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Chassi 0000001: por onde anda o primeiro Fiat fabricado no Brasil?

Fiat abriu mão do 147 mais valioso do mundo e se arrependeu anos depois

Por Henrique Rodriguez Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 12 jul 2021, 00h36 - Publicado em 12 jul 2021, 00h29
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  • Fiat-147-000001-1976
    (Henrique Rodriguez/Acervo pessoal)

    O Fiat 147 só seria lançado em setembro de 1976, mas em 9 de julho daquele ano o primeiro exemplar digno de uma numeração de chassi ficava pronto e saía da recém-inaugurada fábrica da Fiat em Betim (MG) – cuja história detalhamos aqui. Era um 147 L prata, com motor de 1050 cm³ a gasolina, que acabou se tornando item cobiçado pela própria Fiat. 

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    O exemplar com chapa de identificação do chassi número 000001 foi atração do Salão do Automóvel de 1976, mas não seguiu para o acervo da Fiat após o evento.

    O 147 foi doado para a Associação Brasileira de Revendedores Autorizados de Veículos, Abrave – que acabou dando origem à Fenabrave. A entidade não ficou com o Fiat 147: sorteou o carro pioneiro entre as concessionárias Fiat.

    Fiat 147
    Registro do exemplar número 1 em 1976 (Divulgação/Fiat)
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    A contemplada foi a Milocar, do bairro de Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Por sorte a concessionária soube dar a devida importância ao carro, que passou anos exposto como um troféu gigante em uma sala de vidro no meio do salão da concessionária.

    Fiat-147-000001-1976
    (Henrique Rodriguez/Acervo pessoal)

    Cresci em Oswaldo Cruz, um bairro que nem todo carioca conhece, e me lembro de não ter acreditado quando vi aquela raridade estava tão perto de casa. Minha mãe queria comprar um Siena e lembro do vendedor falando que a própria Fiat tentara comprar aquele 147 anos antes.

    Fiat-147-000001-1976
    (Henrique Rodriguez/Acervo pessoal)

    Não é lenda. Em 1986, Jorge Ribeiro, dono da Milocar, confirmou à reportagem de QUATRO RODAS que havia negado proposta da fabricante de trocar seu Fiat147 L por uma carreta com dez Fiat 147 C zero quilômetro.

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    Fiat-147-000001-1976
    (Henrique Rodriguez/Acervo pessoal)

    “Mas não adianta, que eu não troco nem por uma carreta de Elba”, disse Ribeiro à época. Na verdade, contava ter recusado ofertas de até 600.000 cruzados, algo como R$ 500.000 de hoje (IPCA), de colecionadores. O valor desse carro é imensurável, porém.

    Fiat-147-000001-1976
    (Henrique Rodriguez/Acervo pessoal)

    Todo preservado e ainda com placas amarelas, esse Fiat 147 prateado só teve sua paz interrompida por algumas poucas vezes. E QUATRO RODAS é responsável por boa parte da quilometragem em seu hodômetro.

    Fiat-147-000001-1976
    (Henrique Rodriguez/Acervo pessoal)
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    A edição de agosto de 1986 trazia um comparativo entre o primeiro 147 de fabricação em série no Brasil e aquele que seria um dos últimos, um 147 C 1986. Ele já trazia diversos melhoramentos aproveitados do Spazio, a frente Europa e vidro traseiro maior.

    Parecia obra do destino, porque o 147 deixaria de ser vendido no Brasil naquele mesmo ano (o Spazio seguiu em produção, apenas para exportação, até 1993). Desde o lançamento do Uno, em 1984, o 147 tinha vendas minguadas e os 0-km eram raridade nas concessionárias.

    147 1976 E 1986
    (Reprodução/Quatro Rodas)
    147 1976 E 1986
    (Reprodução/Quatro Rodas)

    O texto de Douglas Mendonça destacava como o pequeno Fiat era importante. “O 147 marcou, sem dúvida, um grande avanço tecnológico no carro brasileiro, principalmente com a disposição transversal do motor e do câmbio, o que possibilitou a criação de um carro pequeno por fora e grande por dentro”.

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    Mas àquela altura, com meros 10 anos de mercado, o projeto mostrava suas limitações com a pior aerodinâmica do Brasil (0,50 cx, contra 0,35 cv do Uno). O carro do ano, com o mesmo motor 1050, tinha apenas 2 cv a mais (57 contra 55 cv) e o mesmo câmbio de quatro marchas com engates duros.

    Fiat-147-000001-1976
    (Henrique Rodriguez/Acervo pessoal)

     

    Um detalhe mereceu destaque: o primeiro Fiat 147 não lidava tão bem com a gasolina da época, com 22% de etanol, por ter tido seu motor calibrado para gasolina pura com adição de chumbo tetraetila.

    Fiat-147-000001-1976
    (Henrique Rodriguez/Acervo pessoal)

    Essa característica também ficou evidente 30 anos depois, às vésperas dos seus 40 anos, quando foi retirado da redoma de vidro para liderar um comboio de Fiat 147 em uma volta no quarteirão da concessionária para marcar o primeiro aniversário do 147 Fiat Clube RJ. Fiz o registro abaixo para o meu blog na época. 

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    O carro retornou com o hodômetro marcando apenas 101 km.

    QUATRO RODAS tentou reencontrar o primeiro Fiat 147, mas a concessionária Milocar não existe mais. Mudou de dono, de nome e foi dividida entre Fiat e Jeep. 

    Fiat-147-000001-1976
    (Henrique Rodriguez/Acervo pessoal)

    De acordo com o 147 Fiat Clube RJ, o Fiat 147 000001 ainda pertence a Jorge Ribeiro e continua no Rio de Janeiro, bem guardado e longe do público. Tanto que não roda desde o evento de 2016. Todo cuidado é válido para aquele que é, certamente, o Fiat 147 mais valioso do mundo.

    Fiat 147 em números

    Entre os Fiat 147 e Spazio, foram produzidas no Brasil 709.230 unidades, sendo que 536.591 ficaram no País. Ainda foram produzidas 87.184 unidades da picape City, 115.986 unidades da perua Panorama, 20.419 unidades do sedã Oggi, 172.086 unidades (sendo que apenas 19.575 ficaram no Brasil) do 147 Fiorino e 12.848 exemplares do 147 furgão. O Fiat 147 foi o carro brasileiro com maior número de variantes em sua época.

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