A BMW é categórica: se há demanda por um carro no Brasil, ele pode começar a ser montado na fábrica de Araquari (SC). Hoje a unidade, que já montou até o Mini Countryman, está encarregada das versões mais procuradas dos Série 3, X1, X3 e X4, e responde por 51% dos BMW vendidos no Brasil.
De Araquari saíram mais de 90.000 carros nos últimos 9 anos, média de 10.000 por ano. Peças de estamparia e motores são importados da Europa (mesmo processo que sustenta a fábrica da BMW em Spartanburg, nos Estados Unidos), mas, ainda assim, ter fábrica no Brasil agiliza a entrega dos carros e ajuda a contornar eventuais problemas na cadeia de fornecedores.
A unidade também presta serviços com seu centro de engenharia global, com pesquisa e desenvolvimento. Além de fazer testes de motores, nascem ali, por exemplo, aplicativos e sites da BMW, além de interfaces eletrônicas para os carros da marca e também da Mini. “É uma grande contribuição para os clientes locais e globais”, avalia Reiner Braun, CEO e presidente do Grupo BMW América Latina.
Mais impressionante é que a fábrica catarinense é rentável e opera no azul, garante a empresa, que tem uma posição confortável no Brasil. A BMW lidera o mercado premium dos automóveis (o que se repete em toda América Latina) e o das motocicletas, onde vem batendo recordes ano após ano.
Mas o processo de eletrificação, que norteia a estratégia da BMW para os próximos anos, ainda tem reflexo tímido na produção nacional. Os BMW X3 e X4 M40 que saem de Araquari atualmente são híbridos leve, com sistema elétrico de 48V. Não há, porém, previsão para a produção local de modelos híbridos plug-in (com eletrificação mais robusta) ou elétricos.
A BMW até vem ampliando sua oferta de carros eletrificados, mas com carros importados. Os elétricos iX1, i7 e iX M60 são elétricos e foram lançados no Brasil neste ano, enquanto os X3, X5 e Série 3 têm versões híbridas plug-in. E eles parecem estar atendendo a outros anseios dos compradores BMW.
“O cliente não quer parar no posto, mais de 90% dos nossos carros são recarregados em casa”, revela Braun. Dos 46.000 carregadores domésticos ou corporativos que a BMW instalou na América Latina, 21.000 estão no Brasil. Quem compra um BMW no Brasil roda em média 40 km por dia, o que permite que qualquer híbrido plug-in em seu catálogo não gaste gasolina no dia a dia.
Mas a produção local precisa seguir a procura e isso já acontece nas fábricas localizadas nos Estados Unidos e no México, que fazem híbridos plug-in e exportam para o mundo inteiro. O BMW 330e vem do México (junto com o esportivo M2), enquanto as versões híbridas plug-in dos X3 e X5 chegam dos EUA. Estas fábricas, agora, se preparam para os carros elétricos.
Carros da nova família de produtos Neue Klasse, que estreia em 2025, serão fabricados na unidade de San Luís Potosí, no México, a partir da virada de 2026 para 2027. A BMW se tornou a primeira fabricante premium instalada no México a anunciar a produção local de carros elétricos e baterias. O investimento será de 800 milhões de euros.
Também anunciaram o investimento de 1 bilhão de dólares na fábrica de Spartanburg, nos Estados Unidos, para que fabrique carros elétricos. Há mais 700 milhões de dólares para montar baterias em uma nova instalação na cidade vizinha de Woodruff. Ali unirão baterias fabricadas pela AESC na também vizinha Florence. Tudo vai acontecer em cidades da Carolina do Sul, reforçando sua intenção de localizar os processos em suas operações nas Américas.
A BMW quer ter seis modelos elétricos feitos nos EUA até 2030, quando projeta que metade das suas vendas globais serão de carros elétricos.
Uma diferença é que a BMW não coloca todas as suas fichas apenas nos elétricos. Aposta também nos híbridos, híbridos plug-in, em células de combustível a hidrogênio e ainda desenvolve novos motores a combustão. A fábrica brasileira pode ajudar a defender esse lado.
Resta saber se as novas regras de tributação para carros híbridos e elétricos importados poderão incentivar a nacionalização de mais BMW híbridos, ou mesmo a nacionalização de carros elétricos. A fabricante não insinua quando isso poderia acontecer, mas também descarta a desejada eletrificação do seu futuro no Brasil.