Não é novidade que as importações de veículos híbridos e elétricos chineses cresceram de forma exponencial no ano passado. Neste ano, elas seguem aumentando com os recorrentes lançamentos e as seguidas altas nas vendas. Porém, os portos brasileiros já passam a ter dificuldades para guardar quantidades tão grandes. A greve do Ibama também prejudica a liberação dos veículos.
Nos três primeiros meses deste ano, o Espírito Santo já recebeu cerca de 43.000 veículos importados, segundo a Vports. Neste mesmo período do ano passado, apenas 14.000 veículos importados chegaram ao Terminal Portuário do Estado.
Esse imenso aumento tem se tornado um problema para as empresas, já que, mesmo com as vendas em alta, não tem sido o suficiente para desafogar as áreas onde os veículos ficam armazenados.
Grande parte dos veículos vêm da China e são híbridos e elétricos, de marcas como BYD e GWM. Mas há também modelos de Honda, Mercedes e Volvo envolvidos nesse processo. Para solucionar o problema, as empresas já estão na busca de novos locais para armazenar temporariamente seus veículos. O porto de Suape, em Recife (PE), tem recebido alguns deles.
O representante da empresa chinesa de frete marítimo Cosco Shipping, Helder Marques, contou ao Tribuna Online que o crescimento de importação de veículos se deve ao aumento gradativo do imposto para automóveis híbridos e elétricos importados.
Em janeiro, os veículos híbridos (HEV e PHEV) passaram a ter alíquotas de 12% e elétricos de 10%. A partir do dia 1º de julho, as alíquotas passaram para 25% e 20%, respectivamente. Esse aumento se estenderá gradativamente até julho de 2026, quando atingir a marca de 35%.
Segundo Helder, por conta do reajuste no meio do ano, as empresas estão importando o maior número de carros possível, com meta de bater 80.000 veículos chineses apenas neste primeiro semestre. Para suportar tanto carro chegando, alguns ajustes nas áreas alfandegárias deverão ser realizados, para assim garantir local de armazenamento para toda essa demanda.
O aumento de exportação de veículos da China para o resto do mundo foi tão grande, que faltam navios para o país asiático. A frota da China é a 8ª maior do mundo, mas apenas 33 navios transportam veículos, segundo a consultora marítima Veson Nautical.
Para suprir isso, o país já está se movimentando e encomendou 47 novos navios para sua frota. Além disso, a própria BYD já adquiriu um navio próprio para transportar seus carros, chamado “Explorer 01”. Esse é o primeiro de alguns que a marca está projetando.
Para além desse problema, por conta da alta nas exportações de veículos da China, o frete marítimo asiático aumentou (e muito) em março. Segundo Helder Marques, o frete saltou de 2,5% para 4%, o que representa um grande impacto no transporte de outros produtos.
“Subiu de forma repentina em um período que costuma ter queda. Normalmente tem uma elevação no segundo semestre. Muitos não estão conseguindo bancar o frete tão caro”, contou ele.
Segundo o gerente regional de vendas da BYD, João Paulo de Barros, o Explorer 01 deve começar em breve a fazer viagens da China para o Brasil, assim desafogando um pouco a frota de navios de outros produtos provenientes da China.
Com a chegada da nova frota de navios chineses, o frete deve diminuir e voltar ao normal. Porém, tudo depende de quando e quanto tempo isso irá demorar para se concretizar.
Greve do Ibama também atrapalha
Desde janeiro, o Brasil enfrenta uma greve de servidores do Ibama que reivindicam melhores condições de trabalho, plano de carreira e aumento de salário. Os servidores não estão completamente parados, mas há uma movimentação reduzida, além de paralisação de algumas atividades e organização de manifestações.
Isso tem resultado em atrasos na liberação de veículos, já que estes servidores são responsáveis pela emissão de licença ambiental para importação de veículos ao Brasil. Essa licença atesta que os veículos atendem às normas brasileiras de emissões, por exemplo.
Assim, os veículos acabam parados em portos, seja de origem ou de destino. Isso tem afetado não apenas o espaço físico para guardar os veículos, mas também as vendas de modelos importados.