Grandes Comparativos: Mitsubishi 3000GT VR-4 x Nissan 300ZX
O piloto de F-1 Christian Fittipaldi testou o Mitsubishi 3000GT VR-4 e o Nissan 300ZX, ambos com 300 cv, na pista de Jacarepaguá
Em 1992, um novo integrante do clã Fittipaldi ingressou na Fórmula 1 para escrever mais um capítulo da família na categoria.
Christian Fittipaldi estreou na modesta Minardi para seguir os passos do pai, Wilson, e do tio, Emerson – bicampeão mundial em 1972 e 1974.
Em maio daquele ano, porém, o jovem Christian deixou o cockpit por um dia para testar, no autódromo de Jacarepaguá (RJ), dois importados que causavam furor nas ruas brasileiras: Mitsubishi 3000GT VR-4 e Nissan 300ZX.
E olha que o piloto, por incrível que pareça, nem era muito fã de esportivos: na época da reportagem, seu carro do dia a dia na Suíça, onde morava, era um Mercedes-Benz 300-CE. Mas ele não resistiu ao convite de QUATRO RODAS para acelerar as duas feras.
Ele os analisou em dez itens: desempenho, câmbio, frenagem, estabilidade, painel, visibilidade, posição de dirigir, conforto, espaço interno e estilo. O Mitsubishi, dizia o texto, era “um esportivo inteligente, com tração integral, cheio de conforto e tecnologia”. Já o Nissan representava “potência pura, campeão de desempenho e, ainda assim, confortável”.
Susto com os freios
Na antiga pista de 5.031 metros de Jacarepaguá (que seria completamente demolida para a construção da Vila Olímpica utilizadas nos Jogos do Rio 2016), Christian se sentiu à vontade e exigiu muito dos carros.
Com o Mitsubishi, foi de 0 a 100 km/h em 7,09 segundos e fez 186,2 km/h de máxima. Os números do Nissan foram superiores: 6,71 segundos e 195,4 km/h.
”O Nissan é mais rápido, mas o aproveitamento do motor é melhor no Mitsubishi devido à sua faixa de torque”, definiu Christian. “O 3000GT parece ser mais suave e o motor está empurrando o carro a todo momento. Mas as diferenças são pequenas.”
Se ele se surpreendeu com o desempenho dos dois japoneses, por outro lado, assustou-se com as falhas nos freios de ambos: os do Nissan superaqueceram e os do Mitsubishi sofreram fading, situações que dificilmente surgiriam em uso normal.
“Por ter pneus de perfil mais baixo, o Mitsubishi deveria se sair melhor. Mas não. Ele chega meio ‘bobo’ à entrada das curvas. Por alguma diferença de mola, carga de amortecedor ou barra estabilizadora, o Nissan é mais duro e transmite uma sensação melhor ao motorista.”
O Mitsubishi foi prejudicado na frenagem de 80 km/h a 0 porque as pastilhas de freio estavam vidradas. Assim, precisou de 27,9 metros, contra 25,1 do rival.
Um resultado diferente do registrado no teste feito pela revista na pista de Limeira (SP), alguns dias antes. Ali, o 3000GT superou o Nissan: 27,1 ante 28,3 metros.
Nota 10
Christian deu notas a cada um dos quesitos propostos. Rigoroso, só aplicou 10 à posição de dirigir do Mitsubishi. O Nissan levou 8. “O 3000GT oferece várias posições para quem está ao volante. Ele lembra um carro de fórmula, faz com que o motorista se sinta parte integrante do automóvel”, justificou.
“A posição de dirigir do Nissan te deixa meio jogado dentro dele. Em um automóvel de boa performance, é fundamental que o motorista se sinta bem ao dirigir.”
Não que o piloto tenha se sentido desconfortável no 300ZX. Ao contrário. O espaço interno do Nissan agradou bastante, mesmo podendo levar somente duas pessoas.
“Quem tem pernas compridas encontra mais facilidade no 300ZX. Além disso, suas portas são maiores e não sacrificam tanto o motorista na hora de entrar, como acontece no Mitsubishi”, diz.
Ele destacou ainda a facilidade no manuseio do cinto de segurança, fixado na porta. “No 3000GT, é preciso algum contorcionismo para alcançá-lo.” Lá dentro, a vantagem do Mitsubishi era poder levar também duas crianças no banco traseiro.
Acostumado a observar o mundo boa parte do tempo por detrás da viseira de seu capacete, o piloto argumentou que a visibilidade ficava prejudicada nos dois carros, justamente por serem esportivos. Eles eram baixos e tinham vidros muito pequenos.
“No Nissan, a visibilidade não chega a ser tão ruim, porque o painel está numa posição mais inferior. No Mitsubishi, a visão traseira piora bastante quando a asa está levantada.”
Por falar em painel, o do Nissan – embora beneficiasse a visibilidade – era muito simples. “Você só nota que está em um esportivo porque senta numa posição bem baixa. Se eu não soubesse, teria a impressão de estar guiando um Gol”, afirmou, chutando o balde.
“O painel do 3000GT é mais equipado e agressivo, como deve ser em um esportivo. Além disso, os controles do rádio, instalados no volante, facilitam bastante”, aponta.
Se o painel diz muita coisa em um esportivo, o câmbio também é essencial para domar o coração do carro, ou seja, o motor. Aqui, o Nissan ganhou a preferência.
“Os engates são melhores no 300ZX. No Mitsubishi, você nunca tem certeza se colocou a marcha, fica com aquela dúvida na cabeça até tirar o pé da embreagem. A relação de marchas dos dois é muito longa por causa do turbo, mas com ótimo resultado”, relata.
Com a autoridade de piloto de F-1, ele fez questão de mostrar as diferenças em carros aparentemente iguais: os dois tinham motor 3.0 de 300 cv, com dois turbos e dois intercoolers.
Vantagem pequena
A força do Nissan era maior, porque desenvolvia 63,2 mkgf a 3.600 rpm, contra 42,2 mkgf a 2.500 do 3000GT. Mesmo assim, o aproveitamento de potência era melhor no Mitsubishi por causa da ampla faixa de torque. “O Nissan é mais rápido e nervoso, mas a utilização do motor no Mitsubishi é mais suave. Nas ruas, os dois são ótimos, principalmente por causa dos turbos.”
Dirigir os dois modelos mudou o conceito de Christian sobre esportivos. “Sempre achei que eram carros duros, mas os dois japoneses unem performance e conforto”, elogia. “Eles podem andar tranquilamente nas ruas, até mesmo nas esburacadas, sem nenhum problema.” Mas que não perca de vista a estabilidade, um pouco comprometida no Nissan pelas rodas aro 16. “Como o Mitsubishi usa aro 17, o carro rola menos no pneu.”
A avaliação de Christian Fittipaldi terminou com uma superioridade mínima do Nissan: 7,8 contra 7,6 do 3000GT. O veredicto do piloto brasileiro reforçou o empate técnico do tira-teima.
“O 300ZX tem uma característica mais esportiva, enquanto o 3000GT é mais fácil de guiar, tem um comportamento superior nas curvas, devido à tração integral e aos pneus de perfil baixo com aro maior”, resume.
Qual ele escolheria? “Se pudesse, eu compraria um Mitsubishi com a carroceria do Nissan.” Seria uma mistura perfeita, sem dúvida.
Maio de 1992
“Christian gostou do estilo do Nissan, simples e agressivo. Para ele, o Mitsubishi nem parece um esportivo. Fica no meio-termo entre esportivo e confortável. ‘Acho que as linhas do 300ZX são mais modernas, pois o carro é limpo, liso e com ótima aerodinâmica’ (…). Apesar do avanço tecnológico do 3000GT, o Nissan apresenta design mais moderno. Ele não usa, por exemplo, faróis escamoteáveis, moda que vem do fim dos anos 50.”
Mitsubishi 3000GT VR-4 | Nissan 300ZX Turbo | |
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Aceleração de 0 a 100 km/h | 7,09 s | 6,71 s |
Velocidade máxima | 186,2 km/h | 195,4 km/h |
Frenagem de 80 km/h a 0 | 27,9 m | 25,1 m |
Preço (maio de 1992) | US$ 90.700 | US$ 110.000 |
Mitsubishi 3000GT VR-4 | Nissan 300ZX Turbo | |
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Motor | dianteiro, transversal, 6 cilindros em V, 2 972 cm³, 91,1 x 76 mm, injeção eletrônica, 300 cv a 6 000 rpm, 42,2 mkgf a 2 500 rpm | dianteiro, longitudinal, 6 cilindros em V, 2 960 cm³, 87 x 83 mm, injeção eletrônica, 300 cv a 6 400 rpm, 63,2 mkgf a 3 600 rpm |
Câmbio | manual de 5 marchas, tração integral | manual de 5 marchas, tração traseira |
Dimensões | comprimento, 458 cm; largura, 184 cm; altura, 128 cm; entre-eixos, 247 cm; peso, 1.700 kg | comprimento, 430 cm; largura, 179 cm; altura, 125 cm; entre-eixos, 245 cm; peso, 1.610 kg |