As pistas de motovelocidade não são excelentes laboratórios de pesquisa apenas para as fábricas de motos. Os fabricantes de equipamentos de segurança têm investido cada vez mais nos pilotos, que acabam servindo como cobaias para o desenvolvimento de inovações importantes para a integridade física de todos os motociclistas.
É o caso dos macacões equipados com sistema de airbag. Tanta tecnologia na justa roupa de couro era impensável há algum tempo, quando a veste de competição carecia até mesmo de saboneteiras – os raspadores dos joelhos.
Hoje os macacões com airbags já são vendidos ao público na Europa, mas, como a produção é pequena, o preço é salgado, cerca de 6.000 euros (aproximadamente 15.650 reais). Como ocorre geralmente com as novidades tecnológicas, é possível prever que a eventual intensificação da demanda e o decorrente ganho de escala na produção façam esses valores baixarem.
À primeira vista, é quase impossível identificar o macacão que incorpora as bolsas infláveis. Dica: procure pelas inscrições D-air ou Tech Air. Sem essas identificações, é preciso ter olhos de lince para perceber uma luzinha piscando no braço dos pilotos, indicando que o dispositivo está ligado – caso do Tech Air. Em caso de queda, entretanto, a coisa muda. O airbag fica evidente, deixando o piloto por instantes com a aparência de um baiacu estufado, com os braços afastados do corpo, à semelhança de um boneco.
Os maiores fabricantes de macacões já têm versões com airbag. É o caso do Tech Air, da Alpinestars, e do D-air, da Dainese, empresas italianas que estão na vanguarda do desenvolvimento desse equipamento há mais de dez anos.
Pesquisas apontaram que 48% dos ferimentos nas pistas ocorrem na região dos ombros e da clavícula, daí o protetor atuar predominantemente nessa área do corpo. Segundo os engenheiros, não está longe o surgimento de um macacão com mais áreas infláveis, garantindo proteção adicional a outras partes do corpo, como peito e costas.
Inflação galopante
O Tech Air da Alpinestars é baseado em sensores e acelerômetros espalhados pelo macacão e ligados a um sofisticado microprocessador eletrônico capaz de fazer milhares de cálculos por segundo. O sistema faz uma varredura dessas posições a cada 2 milissegundos. É a partir dessas leituras das forças atuantes sobre o piloto que o sistema é ativado.
A central, por sua vez, está ligada a dois pequenos cilindros de nitrogênio, responsáveis por inflar as bolsas de proteção. Mudanças abruptas nas forças sobre o piloto, como as ríspidas acelerações e desacelerações laterais e verticais que ocorrem durante uma queda, fazem o dispositivo disparar – e o nitrogênio se encarregará de inflar as bolsas.
Quanto tempo demora desde que a central “perceba” o tombo até as bolsas estarem estufadas e prontas a receber o impacto? Apenas 50 milissegundos – 1 milissegundo é a fração de tempo obtida pela divisão de 1 segundo por 1000. As bolsas ficam totalmente infladas por 5 segundos.
Todo o aparato é wireless, sem cabo ligado à moto. Uma vez acionado (o fechamento do zíper liga o sistema), ele só entrará em ação quando os sensores captarem as vibrações do motor. Caso o piloto escorregue em baixa velocidade com a moto, ao chegar ao grid, por exemplo, a central vai entender que não é necessário ativar a carga de gás.
O sistema conta com duas cargas que podem ser utilizadas numa mesma corrida. Suponha que certo piloto sofra, durante a prova, uma queda sem maiores consequências para ele e a moto, permitindo que ambos voltem à pista. Depois dos 5 segundos em que está totalmente inflado, o airbag começa a murchar, devolvendo os movimentos normais ao piloto. A partir daí, a central eletrônica faz um reinício automático de todos os parâmetros e, em 60 segundos, o sistema está pronto para atuar novamente.
Segundo a fábrica, todo o aparato eletrônico e inflável acrescenta menos de 500 gramas ao macacão.