Fiat Palio x VW Gol: o duelo dos compactos mais populares dos anos 2000
Destronado pelo Palio no ranking de vendas após 27 anos, o Gol encara o arquirrival na nossa pista. Será que a história se repete?
Publicado em fevereiro de 2015.
Não está fácil para ninguém. Que dirá para o Gol, que em 2014, após 27 anos estacionado no topo do ranking dos carros mais emplacados do Brasil, acabou destronado pelo Palio.
Segundo a Fenabrave, o placar foi de 183 741 unidades emplacadas ante 183 356. Os fãs da Volks até tentaram argumentar: “São duas gerações do Palio [novo Palio e Fire] contra uma do Gol, já que o G4 morreu em 2013”.
Mas, até então, a própria VW se valia da mesma estratégia. Protesto negado! Por que ela mudou os planos?
Simples: adaptar ABS e airbags no Gol G4, itens obrigatórios desde o ano passado, sairia mais caro que nomear um novo modelo para que pudesse continuar brigando entre os populares de entrada. E foi assim que nasceu o Up!. Mas voltemos aos eternos rivais.
Para entender melhor a rixa, é preciso separar o joio do trigo. Para isso, focamos nos modelos intermediários: Essence no Palio e Comfortline no Gol.
Por não ter a versão na sua frota de imprensa, a Volks enviou para os testes um Highline, topo de linha, que é mecanicamente igual. Mas toda a análise de preço e itens de série toma por base a Comfortline.
Na avaliação do acabamento, os dois são vitimados pelo DNA. O desenho simplório do painel confere ao Gol um ambiente monótono, ainda que com acabamento (corte e encaixe das peças plásticas mais precisos) evidentemente melhor que o do Palio. Este, por sua vez, tem decoração mais vibrante e jovial.
Pena que os plásticos sejam ricos em rebarbas, vãos e cantos vivos. Se as cabines empatam na qualidade geral, na quantidade de equipamentos o Palio, como diz sua campanha, faz um golaço.
Eles custam quase o mesmo, R$ 44 869 no VW e R$ 44 210 no Fiat, mas só o Palio oferece de série ar-condicionado, faróis de neblina, chave canivete com controle remoto das travas das portas e luzes de leitura na dianteira, um time de equipamentos que no Gol precisa ser convocado à parte, pois são opcionais. Esses itens (e alguns outros) compõem o pacote que a Volks batizou de Urban completo, que custa salgados R$ 6 050.
Então prepare-se: um Gol Comfortline com tudo a que se tem direito, inclusive pintura metálica (de R$ 1 227), chega aos R$ 52 137.
Já o Palio Essence equivalente pode atingir R$ 49 049. Mas, se a régua niveladora for o preço do Gol completão, dá para rechear o Palio com atrativos que só ele oferece, como piloto automático (R$ 210), airbags laterais (R$ 1 723) e acionamento automático de faróis e limpadores de para-brisa (R$ 894). Ainda assim, continua mais barato: R$ 51 876.
Sob o capô dos rivais, receitas parecidas: motor 1.6 flex de quatro cilindros para ambos. O do Palio é o E.torQ, com 16 válvulas e 117/115 cv. O do Gol é o MSI, com oito válvulas e 104/101 cv.
Uma fonte ligada à VW garante que até 2017 o motor 16V de 120/110 cv que hoje equipa o Gol Rallye aposentará o 8V em todas as versões. Em nossa pista de testes, porém, o Gol 1.6 8V se defendeu bem, com números de aceleração e consumo próximos aos revelados pelo Palio.
Conforto x esportividade
Se os dois hatches imprimem números parecidos, a maneira como chegam a eles é bem diferente. A suspensão do Palio, apesar de retrabalhada de maneira mais intensa nesta geração, continua bem mais macia do que a do rival.
Assim, ela oferece bom nível de conforto e não deixa a carroceria saltar ao passar sobre imperfeições.
A inclinação um tanto excessiva é o lado ruim – sensação ampliada pelos bancos de pouca sustentação nas bordas, tanto no assento como no encosto. Mais firme, o Gol – e quem estiver nele – sofre na buraqueira de nossas ruas, mas quando roda em asfalto bem-conservado oferece mais prazer ao dirigir.
Seu câmbio de curso mais curto do que o do Fiat acentua a esportividade.
O custo de vida dos dois hatches revela algumas discrepâncias. No pacote de revisões até 60 000 km, o Palio cobra um preço 30% mais alto – R$ 3 088 ante R$ 2 484.
Na prática, o representante da Fiat é mais caro de manter em todas as paradas de manutenção programada. Mas nem tudo são flores na rede VW.
Como a marca insiste em divulgar apenas o valor das peças e o tempo da mão de obra em cada parada, sem o valor, o consumidor fica à mercê das concessionárias, que cobram o quanto querem pelo serviço – e falamos isso com conhecimento de causa, pois temos dois VW na frota de Longa Duração, o Up! e o Golf.
O troco do Palio é dado num ponto fraco do Gol: o seguro. Segundo a corretora Segurar.com, enquanto a apólice para proteger o Volks sai por R$ 2 737, a do Fiat fica em R$ 2096.
Ou seja, aqui o Palio devolve, com algum troco, a diferença do custo de manutenção e vence o confronto com uma vantagem sobre o Gol – tão pequena quanto a que estabeleceu no ranking de vendas de 2014.
Show da virada
Tão logo os números de vendas de 2014 foram totalizados, a Fiat passou a veicular uma campanha para ressaltar o feito histórico.”Para nós, foi um golaço”, dizia o filme publicitário, numa saudável provocação ao Gol.
No Facebook, a concessionária Motobrás, de Rio Grande (RS), tomou as dores da Volkswagen e respondeu em tom de ironia: “De que adianta um golaço quando o placar está 27 x 1?”.
Veredicto
O Palio acabou vencedor tanto nas vendas como no nosso confronto. Mas sua vantagem sobre o Gol é tão pequena que um simples test-drive pode ser o suficiente para inverter o resultado.
Em resumo, o Gol é para quem tem perfil esportivo e o Palio, para quem valoriza conforto.
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