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Carros 0 km usados são o “jeitinho chinês” para mascarar crise na indústria

Estratégia das montadoras está inflando número de vendas de carros novos e criando um efeito dominó no preço dos 0km

Por João Vitor Ferreira
Atualizado em 4 jun 2025, 11h01 - Publicado em 2 jun 2025, 15h31
estoque de carros china
 (China Daily/Reprodução)
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Parece não fazer sentido, mas a China está vivendo com o problema dos “carros 0 km usados”. Foge um pouco da lógico, mas esse é o “jeitinho chinês” usado pelas montadoras para inflar números de vendas e driblar metas.

Basicamente, a China vive um problema de produção: sobram carros e falta demanda, gerando assim uma sobrecarga nos estoques. As montadoras precisam vender os carros a qualquer custo para dar vazão à produção e atingir as metas de venda.

Para contornar esse problema, os chineses estão registrando os carros novos como vendidos, geralmente para revendedores afiliados ou plataformas de terceiros, desse modo, eles passam a ser vendidos como usados com descontos que podem chegar aos 30%.

Essa prática é usada para que as empresas batam as metas de venda de maneira, permite que os revendedores descarreguem o estoque não vendido e, em alguns casos, aproveitem os subsídios ou políticas de exportação vinculadas ao status de registro do veículo.

Segundo os especialistas, apesar de baratear a compra de um carro 0 km para o consumidor, a prática apenas mascara o sério problema de excesso de capacidade na indústria automotiva chinesa. Em abril, o estoque de veículos atingiu 3,5 milhões de unidades no país, isso porque algumas montadoras trabalham com menos de 50% da sua capacidade de produção.

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Fábrica da BYD na China
Mesmo com capacidade reduzida, produção na China segue alta, gerando um enchimento nos estoques (Divulgação/BYD)

A prática também mascara os números reais de vendas de carros novos, afinal, depois de registrado como vendidas, as unidades não vão para as ruas. Há também consequências para os investidores, que são enganados pelos números inflados e uma distorção nos preços do mercado de usados. Como exemplo, vale citar o caso do BYD Qin L, que viu seu preço ficar quase 40% mais barato que o de tabela, fazendo com que o todos os outros concorrentes também ficassem mais baratos.

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E apesar de não parecer, os consumidores também podem ser lesados na compra de um 0 km usado. Por exemplo, os 0 km usados podem vir com menor garantia fábrica, já que ela passa a ser contada a partir do momento em que ele é registrado como vendido pela primeira vez. Há outros casos de problemas fiscais, como unidades com empréstimos não pagos ou ou históricos de propriedade pouco claros, que podem acarretar em problemas legais mais tarde.

Alguns estão considerando isso como um movimento natural do mercado se regulando às condições atuais da indústria, mas até mesmo grandes executivos chineses já estão se posicionando contra os 0 km usados.

China: principal mercado e polo exportador para várias marcas do Ocidente
Com tantos carros no estoque, montadoras criaram os “0 km usados”, veículos novos registrados como vendidos, mas que vão parar em revendedoras onde são oferecidos com até 30% de desconto (Henrique Rodriguez/Quatro Rodas)
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O presidente da Great Wall Motor, Wei Jianjun, se manifestou contra a prática. O executivo fez um apelo para que a indústria retorne aos seus principais valores: inovação, qualidade do produto e confiança do consumidor. O medo é de que práticas como essas levem o consumidor a desconfiar dos produtos, derrubando o valor de mercado das montadoras chinesas.

O Ministério do Comércio da China já começou a se movimentar para sanar o problema. No último dia 27, ele convocou uma reunião com os principais players do setor, incluindo montadoras como BYD e Dongfeng, além de plataformas de venda de usados, como a Guazi.

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As conversas focaram em aumentar a supervisão em cima de dados de vendas e transações de usados fraudulentas. As autoridades chinesas também estudam uma abordagem inspirada na Comissão de Valores Mobiliários dos EUA para o “Channel Stuffing”. Essa é uma tática de manipulação financeira, onde a empresa infla seus números de vendas artificialmente, empurrando mais produtos através de um canal de distribuição do que é capaz de vender.

Como solução, especialistas chineses defendem mudanças nas táticas de curto prazo. Entre as recomendações estão o aumento das exportações regulamentadas para países como a Rússia, reequilibrar o planejamento de produção e aumentar a transparência nos históricos e garantias dos veículos.

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