Era quase 9h30 da manhã de sexta-feira (3), com o autódromo ainda bem vazio, que Interlagos viveu a primeira comoção do Grande Prêmio de São Paulo de Fórmula 1 2023. Foi culpa de Lewis Hamilton, que mais uma vez reforçou seus laços fortes com o Brasil. Ligação que vai da sua paixão por Ayrton Senna ao título de cidadão honorário recebido, em novembro de 2022, na Câmara dos Deputados.
Abrindo mão da extravagância das suas roupas ao longo da temporada, Hamilton apelou para o passado, desfilando pelos boxes como uma jaqueta da Seleção Brasileira tetracampeã em 1994 (pouco depois da morte de Senna). Daí em diante, os olhos voltaram para o futuro, próximo ou distante.
Mirando no longo prazo, o chefão da F1, Stefano Domenicali, anunciou que Interlagos seguirá no calendário da maior competição de automobilismo do mundo, pelo menos, até 2030. O contrato do circuito paulistano expiraria em 2025, mas Domenicali fez questão de contribuir para que o acordo fosse prorrogado, disse o prefeito da cidade, Ricardo Nunes.
No fim das contas, comemoram os fãs que, nas redes sociais, receberam a notícia com festa. Jornalistas estrangeiros exaltavam o traçado icônico com mudanças de terreno e nada parecido com os circuitos mais novos (e muitas vezes tediosos). “É uma forma de manter viva a antiga Fórmula 1 para os novos fãs”, disse um dos repórteres.
Se, de um lado, já havia planos concretos para daqui a 7 anos, do outro, era difícil prever o céu de algumas horas adiante. Desde a manhã, os pneus de chuva eram carregados por mecânicos no pit lane, de olho num tempo cada vez mais fechado. A chuva parecia não vir e, mostrando que o futuro é indomável, caiu com força impressionante no fim das atividades em pista.
Como no ano passado, o timing da água determinou o grid de largada do Grande Prêmio brasileiro: faltavam cerca de 4 minutos para o fim do Q3 quando a pista ficou encharcada e escura como noite; colocar os pneus de chuva seria inútil diante do visual apocalíptico e bastou a todos voltarem aos boxes, inclusive pela baixa iluminação.
Menos trabalho para o tricampeão Max Verstappen, que provavelmente faria a melhor volta com sua Red Bull mas teve sua pole antecipada. Charles Leclerc, da Ferrari, veio em seguida e Lance Stroll ficou em 3º, com Fernando Alonso em 4º completando a segunda fila incomum, toda da Aston Martin. Hamilton foi 5º.
A classificação dessa sexta-feira vale para a corrida de domingo (5). Amanhã há a qualificação da corrida Sprint e a “mini-corrida” logo em seguida, para quem busca pontinhos extras.
Fim do mundo?
Com o tempo nublado na maior parte do dia, parecia que a disputa de sexta terminaria com, no máximo, uma garoa. De repente, “ela” veio, mas não da represa, e sim do mar. No caso, uma frente fria que se aproximava do litoral paulista e provocou problemas dentro e fora das pistas.
No meio da tarde, o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas da Prefeitura de São Paulo anunciou o risco elevado de tempestade. A previsão do CGE foi quase um “bingo” em Interlagos: chuva forte, ventos fortes e raios fizeram com que todos buscassem abrigo.
No pit lane, a cobertura foi insuficiente para conter a água. Logo, funcionários corriam para recolher TVs e móveis dos lounges que cada equipe montou. Os pilotos aproveitaram os corta-ventos e guarda-chuvas para se disfarçarem das câmeras, com exceção de George Russel, que se lavou na cachoeira na saída dos boxes.
Até o risco de quedas de árvores do CGE se concretizou, de certa forma. Isso porque, no início da reta dos boxes, folhas e galhos de árvores forraram o asfalto, trazidos pelas rajadas de até 70 km/h. A cobertura de uma pequena arquibancada desabou, mas QUATRO RODAS não apurou feridos no incidente. Uma hora depois de acabar o treino, muitos fãs ainda aguardavam, nas arquibancadas, a trégua climática.
O que esperar do amanhã?
A imprevisibilidade da chuva traz momentos memoráveis à Fórmula 1, mas a tempestade de hoje certamente causaria uma bandeira vermelha durante a corrida. Para sorte de todos, o CGE não prevê chuva para o resto do fim de semana. Na verdade, espera-se frio e sol, com alguns ventos que são efeito colateral do ciclone que castiga o Rio Grande do Sul.
Com fé na previsão e a certeza de Verstappen e Red Bull como campeões de 2023, a especulação recai no ano que vem, e com destaque para Sergio Pérez. De um lado, a imprensa italiana reportou conversas que garantem o mexicano ao lado do tricampeão no ano que vem. Do outro, o mau desempenho de Pérez, que chegou pouco simpático ao autódromo, bota lenha na fogueira.
Checo pode inclusive perder a vice-liderança para Hamilton, que ainda busca sua primeira vitória desde 2021. Quem torce para o ícone da Mercedes, entretanto, não quer esperar 20 anos para que esse triunfo venha, como esperou a Seleção de 94, que vestiu o inglês hoje.
Horários do Grande Prêmio de São Paulo
As atividades do Grande Prêmio de São Paulo de Fórmula 1 continuam neste sábado (4). Às 11h, começa o treino que definirá a ordem de largada da Sprint, chamado de Sprint Shootout. A corrida de 24 voltas terá início às 15h30 e oito pilotos pontuarão até oito pontos.
No domingo, só importa a corrida cheia, de 72 voltas. A largada é às 14h e, se lembrar do passado nos permite especular o futuro, é bom não fazer previsões. Um dos motivos que trouxe festa à notícia de que Interlagos segue na Fórmula 1 até 2030 é, justamente, a sua imprevisibilidade.