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O novo ogro da Mercedes

Por uma centena de anos a Mercedes foi um paradigma da engenharia sólida, sensata. Enquanto o resto do mundo deixava de cortar os cabelos e ouvia Jimi Hendrix, ela labutava em sua lúgubre receita de longevidade, com uma pitada de robustez. O pessoal de Stuttgart construía carros sem frescuras, que eram feitos para durar. Eles eram as tartarugas nascidas para concorrer com as […]

Por Jeremy Clarkson
29 out 2013, 16h00
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  • Por uma centena de anos a Mercedes foi um paradigma da engenharia sólida, sensata. Enquanto o resto do mundo deixava de cortar os cabelos e ouvia Jimi Hendrix, ela labutava em sua lúgubre receita de longevidade, com uma pitada de robustez. O pessoal de Stuttgart construía carros sem frescuras, que eram feitos para durar. Eles eram as tartarugas nascidas para concorrer com as lebres da BMW.

    Se quiser viajar pela África no próximo fim de semana, pegue um Toyota Land Cruiser. Mas se quiser realmente dirigir até lá, você estará mais bem servido com um Mercedes padrão do fim da década de 1970 ou início dos anos 80. Em um mundo de fios-dentais, cuecas slip e pedacinhos de renda, era uma durável calcinha bege de vovó. Era um carro que simplesmente não sabia como te deixar na mão. E hoje em dia continua não sabendo.

    Mas teve um dia em que os chefes da empresa cansaram de fazer calcinhas bege de vovó, então eles se reuniram com uma empresa de preparação pouco conhecida, chamada AMG, e foram à loucura. Os carros que resultaram são animais. Eles são grandes demais, barulhentos demais, loucos demais, impetuosos demais, andam demasiadamente de lado a maior parte do tempo e, como resultado, são assustadores demais. Eu gosto muito deles.

    Gosto do jeito como um BMW ou um Audi rápido é projetado para colocar um tempo de volta rápido na tabela, enquanto um Mercedes AMG é projetado para colocar um sorriso no seu rosto e deixar boa parte dos pneus traseiros moídos no asfalto. Em um mundo dominado pela economia de combustível, onde carros beberrões recebem olhares de reprovação, é animador conhecer uma linha de carros feita puramente para selvageria visceral. Eles não são rifles para atiradores de elite. São peças de artilharia pesada.

    Se eu comparasse os carros do mundo a condições meteorológicas, haveria muitos que são como garoa e alguns que seriam agradáveis tardes ensolaradas. Há aqueles que são precisos e rápidos, como relâmpagos. E aqueles que são um dia de nuvens cinza  homogêneas, até onde a vista alcança. E aí você tem os Mercedes AMG. Eles são trovões. Eles são muscle cars V8. Uma mistura do sonho americano com a engenharia alemã. Eles são espetaculares.

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    Mas então, meses atrás, eu dirigi um Classe A com o emblema da AMG, que não era um V8, nem trovejante, nem muscle car. As três letrinhas na carroceria prometiam desempenho que o carro não podia cumprir. Eu lhe dei 2 estrelas em 5 e fiquei imaginando em que diabos a Mercedes estava pensando. Colocar aquele emblema em um carro daqueles era… bem, era como chamar um barquinho de pesca de porta- -aviões. E agora a empresa fez de novo. Ele se chama A 45 AMG e, para ser franco, eu estava esperando uns 4,3 metros de sólida decepção. No entanto. . .

    Vamos começar com o motor. É um quatro-cilindros turbo de 2 litros que atende a normas de emissões que ainda nem entraram em vigor na Europa. Ele também é um tanto frugal. E, a despeito disso, é o motor de quatro cilindros mais potente atualmente em produção. Os valores são bem impressionantes. Você tem 360 cv, o que significa 180 cv por litro. Para fins de comparação, o V8 de uma Ferrari 458 Italia só consegue fornecer 114 cv por litro. Isso evidencia uma engenharia muito boa em ação.

    E, como o A 45 é tão esperto e potente, a Mercedes decidiu que ele não podia ter só tração dianteira. Porque pedir para as rodas da frente direcionarem o carro e, ao mesmo tempo, lidarem com 360 ferozes cavalos alemães seria como pedir a um cara que esteja pegando fogo que resolva um quebra-cabeça. Por isso, ele tem um sistema que manda metade da potência para a traseira, caso a dianteira fique alvoroçada demais. Em cima disso, a Mercedes instalou freios grandes, baixou a suspensão e colocou um câmbio de dupla embreagem de ação rápida, com acionamento por borboletas. E o resultado é… bem tedioso.

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    Ele é tão bem plantado no solo e neutro que você pensa se não entrou, por engano, na versão diesel. Então olha no velocímetro, e mal dá para acreditar no que ele está dizendo. Na maior parte das vezes, eu estava andando quase o dobro da velocidade que imaginava. Todos os outros Mercedes AMG passam a sensação de que você está andando mais rápido do que realmente está. Este faz exatamente o oposto.

    Dito isso, a Mercedes tentou dar ao A 45 alguns dos tratos dos seus irmãos maiores. Quando você avança a marcha, o escapamento faz o som de um ogro limpando a garganta. E há uma sensação de grande peso. Talvez porque o carro seja isso: pesado. Isso faz com que, nas curvas, você tenha de usar seus músculos como se estivesse tentando levar um piano para o andar de cima do seu sobrado pela escada. Você tem de dar duro por suas recompensas.

    Mas, cara, elas existem. O motor tem uma assombrosa capacidade de entregar montes de torque até 5 000 rpm e então, bem quando você acha que é hora de avançar mais uma marcha, tem uma erupção frenética de potência. Aí você passa a andar três vezes mais rápido do que parece. Felizmente, porém, os freios são imensos e a dirigibilidade é sublime. Obviamente, ele não vai deixar a traseira escapar ou fazer sair fumaça dos pneus, como outros AMG. Mas ele não sai indevidamente de frente, tampouco. Ele faz a curva de um jeito que te deixa com a impressão de que não está fazendo o menor esforço.

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    Eu gostei tremendamente dele. Ele tem mais personalidade que qualquer hatch desde o Fiat Strada Abarth, dos anos 80, a velocidade é imensa e não há como fugir do fato de que ele tem um visual realmente bonito. Muitos dos Mercedes atuais têm excessos em seu estilo, mas neste os vincos e pequenos detalhes parecem funcionar.

    No entanto, há alguns poucos problemas. Comecemos com os pequenos. Sua suspensão é desnecessariamente dura. Isso foi feito simplesmente para passar uma sensação mais esportiva, sem benefícios para a dirigibilidade. O chassi é tão rígido que a Mercedes poderia ter facilmente amolecido a suspensão, sem afetar em nada o desempenho. Foi um erro. E também há a largura. Certamente você não passa por brechas estreitas da mesma forma que com um BMW Série 1. Você precisa respirar fundo e fazer uma careta antes.

    Outras coisas? O tanque de gasolina é pequeno demais, o que significa que você tem de parar no posto de combustível a toda hora. Tem também o estilo do interior, que é totalmente exagerado. Quem pensou que seria uma boa ideia pintar de vermelho as saídas de ar da cabine? Este é um Mercedes- Benz, oras! Não um comercial da Gillette.

    Mas o grande problema para mim é o preço. Na Inglaterra, 37 845 libras esterlinas (138 000 reais). É claro que, para um Mercedes AMG, é uma relação custo-benefício extremamente boa. Mas é um caminhão de dinheiro para o que, no fim das contas, é um hatchback apimentado. São respeitáveis 9 000 libras (32 800 reais) acima do que a Volkswagen pede por um Golf GTI topo de linha. Sim, o Mercedes é um carro melhor. Mas 9 000 libras melhor? Com aquela suspensão, aquele tanque de combustível e aquelas saídas de ar ridículas? Não, acho que não.

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