Você quer comprar um carro, mas não tem dinheiro suficiente para pagar à vista e, por isso, precisa recorrer a um financiamento. Já se perguntou se seria mais vantajoso aplicar seus recursos, em vez de assumir uma dívida, e esperar um pouco mais para ter o veículo?
Financeiramente, sim, seria mais vantajoso. Pelo menos é o que mostrou uma simulação feita pelo assessor econômico Fábio Pina, da Fecomercio-SP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo).
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De acordo com os cálculos, se você almeja comprar um veículo de 60 mil reais e optar por um financiamento de 48 mil reais em 60 meses (5 anos), com entrada de 12 mil reais e parcelas iguais de 1.219 reais, com taxa de juro real de 1,5% (supondo que a inflação seja zero para que tudo seja comparável ao longo dos anos), no final da operação teria gasto 85.133 reais.
Além dos 48 mil reais necessários para adquirir o veículo desejado, você pagaria uma quantia extra de 37.133 reais. Com este dinheiro, seria possível comprar outro carro usado —que custa em média 30% a menos que um veículo novo depois de cinco anos.
Por outro lado, se em vez de assumir um empréstimo você aplicasse os 12 mil reais de entrada e as 60 parcelas de 1.219 reais (mês a mês) por cinco anos, com uma remuneração mensal de 0,5% real (ou acima da inflação e, portanto, acima da correção média do preço dos automóveis), o resultado seria de 101.653 reais —ou 41.653 reais acima do valor do carro (60 mil reais).
Isso significa que, ao trocar o financiamento pela aplicação de cinco anos, você deixaria de pagar 37.133 reais a mais pelo veículo e ganharia 41.653 reais.
“O lado ruim é que você teria que esperar cinco anos para comprar o carro. Mas a ideia da simulação é exatamente mostrar que, com planejamento financeiro, é possível trocar o consumo presente pelo consumo futuro, levando uma boa vantagem com isso”, diz Pina.
Sempre de carro zero
Se você reaplicasse o valor que ganhou com o investimento e continuasse aplicando também as eventuais parcelas do financiamento de um novo carro, depois de cinco anos teria dinheiro suficiente para comprar um automóvel zero quilômetro e acumularia um ganho financeiro ainda maior (se mantivesse o padrão do veículo em 60 mil reais).
Fazendo essa operação sucessivamente ao longo dos anos, após adquirir seu 11º automóvel, o ganho financeiro total estaria acima de 500 mil reais, segundo os cálculos da Fecomercio. Isso representa quase nove vezes o valor do carro zero (60 mil reais). Veja a simulação abaixo.
Saldo do 1° carro aplicado (A) | Prestações futuras aplicadas (B) | Valor residual do veículo usado (C) | Disponível para nova aquisião (A+B+C) | Valor do carro (D) | Saldo após aquisição (A+B+C+D) | |
---|---|---|---|---|---|---|
2° carro | R$ 80.532 | R$ 85.467 | R$ 18.000 | R$ 183.998 | R$ 60.000 | R$ 123.998 |
3° carro | R$ 123.998 | R$ 85.467 | R$ 18.000 | R$ 227.465 | R$ 60.000 | R$ 167.465 |
4° carro | R$ 167.465 | R$ 85.467 | R$ 18.000 | R$ 270.932 | R$ 60.000 | R$ 210.932 |
5° carro | R$ 210.932 | R$ 85.467 | R$ 18.000 | R$ 314.399 | R$ 60.000 | R$ 254.399 |
6° carro | R$ 254.339 | R$ 85.467 | R$ 18.000 | R$ 357.866 | R$ 60.000 | R$ 297.866 |
7° carro | R$ 297.866 | R$ 85.467 | R$ 18.000 | R$ 401.332 | R$ 60.000 | R$ 341.332 |
8° carro | R$ 341.332 | R$ 85.467 | R$ 18.000 | R$ 444.799 | R$ 60.000 | R$ 384.799 |
9° carro | R$ 384.799 | R$ 85.467 | R$ 18.000 | R$ 488.266 | R$ 60.000 | R$ 428.266 |
10° carro | R$ 428.266 | R$ 85.467 | R$ 18.000 | R$ 531.733 | R$ 60.000 | R$ 471.733 |
11° carro | R$ 471.733 | R$ 85.467 | R$ 18.000 | R$ 575.200 | R$ 60.000 | R$ 515.200 |
“Quem optar pela aplicação constante dos recursos que seriam destinados ao financiamento, poderá estar sempre de carro novo e com dinheiro no bolso”, afirma o assessor econômico da Fecomercio. “O brasileiro vê se o juro cabe no bolso dele e aceita pagá-lo, sem ver o quanto de dinheiro pagará a mais no final do financiamento. Por que perder dinheiro pagando juros se é possível ganhar os juros ao longo do tempo e, ainda assim, comprar seus bens?”, completa Pina.
Segundo o especialista, é sempre melhor ter liquidez do que não ter. “Quando você tem dinheiro na mão, tem mais alternativas. Pode usá-lo para viajar, estudar ou simplesmente para não passar sufoco quando surge um imprevisto. Já quando você não tem dinheiro, fica sem alternativa, refém da liberação de crédito no mercado e pagando juros altos”, diz.
Para a estratégia ter sucesso é preciso ter disciplina e comprometimento para investir o valor mensalmente. E, para fazer a conta de quanto deverá guardar e aplicar por mês, olhe para o seu orçamento (se não tem, veja como montar um pela primeira vez). Estabeleça um valor fixo por mês que você pode guardar e que não comprometa uma parcela considerável de seu salário.