O dia 20 de dezembro de 2021 amanheceu triste para os amantes de automobilismo. Graziela Fernandes, a primeira mulher disputar uma prova das Mil Milhas Brasileiras em 1970, faleceu em São Paulo aos 73 anos. Como forma de homenagear o seu legado para o automobilismo, resgato a reportagem que fiz com a Graziela em março de 2018.
Texto originalmente publicado em março de 2018
Ela foi uma das poucas brasileiras com uma sólida carreira nas pistas e realmente abriu o caminho para a carreira feminina nos circuitos nacionais. Além disso foi idealizadora do primeiro curso de mecânica pra mulheres da Chrysler.
Mais barato que gasolina! Assine a Quatro Rodas a partir de R$ 6,90
Numa época em que para ser piloto era preciso “ter braço e colocar a mão na graxa”, a atuação de uma mulher nos circuitos nacionais ficava restrita às esporádicas presenças estrangeiras. Isso até Graziela Fernandes apaixonar-se pelos Alfa Romeo e decidir levar a relação aos limites da emoção.
“Ela abriu o caminho e a oportunidade para as mulheres seguirem carreira nas pistas”, diz Emílio Zambello, que na década de 70 era seu colega no time de pilotos e dono da equipe Jolly da Alfa Romeo. “O desempenho dela era admirável, em sua primeira prova pela equipe chegou em quarto lugar entre 50 competidores”, afirma Zambello.
A paixão de Graziela, hoje com 70 anos, pela velocidade começou bem cedo.
Na adolescência, fez um curso técnico de engenharia de motores. “O curso era uma forma de me aproximar do meu sonho: correr na pista de Alfa Romeo, a marca campeã na Itália e em todo o mundo”, diz ela.
Sua primeira oportunidade no mundo da velocidade foi em uma prova feminina em 1964 com o próprio carro, um Willys Interlagos. Graças a sua participação na prova, foi contratada como piloto de testes da fábrica da marca.
O sonho de pilotar um Alfa Romeo se concretizou quando foi convidada, em 1969, pela equipe Jolly a fazer parte do time de pilotos. Com um Alfa GTA, ela disputou as Mil Milhas de 1970, que completou em sétimo entre mais de 50 carros. “Não existiam limites para chegar na frente e não hesitava no momento de ultrapassar”, diz ela.
Em 1973, a equipe fechou as portas e Graziela parou de competir. “O patrocinador me ofereceu para correr na Stock Car em um Opala, mas sair de um Alfa e entrar em um Opala era um horror”, afirma ela.
“Mesmo pisando fundo, parecia que o Opala não saía do lugar perto do arranque e torque do Alfa”, diz Graziela, que também sentia falta do ronco do motor. “Parecia que algo estava errado, não era mais a mesma sensação. Aí, parei.”
Graziela resolveu experimentar novos ares. Tirou brevê, acumulou 7.000 horas de voo e ainda disputou corridas de lancha.
Mas não ficou distante das pistas. Competiu mais uma vez nas Mil Milhas em 1982 com o marido e até hoje participa de provas de regularidade com seu Spider conversível. Um Alfa, claro!