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Sachsenring Trabant

O pequeno Trabant escancarou o abismo tecnológico que separava duas Alemanhas em um mundo bipolarizado

Por Felipe Bitu
11 Maio 2015, 17h32
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    Poucos produtos são tão universais quanto o carro: expressão de primeira grandeza do capitalismo,

    é uma extensão da personalidade, símbolo de liberdade e objeto de desejo. Sua essência individualista não combina com o ideário socialista – que, incapaz de abrir mão do automóvel, teve de encontrar outro significado para ele. Assim foi feito em todos os países do bloco comunista, incluindo a ex-Alemanha Oriental. Sob esse viés ideológico, o Trabant (satélite ou companheiro, em alemão) não oferecia status: nasceu para ser só um meio de transporte, um utilitário desprovido de vaidade. Produzido pela estatal Sachsenring, o P50 inaugurou a linha de produção em Zwickau em 1957, trazendo só o essencial para carregar quatro adultos e um pouco de sua bagagem.

    Um de seus maiores diferenciais era a carroceria monobloco duas portas, nas versões sedã e perua: a estrutura de aço era revestida com painéis de Duroplast, tipo de plástico reforçado com fibras recicladas, que formava portas, capô, teto e para-lamas. O comportamento era favorecido pela tração dianteira e pelas suspensões independentes nas quatro rodas.

    O fumacento motor dois-tempos tinha dois cilindros, apenas 500 cm3 e era refrigerado a ar: rendia parcos 18 cv, exigindo trocas constantes na transmissão manual de quatro marchas. Não havia sequer bomba de óleo ou combustível: o lubrificante era misturado no tanque de gasolina, que por sua vez ficava sobre o motor, alimentando-o por gravidade. A disposição ficaria maior no modelo P60, de 1962: com 600 cm3, rendia 23 cv, um fôlego extra para impulsionar os 615 kg do carrinho. A maior (e única) evolução de estilo viria no ano seguinte: reestilizado, o P601 trazia linhas mais retas e contemporâneas, que duraram até o fim da produção.

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    Este exemplar é um modelo 1971 de um colecionador paulista: “Parece fraco, mas chega a 100 km/h no plano e é bom de curva. Simples, robusto e econômico, foi projetado para ser confiável, de tal forma que reparos e manutenção eram feitos pelo dono.”

    A Sachsenring tentou atualizar o Trabant várias vezes, mas o comando político sempre barrou, alegando escassez de matéria-prima. Os poucos avanços se resumem ao sistema elétrico de 12 volts, freios redimensionados e suspensão traseira com molas helicoidais. Só uma pequena parte da produção era exportada.

    O fato de ser o carro mais barato da Europa só evidenciava os flagelos da economia planificada: os interessados aguardavam até 12 anos na fila por um Trabant zero-quilômetro, que custava dois anos e meio de salário médio do alemão oriental. Muitos não aguentavam a espera e aceitavam pagar mais caro por um usado.

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    Tudo mudaria em novembro de 1989, quando caiu o Muro de Berlim. Milhares de Trabant partiram para o lado ocidental, onde muitos acabaram abandonados. Os últimos até receberam um moderno motor quatrotempos do VW Polo, mas já não havia mais interesse do público: a produção acabou em abril de 1991.

    Hoje estima-se que mais de 50 000 continuem em circulação, um pequeno contingente frente aos 3,05 milhões produzidos em 34 anos. Sua memória é preservada por cerca de 150 clubes espalhados pelo mundo, que cultuam o pequeno carrinho como uma das melhores lembranças da reunificação da Alemanha.

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    Apesar de não haver registro de um Trabant zero-quilômetro vendido no Brasil, ele era oferecido nos anos 60 pela Benno S/A. A empresa paulista importava outros veículos da República Democrática Alemã, como os automóveis Wartburg e as motocicletas MZ.

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