Não. Este não é o Chevrolet Opala cupê do século 21 com motor elétrico. Mas bem que poderia ser. O carro que você vê aqui é um primo distante do Opala, filho único e parente moderno que vive na Alemanha. Trata-se do Opel Manta, um conceito elétrico de linhas saudosistas. O nome é uma homenagem ao Manta original, produzido pela Opel na Europa entre 1970 e 1988.
As linhas são fortemente inspiradas no cupê alemão cinquentão, mas com a modernização – digamos – digital. A proposta não é relançar o modelo, mas a Opel pretende oferecer seus serviços a clientes interessados em repaginar seus modelos antigos.
Andamos, portanto, em uma espécie de vitrine sobre rodas. Feitas as apresentações, vamos explorar este exemplar único. Começando por fora, as cores são fortes, amarelo e negro (sim, o Opala também utilizou essa combinação!). Muito apreciados pelos customizadores, os para-choques cromados foram suprimidos nesta releitura, no que pode ser considerado uma espécie de purismo analógico da moderna idade digital. O mesmo aconteceu com a grade original. Isso porque os carros elétricos dispensam tanto a grade como o radiador.
Já os faróis redondos foram substituídos por sofisticadas linhas de led (emprestadas pelo SUV elétrico Opel Mokka-e), que proporcionam mais luz e ocupam menos espaço. Ainda no que seria o centro da grade, na dianteira, o visor digital pode tanto exibir o símbolo do relâmpago da Opel quanto mostrar frases como “o meu coração alemão foi eletrificado” ou “estou numa missão com zero emissões”, além de identificar o nome do carro. Na traseira, há um par de lanternas circulares de cada lado. Exatamente como no Opala de meados dos anos 1970 – questão de DNA.
Passamos para dentro do Manta GSe ElektroMOD – fusão entre as palavras “elétrico” e “modificado”, em alemão –, e descobrimos uma combinação de elementos do passado e do presente. Por um lado, os bancos do Opel Adam S, com bom apoio lateral e com encostos de cabeça que o Manta original nem sonhava em ter. Por outro lado, um volante de três raios que remete aos tempos em que os automóveis pouco mais tinham de elétrico do que os sistemas de luzes, a buzina e o desembaçador traseiro.
Os tons escuros, que combinam com a aura esportiva do Manta, estão no painel, nas portas e no teto forrado de Alcantara. A instrumentação digital cedida pelo Mokka-e tem a intenção de prolongar essa fusão das eras, mas fica a impressão de que uns mostradores analógicos (em vez das telas digitais de 12” e 10”) poderiam ter muito mais charme. Um rádio com look dos anos 70 cativaria muito mais.
Em 1974, a versão mais potente do Manta A não ia além dos 105 cv, com seu 1.6 de quatro cilindros, rendimento facilmente superado pelo motor elétrico de 147 cv. Ele é alimentado por uma bateria de modesta capacidade – apenas 31 kWh – colocada no porta-malas, mas um pouco à frente, para baixar o centro de gravidade e equilibrar a repartição de massas entre a dianteira e a traseira.
A promessa é de autonomia de apenas 200 km. A recarga demora quatro longas horas (o carregador de bordo é de 9 kW). A contrapartida da bateria pequena é o baixo peso. O cupê pesa apenas 1.137 kg, o que é pouco para um elétrico.
Elétrico com câmbio manual
Ao contrário do que conhecemos hoje em qualquer elétrico moderno, o Manta GSe não só dispõe de câmbio manual como também conta com pedal de embreagem. Para que as marchas pudessem ser engrenadas – deixando o modo de dirigir mais próximo do modelo original –, foi necessário usar um adaptador especial e um eixo de transmissão mais longo (descoberto no acervo de clássicos da Opel), para compatibilizar o motor dianteiro com a tração traseira.
Assim, engata-se a primeira, solta-se a embreagem e lá vamos nós, depressa e silenciosamente. Se o motorista quiser menos nostalgia, pode deixar a alavanca em terceira ou quarta e dirigir como um elétrico normal.
Outra peculiaridade: é até possível recuperar alguma energia pela desaceleração e nas frenagens, mas para isso é necessário ativar a função em um interruptor instalado… no porta-luvas!
Rapidamente, nos habituamos a algumas reclamações sonoras da estrutura do carro ao passar pelo malcuidado pavimento da cidade industrial de Rüsselsheim, quartel-general da Opel ( hoje do Grupo Stellantis/PSA), não muito distante de Frankfurt. Isso porque a carroceria não recebeu reforços estruturais. Da mesma forma, a direção é pesada como no modelo original. Aliás, não apenas pesada, mas também bastante “vaga” perto do ponto central. Fica um pouco mais “comunicativa” à medida que esterçamos e nos aproximamos dos extremos.
O torque instantâneo de 26 kgfm (muito superior ao do Manta 1.6, de 11,7 kgfm) faz com que os arranques sejam muito ágeis: com 8,9 segundos de 0 a 100 km/h, ele deixa para trás o ilustre antepassado, que precisava de 15 s para atingir a mesma marca. O troco vem na velocidade máxima: 160 km/h no velho modelo, ante 150 km/h (eletronicamente limitados), para favorecer a autonomia.
O chassi recebeu um ajuste mais firme na frente do que atrás, mas que não deixa o carro excessivamente duro. Incomum é a combinação de pneus 195/40 R17 na frente e 205/40 R17 atrás. O objetivo é oferecer mais borracha para aumentar o atrito no eixo onde fica a tração, por conta do torque elevado e instantâneo.
Sem ar-condicionado
Na estrada, o Manta elétrico vai somando sorrisos e polegares levantados durante sua silenciosa passagem. Isso certamente ocorre nem tanto pela sua propulsão elétrica, mas provavelmente pelas formas saudosistas e cores chamativas. Provavelmente, a impressão é até melhor fora do carro, vendo-o passar, do que do lado de dentro, onde a temperatura superior a 30 oC faz lamentar, e muito, a inexistência de ar-condicionado. Tudo em nome da fidelidade ao modelo original.
O calor dentro do carro, mais do que a limitação causada pela baixa autonomia, torna o passeio mais breve do que poderia ser num dia de temperatura mais moderada.
Por causa de suas excentricidades, a Opel não planeja produzir o Manta em série. A Stellantis investe sobretudo em soluções financeiramente eficazes, e os carros de duas portas não estão propriamente na linha de frente das preferências atualmente – para não falar da ausência de ar-condicionado e da baixa autonomia.
A unidade que dirigimos já está com seu lugar reservado no museu da Opel. Mas a marca pretende oferecer seus serviços a clientes que se interessem em dar segunda vida aos clássicos guardados na garagem, a um custo em torno de 30.000 euros, cerca de R$ 150.000.
Veredicto – Alternativa de destino para os queridos velhinhos parados na garagem.
Ficha Técnica – Opel Manta GSe
Motor: elétrico, dianteiro, 147 cv, 26 kgfm
Baterias: íons de lítio, 31 kWh; recarga 4 horas (9 kW)
Câmbio: manual 9 m., traseira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson, barra Panhard (diant.), eixo rígido (tras.)
Freios: disco rígido (diant.), tambor (tras.)
Pneus: 195/40 R17 (diant.), 205/40 R17 (tras.)
Dimensões: comprimento, 429 cm; largura, 163 cm; altura, 135 cm; entre-eixos, 243 cm; peso, 1.137 kg; porta-malas, n/d
Desempenho: 0 a 100 km/h 8,9 s; velocidade máxima de 150 km/h; autonomia 200 km