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Sono ao volante é tão perigoso quanto o álcool

Teste exclusivo promovido por QUATRO RODAS e realizado no autódromo de Interlagos mostra os efeitos nocivos de dirigir com sono

Por Isadora Carvalho Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 19 set 2018, 09h04 - Publicado em 14 nov 2017, 19h24
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  • Teste monitorado em Interlagos: sono piorou a atenção
    Teste monitorado em Interlagos: sono piorou a atenção dos motoristas (Renato Pizzutto/Quatro Rodas)

    Você ajusta o retrovisor do carro e não reconhece o próprio rosto no espelho. Aumenta o som e sua música favorita ofende seu tímpano. O corpo pesa, como ao final de uma maratona. Parece impossível vencer a briga com o músculo mais pesado de seu corpo: a pálpebra.

    Quando o sono bate forte, não há remédio ou tapa na cara que resolva. Técnicas não faltam ao motorista teimoso: aumentar o som, abrir a janela, colocar a mão no teto ou parar para tomar um café.

    Dirceu Alvez Júnior, da Abramet, Associação de Medicina de Tráfego, explica que os movimentos e o barulho dentro do carro contribuem para que o motorista pegue no sono. “É como um bebê sendo embalado no colo da mãe”, diz o médico.

    Piloto experiente, PCG teve o melhor desempenho, mas também foi afetado
    Piloto experiente, PCG teve o melhor desempenho, mas também foi afetado (Renato Pizzutto/Quatro Rodas)

    O mais grave, segundo ele, é que ninguém tem condições de avaliar seu próprio sono. “Não existe um estágio de sonolência que não ofereça perigo. Se sua vista começa a embaçar, está na hora de encostar o veículo. A maioria dos motoristas que dormem e se envolvem em acidentes nem sequer se lembra de ter fechado os olhos.”

    A sonolência ao volante já é a segunda maior causa de acidentes nas rodovias brasileiras, uma combinação que pode ser tão perigosa quanto beber e dirigir.

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    Dados da Associação Brasileira do Sono (ABS) apontam que ele é o responsável por 30% das mortes e 20% dos acidentes em todas as vias do país. Segundo a Abramet, após 19 horas sem dormir há a diminuição de desempenho equivalente a quem bebeu seis copos de cerveja ou três de vinho. E quem dirige após dormir menos de sete horas tem o dobro de chances de sofrer um acidente.

    Resolvemos mostrar na prática o quanto o sono é perigoso ao volante em um teste no Autódromo de Interlagos em parceria com o Roberto Manzini Centro Pilotagem e o laboratório Neuro-Sono, da Unifesp (Universidade Federal Paulista de Medicina).

    Slalom avaliou o quanto cada um pisava no acelerador
    Slalom avaliou o quanto cada um pisava no acelerador (Renato Pizzutto/Quatro Rodas)

    Confira o vídeo do teste completo

    Quatro voluntários foram submetidos a um circuito com obstáculos em dois dias, incluindo nosso editor Paulo Campo Grande, o PCG, para verificarmos quanto um piloto experiente é afetado.

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    No primeiro dia, todos estavam descansados. No segundo, os voluntários estavam totalmente privados de sono, após passarem uma noite inteira sem dormir.

    Primeiro dia começou com o briefing do teste comandado por Roberto Manzini
    Primeiro dia começou com o briefing do teste comandado por Roberto Manzini (Renato Pizzutto/Quatro Rodas)

    Telemetria

    Lucila Prado, médica coordenadora do Neuro-Sono, aplicou testes escritos antes de os participantes dirigirem, para verificar o nível de sonolência de cada um.

    A médica Lucila Prado aplicou questionários que mostravam o nível de sonolência
    A médica Lucila Prado aplicou questionários que mostram o nível de sonolência (Renato Pizzutto/Quatro Rodas)

    No autódromo, ela instalou o eletroencefalograma em cada voluntário. “A ideia foi monitorar nos dois dias a atividade cerebral do motorista dentro do carro, revelando o nível de atenção”, diz.

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    Os voluntários foram monitorados por eletroencefalograma para medir a atividade cerebral durante o teste
    Os voluntários foram monitorados por eletroencefalograma para medir a atividade cerebral durante o teste (Renato Pizzutto/Quatro Rodas)

    Para medir exatamente a alteração na direção, o Fiat Mobi usado no teste recebeu sensores montados pela Creare Sistemas, empresa de telemetria veicular.

    Técnicos faziam as medições dos tempos de cada voluntário
    Técnicos faziam as medições dos tempos de cada voluntário (Renato Pizzutto/Quatro Rodas)

    O equipamento permitia saber o quanto o acelerador foi acionado, a diferença de tempo entre tirar o pé do freio e acionar o acelerador e a força aplicada nos pedais.

    “Montamos um circuito bem monótono, por isso colocamos uma longa parada em um semáforo e um slalom a baixa velocidade”, explica Manzini.

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    O semáforo demorava 40 segundos para abrir, tornando o circuito mais monótono
    O semáforo demorava 40 segundos para abrir, tornando o circuito mais monótono (Renato Pizzutto/Quatro Rodas)

    O circuito contava com as seguintes provas: slalom (curvas em sequência) de apenas 40 km/h, frenagem a 60 km/h ao comando de uma luz externa e uma parada em semáforo por 40 segundos.

    Frenagem de emergência: a maioria piorou o desempenho
    Frenagem de emergência: a maioria piorou o desempenho (Renato Pizzutto/Quatro Rodas)

    Na noite anterior ao segundo teste, para garantir que ninguém dormiria, todos deveriam mandar em um grupo de WhatsApp mensagens, vídeos e áudios de hora em hora.

    “Escolhi ficar em casa e o grupo me ajudou bastante, pois um incentivava o outro. Na madrugada, achei que não conseguiria”, diz PCG.

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    No dia seguinte, antes das provas, a médica Lucila Prado confirmou que o nível de sonolência dos quatro motoristas era alto. Ao fim do dia, ela concluiu o sucesso da empreitada.

    “Todos tiveram lapsos de sono e mudança na direção”, afirma Lucila. Manzini destacou a desatenção dos voluntários com inconstância nos pedais e redução da velocidade (confira na tabela abaixo).

    Dentro do carro os participantes recebiam as orientações do trajeto
    Dentro do carro os participantes recebiam as orientações do trajeto (Renato Pizzutto/Quatro Rodas)

    Ele salienta que houve um aumento no tempo de reação do grupo de até 35%. “O motorista deveria melhorar no segundo dia, pois se adaptou ao teste. Mas sob o efeito do sono a maioria piorou.”

    Ao fim dos dois dias de teste, todos tiveram lapsos de sono, com redução da atividade cerebral. Houve condutor que teve lapsos que duraram 13 segundos, o que representaria, a 100 km/h, percorrer 280 metros sem atenção na estrada.

    Podemos comparar esse lapso com a distração causada ao conversar pelo celular enquanto dirigimos. “Costumamos dizer que entramos no modo automático. E é esse estado que aumenta muito o risco de acidentes”, afirma Lucila.

    Cada motorista rodou por 10 km, no percurso de 15 minutos
    Cada motorista rodou por 10 km, no percurso de 15 minutos (Renato Pizzutto/Quatro Rodas)

    O teste do sono ao volante

    Todos os participantes tiveram o desempenho alterado e sofreram lapsos de sono

    Motorista Tempo para acionar o acelerador no semáforo* Força g no acelerador na saída do semáforo* Tempo de frenagem de emergência * Força g no pedal na frenagem de emergência * Média do curso do acelerador no slalon * Lapsos de sono * Análise Roberto Manzini (Pilotagem) * Análise Lucila Prado (eletro) *
    Julia Lima, 20 anos, estudante 0,40 s /0, 97 s      piora de 143% 0,33 g /0,36g           piora de 9% 0,73 s / 2,56s             piora de 251% 0,93 g / 0,97g     piora de 4% 25% / 20%  melhora de 20% Zero / dois lapsos de 5 s “Ela aumentou o tempo para acionar o acelerador e freio, mostrando um perigoso aumento
    no tempo de reação.”
    “No monitoramento foi a única que teve que repetir o teste porque andou com o freio de mão levantado.”
    Daniel Osmak, 34 anos, analista de sistemas

     

    0,43 s/0,37s melhora de 14% 0,32 g / 0,33 g           piora de 3% 0,8 s /
    0,5 s melhora de 38%
    0,93 g/
    1,03 g    piora de 11%
    35% / 28%   melhora de 20% Zero / um lapso de 5 s “O aumento de força no pedal de freio demonstra insegurança na direção e instabilidade.” “Ele demonstrou um nível de sonolência baixo em relação
    aos demais, mas foi o suficiente para
    piorar no teste prático.”
    Rodrigo Morais, 35 anos, analista de sistemas

     

    0,27s/0,30s   piora de 11% 0,28g/0,33g   piora de 18% 1,1 s/0,7s melhora de 36% 0,97 g/1,03g   piora de 6% 18%/59%   piora de 228% Zero / Três
    lapsos
    de 7 s
    “Apertar o pedal do acelerador até o fim no contorno
    de curvas revela
    falta de controle
    do carro.”
    “Ele foi o que mais
    apresentou lapsos de sono. No circuito demonstrou mudança de comportamento
    em quatro provas.”
    Paulo Campo Grande, 52 anos, jornalista 0,60s/0,63s   piora de 5% 0,31g/0,26g   melhora de 16% 1,5s/0,5s   melhora de 67% 1,1g/0,7g   melhora de 36% 45%/18 % melhora de 60%

     

    Zero / Dois Lapsos de sono 13 s “Por ser um piloto de testes, assim que se sentiu confortável, melhorou. Em um teste mais longo a piora seria inevitável.” “Foi quem teve os mais longos lapsos. Não prejudicou o teste, mas na estrada dormiria
    em pouco tempo.”

    *Primeiro dia de teste (sem sono) / segundo dia de teste (com sono)

    Mitos e verdades do sono

    Café, abrir o vidro, lavar o rosto… Na prática, o melhor remédio é parar ao primeiro sinal de sono e dormir por pelo menos 30 minutos

    Atitude Eficácia
    Parar para tomar um café ou outra bebida estimulante (chá preto, refrigerantes à base de cola) O café tem efeito imediato, mas só dura de 5 a 10 minutos
    Abrir o vidro, aumentar o som do rádio ou colocar a mão no teto Essas ações não espantam o sono e só atrapalham a sua atenção na via
    Aumentar a velocidade Ajuda a manter o nível de atenção à frente, mas não ao que se passa ao redor
    Lavar o rosto Dá uma sensação de alerta, mas o sono volta a aparecer dentro de alguns minutos
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