiente para levar seis adultos e sua bagagem.
O câmbio manual de quatro marchas era sincronizado e seu comportamento dinâmico, notável, graças à tração dianteira e à suspensão independente nas quatro rodas. Numa pesquisa de satisfação dos proprietários publicada na QUATRO RODAS em maio de 1963, a Caiçara obteve nota superior à da Vemaguet.
Os acessórios acabavam sendo adquiridos nas concessionárias: tapetes (de borracha ou juta) para o interior e porta-malas, luz de cortesia, vidros traseiros corrediços, porta-luvas e bocal de combustível com chave e, para finalizar, uma boa dose de cromados em frisos, calotas e parachoques.
A maioria das Caiçara foi descaracterizada por esses banhos de loja, tornando ainda mais difícil encontrar atualmente um exemplar em seu estado original.
É o caso deste modelo 1962, que pertence a um colecionador paulista, entusiasta dos DKW: “A Caiçara é tão rara que para requerer a placa preta foi preciso encaminhar documentação histórica ao Denatran, para comprovar que o modelo existiu. Só após meses de espera foi criado um código específico para a versão”.
De fato, a ideia de popularizar um bem de consumo que ainda era símbolo de status não deu certo: apenas 1.173 Caiçara foram produzidas até 1964. Beneficiada pela linha de crédito estatal, a Pracinha teve melhor sorte mais tarde, provando que o conceito pioneiro da Vemag estava alguns anos à frente de seu tempo.
Motor | longitudinal, 3 cilindros em linha, 980 cm3, dois tempos, alimentação por carburador de corpo simples; |
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Potência | 44 cv a 4.250 rpm |
Torque | 8 mkgf a 2.800 rpm |
Câmbio | manual de 4 marchas, tração dianteira |
Dimensões | comprimento, 425 cm; largura, 164 cm; altura, 149 cm; entre-eixos, 245 cm; |
Peso | 950 kg |
Pneus | 5,60 x 15, diagonais |
Preço (maio de 1962) | Cr$ 1.019.500 |
Preço (atualizado IGP-DI) | R$ 103.215 |