Os carros elétricos ainda estão ganhando volume, mas as mudanças necessárias para fabricá-los já vêm mostrando seus desafios. Um dos maiores envolve a produção das baterias, feitas, hoje em dia, quase sempre à base de lítio e caras.
A Terra tem reservas de lítio suficientes para bilhões de baterias automotivas, mas a extração é complexa e a produção atual atenderia a apenas 12 milhões de carros anualmente. Também há elevado gasto de água no processo, com mais de metade das regiões produtoras sofrendo de escassez hídrica.
As baterias de sódio já existem há cerca de 50 anos, mas nunca ofereceram a mesma qualidade do lítio… até que o jogo virou. No último ano, empresas chinesas anunciaram que o sódio já dá conta do recado e, no Salão de Xangai, em abril, anunciaram os primeiros EVs com a tecnologia.
Um deles é Chery iCar (que é vendido no Brasil com uso de lítio). A opção por um compacto urbano é lógica, afinal de contas as novas baterias oferecem menos autonomia que as de lítio do mesmo tamanho. Desse modo, o problema é contornado mais facilmente nas cidades, onde carregadores são mais abundantes.
Mas esse é um problema pequeno comparado à queda brusca no preço. Segundo a chinesa CATL, suas novas células custam metade das convencionais; em breve, elas podem chegar a um quarto do valor. Se essa conta do cenário ideal fosse inteiramente repassada ao iCar, por exemplo, seu preço cairia de R$ 149.990 para R$ 134.532. Já um BYD Yuan Plus poderia ir de R$ 269.990 para R$ 237.021.
Falando em BYD, o Seagull poderá ser o responsável por estrear a tecnologia de baterias de sódio no Brasil. O compacto elétrico que está com lançamento confirmado e vem fazendo grande sucesso na China justamente pelo baixo preço proporcionado pelas baterias. Custa o equivalente a R$ 50.000 e tem grandes chances de estrear como carro elétrico mais barato do Brasil.
Isso é possível porque os chineses encontraram uma forma de alterar apenas a composição química das células utilizando o mesmo maquinário das baterias tradicionais. Além disso, a exploração do sódio é bem mais simples e um dos processos mais antigos da indústria, com a evaporação da água do mar sendo método comum em países como o Brasil.
X da questão
Nos últimos 12 meses, empresas chinesas anunciaram feitos complexos, mas que podem simplificar muito a fabricação de baterias
Receita secreta
Visualmente, as baterias de sódio são idênticas às de lítio. As diferenças existem na fórmula das células, com alterações complexas (e secretas) principalmente na solução eletrolítica: o “caldo” que ajuda a conduzir elétrons entre os polos e, assim, gerar corrente elétrica.
A Conta fecha
Tiro curto
Inicialmente, baterias de sódio devem equipar modelos de rodagem na cidade. Carros com foco na autonomia deverão se apoiar no lítio por um bom tempo.
Gelou? não tem problema
Outra vantagem do sódio não é tão importante para o Brasil, mas para países frios. É notória a perda de autonomia dos carros elétricos em baixas temperaturas: a -15 ºC, por exemplo, os veículos com células de lítio chegam a perder quase metade do seu alcance. Enquanto isso, a CATL afirma que sua nova tecnologia limita essa perda a cerca de 10%.