Ferrari Berlinetta Boxer (1974), um dos carros mais cobiçados entre colecionadores do mundo todo, ficou parada muito tempo no Brasil e não ligava de jeito nenhum. Ninguém entendia o porquê. Foi nosso consultor técnico, o mecânico Yutaka Fukuda, da foto aí ao lado, que fez o modelo despertar do sono profundo.
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Ele tirou os quatro carburadores italianos Weber de corpo triplo do carro, desmontou e restaurou esses componentes e, em pouco mais de duas horas, pediu ao dono que desse a partida. O carro ligou na primeira e seu motor funcionou como se fosse um relógio suíço.
Yutaka, 72 anos, é sócio do filho, Fábio Fukuda, 47, na Fukuda Motorcenter, oficina que presta serviços para a QUATRO RODAS e trabalha praticamente de portas fechadas, atendendo casos como esse da Berlinetta.
É comum encontrar em sua garagem, que fica no bairro de Santana, na zona norte de São Paulo (SP), modelos de todas as épocas e origens, alguns até mais raros que a própria Ferrari Berlinetta.
Sempre de suspensórios e um sorriso no rosto, é ele quem dita o clima da oficina. Com uma piada nova todo dia, nem mesmo o motoboy que entrega peças passa sem deixar um sorriso. A Fukuda Motorcenter é também um ponto de encontro de amigos, colecionadores e amantes de carros em geral, onde se passam horas conversando em volta dos clássicos e dos problemas (quase) impossíveis de se resolver.
Yutaka hoje em dia só cuida dos carburadores e é como um mestre instruindo os mecânicos com a disciplina de um samurai. Sorte deles, seus discípulos, afinal de contas trabalhar ali equivale a cursar uma faculdade de mecânica ensinada por um especialista que traz o saber em seu DNA.
O primeiro mecânico na linhagem dos Fukuda foi o pai de Yutaka, Sunao Fukuda, que veio do Japão para o Brasil em 1924 e montou uma oficina em Marília (SP). Hoje, quem toca o negócio é o filho de Yutaka, Fábio.
De sua garagem saíram carros vitoriosos, com destaque para a VW Brasilia, feita para a temporada de 1974, que ganhou todas as provas da categoria Divisão 1 daquele ano.
O sucesso da perua lhe rendeu um convite para preparar modelos zero-km para uma rede de concessionárias Chevrolet, a Aerovesa, algo comum naquela época em que era possível comprar um Opala, por exemplo, já envenenado, como se dizia.
Mas esse tempo durou pouco, pois, em 1976, surgiu um novo desafio: trabalhar na implantação da Fiat no Brasil. Sua tarefa: rodar pelo país para treinar os mecânicos da recém-formada rede Fiat. Numa dessas viagens, ao volante de um VW Fusca, uma vez que o hatch 147 ainda não estava em produção, Yutaka quase perdeu a vida em um acidente, na estrada.
Yutaka recebeu os primeiros ensinamentos de mecânica de seu pai quando ainda era criança. No final da adolescência, ele começou a desenvolver os próprios projetos, preparando carros para corridas. A atividade, que no início era um hobby, logo se transformou em profissão. Foi quando ele teve sua primeira oficina, que cuidava apenas das competições.
Assim como ele, a Fiat também tinha tradição nas corridas e logo que a fábrica criou sua divisão de competições, em 1979, Yutaka assumiu a missão de organizar aquela que se tornaria uma das maiores categorias do automobilismo da época, a Copa Fiat 147.
A experiência das pistas, por sua vez, abriu novas oportunidades para Yutaka, que se aproximou da engenharia da fábrica e acabou participando do desenvolvimento de modelos como as novas gerações do 147 e seus derivados, como o sedã Oggi e depois os novos produtos da linha Uno, Premio e Elba.
Mais tarde, depois de ter saído da Fiat, Yutaka chegou a pensar em se dedicar a outra de suas paixões, a fotografia, montando um estúdio em que pudesse clicar carros. Mas o Plano Collor (que confiscou por 18 meses o dinheiro dos brasileiros) fez com que ele mudasse de ideia e montasse uma nova oficina mecânica.
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