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Santa Matilde SM 4.1 era esportivo do RJ feito por pai e filha de 19 anos

Opção aos importados, o esportivo fluminense com motor do Opala representou o ápice da exclusividade por mais de uma década

Por Felipe Bitu Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
9 dez 2023, 19h09
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  • A proibição das importações de automóveis e bens de luxo, em 1976, complicou a vida de quem desejava adquirir um veículo importado e também de quem já tinha. Foi o caso do engenheiro Humberto José Pimentel Duarte da Fonseca, presidente da Companhia Industrial Santa Matilde e executor do projeto que resultou no SM 4.1.

    Entusiasta de esportivos europeus, Humberto usava diariamente um Porsche 911 S Targa, mas, após escapar de um acidente, concluiu que um reparo de funilaria seria impossível ou inviável devido ao valor e disponibilidade de peças cada vez mais raras no mercado. Foi então que sua filha Ana Lidia sugeriu produzir seu próprio automóvel na fábrica de Três Rios (RJ).

    SANTA MATILDE
    Lanternas traseiras exclusivas eram produzidas na própria fábrica, no Rio de Janeiro (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    Muito ligada ao pai, Ana Lidia era uma jovem de 19 anos apaixonada por automóveis e decidida a cursar a graduação em engenharia mecânica. A ideia foi imediatamente rechaçada por Humberto, profundo conhecedor de automóveis e de todos os desafios envolvidos no desenvolvimento de produto e na engenharia de produção.

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    Ana Lidia voltou a tocar no assunto quando sua mãe, Anna Luiza, alertou sobre a ociosidade na produção de plástico reforçado com fibra de vidro, utilizado em vagões ferroviários e colheitadeiras produzidos pela Santa Matilde. Descontente com a longa fila de espera por um Puma GTB, Humberto finalmente aceita o desafio proposto por sua filha.

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    Pai e filha analisaram revistas e catálogos de fabricantes como Porsche, Mercedes-Benz, Jaguar e Aston Martin, selecionando detalhes e características que mais agradavam em cada modelo. A partir deste estudo foi elaborado o croqui de um esportivo 2+2 lugares, que foi levado à apreciação do piloto Renato Peixoto, proprietário de uma renomada oficina em Petrópolis (RJ).

    Santa Matilde
    Ergonomia apurada, instrumentação completa e motor seis-cilindros do Opala: a manutenção poderia ser realizada em qualquer concessionária Chevrolet (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    Renato gostou da ideia e aceitou a tarefa de desenvolver o primeiro protótipo, já como empregado da Santa Matilde: o piloto e preparador não permaneceu na equipe até a conclusão dos trabalhos. Dessa forma, a coordenação do projeto foi designada ao jovem designer Flavio Augusto Monnerat de Carvalho.

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    O protótipo agradou Humberto, que se queixou apenas da aceleração. Ana Lidia não se conteve: para ela faltava harmonia à traseira. A correção foi confiada aos designers Angela Carvalho e João Carlos Carraz, que não pouparam esforços: o SM 4.1 foi finalmente apresentado no Salão do Automóvel de 1978, com novas proporções em sua parte traseira.

    Santa Matilde
    A qualidade do acabamento justificava a produção limitada a um veículo por dia (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    Impulsionado pelo motor de seis cilindros do Chevrolet Opala, o SM 4.1 oferecia bom desempenho para a época: 0 a 100 km/h em 13,1 segundos e máxima de 170 km/h. Era um verdadeiro GT: 1.270 kg, câmbio manual de quatro marchas, tração traseira e freios a disco nas quatro rodas para viajar tranquilamente por várias horas em altas velocidades.Santa Matilde

    Era o automóvel mais caro do mercado nacional, com acabamento interno de couro e itens de conforto como ar-condicionado e acionamento elétrico dos vidros. O SM 4.1 recebeu melhorias contínuas até 1982, ocasião em que Ana Lidia promoveu a alteração de estilo mais drástica do modelo: a carroceria de três volumes.

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    Santa Matilde

    “O SM 4.1 para 1983 estava do jeito que eu havia imaginado”, conta Ana Lidia. “Meu pai ficou muito apreensivo, mas a nova carroceria fez um sucesso imensurável e viabilizou a produção do modelo conversível em 1984: a ideia das capotas rígida e de lona veio de um Alfa Romeo 2600 Spider (1962-1968) que meu pai teve, mas o mecanismo foi inspirado no Mercedes-Benz R 107.”

    Santa Matilde
    Motor seis cilindros em linha oriundo do Opala (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    O auge da produção ocorreu em 1986. Em 1987, o cupê sofreu uma reestilização, adotando uma dianteira mais agressiva, com faróis retangulares e traseira mais alta. “Estava cada vez mais difícil encontrar faróis circulares da Cibié, então decidimos usá-los apenas no modelo conversível”, conta Ana Lidia.

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    Santa Matilde

    Vitimada pela estagnação econômica, a Santa Matilde teve sua administração entregue ao sindicato local logo após a reabertura do mercado, em 1990. A última unidade foi finalizada em 1997 sob o número 936: destes, cerca de 120 são conversíveis. O legado do engenheiro Humberto é preservado por Ana Lidia e pelos colecionadores do SM 4.1, os “matildeiros”.

    Ficha Técnica

    Santa Matilde SM 4.1 (1990)

    Motor: longitudinal, 6 cilindros em linha, 4.093 cm3, alimentado por carburador de corpo duplo
    Potência: 121 cv a 3.800 rpm
    Torque: 29 kgfm a 2.000 rpm
    Câmbio: manual de 4 marchas, tração traseira
    Carroceria: fechada, 2 portas, 4 lugares
    Dimensões: comprimento, 425 cm; largura, 169 cm; altura, 128 cm; entre-eixos, 242 cm
    Peso: 1.270 kg
    Pneus: 215/65 R 15

    Edição – Julho de 1979

    Quatro ROdas 228
    (Reprodução/Quatro Rodas)

    Aceleração 0 a 100 km/h em 13,1 s
    Velocidade máxima 170 km/h
    Consumo médio 8,79 km/l
    Preço: Cr$ 446.051 (julho/79)

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