A indústria automotiva nacional segue recuperando fôlego, e agora foi a Renault quem anunciou investimentos e novidades importantes para o Brasil. Justo quando comemora 25 anos da sua fábrica no Paraná, a francesa confirmou que produzirá, nesse complexo industrial, um carro inédito para um dos segmentos mais quentes do mercado.
Aproveitando a visita do Presidente em exercício, Geraldo Alckmin, a Renault revelou que o Kardian terá um irmão mais velho, feito sobre a mesma plataforma do utilitário compacto apresentado há algumas semanas.
Seu nome ainda não foi definido, mas o carro inédito será um SUV médio que baterá de frente com os líderes Jeep Compass e Toyota Corolla Cross, entre vários outros. O investimento na sua criação gira em torno de R$ 2 bilhões, e é adequado apostar que o modelo estreia em 2025.
Apuramos que, seguindo a moda, esse novo utilitário deve ser um SUV cupê. Considerando a identidade visual que a marca vem adotando globalmente, podemos esperar algo com dimensões parecidas à de um Renault Austral (4,51 m de comprimento) e traseira inspirada no Rafale, que ilustra essa reportagem.
Flex, e talvez híbrido
Mas serão carros diferentes: ao contrário de Jeep e Toyota, que nacionalizaram a produção de seus SUVs médios, a francesa não trará o Austral para nosso país, ainda que ele venha sendo testado nas ruas brasileiras.
Segundo Luiz Fernando Pedrucci, CEO da marca na América Latina, a ideia é criar um produto sob medida para mercados como o Brasil. Na prática, isso significa produtos mais simples mas que, como visto no Kardian, ainda apresentam bons níveis de equipamento e segurança.
É a plataforma RMP mostrando sua função novamente: ela é uma evolução da CMF-B LS, que, por sua vez, era uma simplificação da CMF-B HS, voltada para o mercado europeu.
Como a Renault já avisou, várias vezes, o foco é vender menos carros, mas vender modelos mais caros — lucrando mais ao produzir menos. E se a América Latina é o segundo maior mercado da Renault após o Velho Continente, esse meio termo entre simples e complexo parece ideal para elevar o preço médio dos carros e, ao mesmo tempo, manter a competitividade e volume atraente (já que “vender menos” não é “vender pouco”).
E é esse fator preço que também parece ter motivado as escolhas mecânicas do novo utilitário, que certamente será flex, mas só talvez será híbrido. Assim, espera-se que versões básicas tragam o motor 1.0 turbo estreado pelo Kardian, com 125 cv e 22,4 kgfm, enquanto as mais caras venham com 1.3 turbo da mesma família, girando em torno de 170 cv e 27,5 kgfm.
Esse é o 1.3 TCe, que já equipa Duster e Captur mas era importado da Espanha. Agora, o propulsor será feito no próprio complexo paranaense, num investimento adicional de R$ 100 milhões para essa nacionalização.
Se os ventos forem favoráveis, aí sim o SUV cupê poderá receber versões híbridas — e seria justamente essa possibilidade que explica os testes com o Austral no Brasil, já que o SUV médio dos europeus tem versões híbridas plenas e, inclusive, híbrida leve com o mesmo 1.3 que agora é paranaense.
Jogo de cintura
Segundo Pedrucci, anunciar o investimento bilionário significa que “vencemos mais uma batalha. É uma vitória da América Latina dentre o resto do mundo e do Brasil dentre a América Latina”.
Questionado se as recentes decisões do Governo Federal influenciaram na escolha do Brasil para a injeção de dinheiro, o CEO foi delicado, mas sugeriu que sim. Um dos motivos seria a volta gradual dos impostos para carros elétricos, que tornou estratégico preparar a planta de São José dos Pinhais (PR) para essa tecnologia, daí também exportando-a para outros países.
“Somos apaixonados pela competição, mas desde que ela seja justa”, afirmou, fazendo referência direta à Reforma Tributária que estendeu isenções que beneficiam Stellantis e BYD, principalmente. “Mas aí cabe ao Ricardo Gondo lidar com isso”, completou o executivo, jogando a batata quente para o CEO da sucursal brasileira.