Após o fim da produção da Variant II, em dezembro de 1980, a Volkswagen ficou sem representante no segmento das peruas. A concorrência tinha projetos de concepção mais moderna e a montadora alemã precisava se mexer.
Sua carta na manga era o projeto BX, iniciado em 1976. Dele surgiriam frutos como o Gol, líder de vendas há 20 anos, e o três-volumes Voyage. Baseado no desenho desses dois modelos, a VW elaborou uma versão perua, lançada em junho de 1982.
Com a chegada da Parati, como foi batizada, cada uma das quatro principais montadoras nacionais tinha suas peruas. Havia as pequenas Chevrolet Marajó e Fiat Panorama e as maiores Ford Belina e Caravan, esta também da Chevrolet.
Apesar de utilizar a mesma plataforma do Gol, a suspensão dianteira da Parati recebeu molas e amortecedores recalibrados e na traseira os reforços se estenderam aos braços. O eixo de trás ganhou válvulas equalizadoras de pressão dos freios, para que estes não variassem com a quantidade de carga transportada.
O porta-malas levava 620 litros até o teto com o banco traseiro na posição normal e 1.380 litros com o assento rebatido. Pela primeira vez, a VW oferecia rodas de liga leve opcionais.
No primeiro teste de QUATRO RODAS com o modelo, em junho de 1982, Cláudio Carsughi elogiava o equilíbrio da suspensão e dos freios com a perua vazia ou carregada, mas apontava a falta de um termômetro na Parati GLS, topo-de-linha.
Ao ser lançada, a Parati dispunha do motor 1.5 de 78 cv a gasolina do Passat. No teste, chegou a 143,712 km/h e foi de 0 a 100 km/h em 16,54 segundos.
Dois meses depois chegou o motor 1.6, também emprestado do Passat, disponível tanto a gasolina quanto a álcool. Num comparativo de agosto de 1982 com a Belina, ambas 1.6 a álcool, Emílio Camanzi notou a melhora na dirigibilidade da Parati e sua rapidez nas ultrapassagens. Ela atingiu 157,894 km/h e precisou de 13,91 segundos para ir de 0 a 100 km/h.
No consumo rodoviário, a perua Ford levou vantagem, graças ao câmbio de cinco marchas, recurso de que as Parati LS e GLS passariam a dispor só no fim de 1984. Com isso, o consumo caiu consideravelmente, de 11,62 para 13,03 km/l com a perua vazia.
A Parati cinza Hymalaya que você vê é uma versão LS a álcool de quatro marchas de 1986 e pertence ao comerciante de veículos Camilo Cechinel Fontana, de Curitiba (PR). “Uso o carro em viagens e digo que não deve nada aos novos. Seu desempenho é excelente, apesar de o consumo ser um pouco elevado, fazendo de 6,5 a 7 km/l”, diz Fontana.
Com mesmo bloco e cabeçote do Santana 1.8, o motor 1.6 ganhou 4 cv para 1986. Nova frente e bagageiro vieram no ano seguinte, quando a Parati já rendia 90 cv.
Foi quando sua presença alcançou o mercado americano com o nome de Fox Wagon. Opção inferior ao Golf, a perua passou por mais de 2000 alterações para adaptar-se à legislação de lá, como a adoção de injeção eletrônica e catalisador, item surgido por aqui somente em 1992.
“Sua performance surpreendente e excelente visibilidade, aliadas a seu visual agradável, fazem da VW Fox GL Wagon mais que só a líder de seu segmento”, dizia a revista Motor Trend em fevereiro de 1988. “Ela provavelmente será a campeã geral de vendas.”
O motor 1.8 de 96 cv foi a grande novidade daquele ano. Após a chegada das mais modernas Fiat Elba e Chevrolet Ipanema na segunda metade dos anos 80, a Parati ainda se destacava pelo desempenho. Ela liderava o mercado de peruas desde 1983, era a preferida dos jovens, mas a idade começava a pesar.
A escalada de potência prosseguiu com a geração “bolinha” da linha 1996. A aparência seguia a do Gol 1995 e tinha vidros basculantes para os passageiros do banco de trás. Primeira Parati com injeção eletrônica, seu motor 2.0 de 109 cv era o mesmo do Gol GTi e o ABS era opcional.
O motor 1.0 de 69 cv marcou 1997. Outra novidade veio para 1998: as aguardadas duas portas a mais. Até motor 1.0 Turbo de 112 cv ela teve. Depois disso, a Parati acompanhou as reestilizações do Gol e ganhou versões com apelo esportivo e aventureiro como Summer, Sunset, Track & Field e Crossover.
Com mais de 25 anos de mercado, ela acabou perdendo participação para a Fiat Palio Weekend até ser retirada de linha, em 2012, substituída (sem o mesmo sucesso) pela SpaceFox.
* reportagem originalmente publicada na edição 575 de fevereiro de 2008
Ficha técnica – VW Parati LS 1986
- Motor: dianteiro, longitudinal, 4 cilindros, 1588 cm3, carburador de corpo duplo, a álcool
- Diâmetro e curso: 79,5 x 80 mm
- Taxa de compressão: 12:1
- Potência: 81 cv a 5200 rpm
- Torque: 12,8 mkgf a 2600 rpm
- Câmbio: manual de 4 marchas, tração dianteira
- Dimensões: comprimento, 409 cm; largura, 162 cm; altura, 138 cm; entreeixos, 236 cm
- Peso: 922 kg
- Direção: mecânica, tipo pinhão e cremalheira
- Rodas e pneus: liga leve, aro 13, tala 5 polegadas; pneus 175/70 SR13
Teste QUATRO RODAS – março de 1984
- Aceleração 0 a 100 km/h: 14,6 s
- Velocidade máxima: 154,011 km/h
- Frenagem 80 km/h a 0: 35 metros
- Consumo: 8,69 km/l (urbano), 11,62 km/l (rodoviário, vazio)
- Preço (fevereiro de 1994): Cr$ 8,3 milhões
- Preço atualizado (março de 2017 / INPC-IBGE): R$ 69.434