A vaidade é um pecado capital, mas sempre haverá alguém disposto a pagar bem para ter um carro exclusivo. Foi mirando nesse público que foi apresentado no Brasil Motor Show de 1997 o mais misterioso automóvel nacional: o Emme Lotus 422T.
O folclore em torno dele surgiu quando algum tempo antes foi avistado um estranho protótipo nas rodovias paulistas do Vale do Paraíba. O alvoroço aumentou ao notarem nele o logotipo Lotus, numa época em que nossa indústria só tinha Fiat, VW, Ford e GM.
Parte do mistério acabou em abril de 1997, quando a QUATRO RODAS publicou que se tratava de um sedã de luxo, menor que o Chevrolet Omega, feito em Pindamonhangaba pela Megastar, que também fabricava scooters.
Mais que o desenho inusitado e futurista (e de gosto bem duvidoso), surpreendia pelo projeto 100% nacional, com o aval e a tecnologia fornecida pela Lotus: estrutura tubular coberta por carroceria de plástico injetado chamado VeXtrim, que prometia ser mais leve e resistente que o aço, além de custar menos e ser 100% reciclável.
Outra promessa era o desempenho: o 420 (2.0 aspirado, 148 cv) e o 420T (2.0 turbo, 200 cv) seriam só uma opção aos importados. Já o 422T (2.2 turbo, 264 cv) trazia a pretensão de se tornar o sedã mais rápido do mundo: 0 a 100 km/h em 5 segundos e máxima de 273 km/h.
As suspensões eram independentes: as rodas de trás acompanhavam as dianteiras, evitando o sobresterço típico da tração traseira. No interior, banco de couro e revestimento no painel de nogueira ou fibra de carbono.
Aproveitando os anseios de um mercado imaturo, a Megastar soube explorar o foco da exclusividade e relançou o Emme Lotus 422T no Salão do Automóvel de 1998, aceitando os primeiros pedidos, atraindo incautos que demoraram a perceber as mazelas do projeto.
Um dos claros sinais foi a vida efêmera da única autorizada, em São Paulo, que logo perdeu a representação da marca. Com a desvalorização do real, a importação de peças inviabilizou a produção da Megastar, que fechou as portas em 1999.
Diante dos importados, seu acabamento interno e externo era inaceitável, com rebarbas aparentes e encaixes malfeitos. O amadorismo também se fazia presente na posição confusa de instrumentos e comandos e na ausência de itens como airbag e ABS.
O exemplar das fotos pertence ao colecionador Guilherme Junqueira e é o mesmo que a Emme apresentou no Salão de 1998, com placas EME-0422: “Gosto do desempenho, mas o que chama atenção são as peças emprestadas de carros nacionais, como as lanternas dianteiras do Ford Escort”, diz.
A impressão que fica é a de que o nome Lotus vendeu o carro sozinho. O mistério envolvendo o sedã nacional deu origem à lenda de que a Lotus não participara do projeto e até a rumores de que a marca inglesa vendeu motores que não usava mais como sucata industrial, por peso – concebido para o Esprit, o 2.2 turbo foi descontinuado em 1996.
Para piorar, o 422T era cerca de 300 kg mais pesado que o Esprit e seu câmbio Tremec T5 era o do Ford Mustang, com escalonamento refeito a pedido da Lotus, ligado a um diferencial traseiro autoblocante da Jaguar. Sua dirigibilidade em baixas rotações era crítica, exigindo o uso constante do turbo, com desempenho aquém do prometido.
Para desespero dos proprietários, o 422T foi apenas o fruto de uma aventura industrial: a Megastar seria uma subsidiária de um grupo com sede no pequeno país de Liechtenstein. O lançamento do Volvo S80 em 1998 indicou que o desenho do Emme nada mais era do que um plágio do Volvo ECC, um conceito apresentado em 1992.
Motor | longitudinal, 4 cilindros em linha, 2174 cm3, 16V, duplo comando de válvulas no cabeçote, injeção eletrônica, turbo |
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Potência | 264 cv a 6 500 rpm |
Torque | 36,1 mkgf a 3.900 rpm (estimado) |
Câmbio | manual de 5 marchas, tração traseira |
Dimensões | comprimento, 462 cm; largura, 180 cm; altura, 140 cm; entre-eixos, 276 cm; peso, 1 591 kg |
Suspensão | duplo quadrilátero nas 4 rodas com traseira autoesterçante |
Freios | disco ventilado na frente e sólido atrás |
Pneus | 225/50 R15 radiais |