Poucos automóveis foram tão idolatrados quanto o Chevrolet 1955: o estilo retilíneo com três volumes bem definidos e um novo motor V8 ofuscaram a concorrência, especialmente a Ford. O contra-ataque de Dearborn demorou dois anos: maior, mais baixo e mais largo, o Ford 1957 inovou com o Ranchero, o primeiro cupê utilitário feito nos EUA.
Desenvolvida para o trabalho no campo, nada mais era do que a perua de duas portas Ranch Wagon, sem a porção traseira do teto e com uma enorme caçamba. Sua capacidade de carga era superior à de picapes de entrada, mas foi o estilo definido por Gordon Buehrig que acabou conquistando outra parcela do público.
O motor de entrada era um seis cilindros em linha de 3,9 litros, já com válvulas no cabeçote: era o preferido dos frotistas, por combinar suavidade, durabilidade e boa economia de combustível. Entusiastas da alta performance optavam pelo V8 de bloco Y, com cilindrada entre 4,6 e 5,1 litros ou pelo big block FE, com 5,8 litros.
Havia duas versões, Standard e Custom. Esta, mais cara, oferecia frisos cromados e revestimento de luxo nos bancos e laterais de porta. Havia dez combinações de pintura em dois tons, além de direção hidráulica, freios assistidos e câmbio automático Fordomatic.
O sucesso estrondoso pegou a concorrência de surpresa: a Chrysler não esboçou nenhuma reação, mas a GM rebateu com a Chevrolet El Camino em 1959, último ano da primeira geração do Ranchero. A segunda geração foi baseada no compacto Falcon – menor e mais leve, era impulsionada pelo motor de seis cilindros e apenas 2,4 litros.
O estilo melhorou na terceira geração, em 1966. A estratégia era fazer frente à El Camino. O V8 Windsor cresceu para 4,7 litros, dando início à linhagem de picapes de alto desempenho. A demanda por motores de alta cilindrada introduziu o Ranchero no seleto grupo dos muscle cars: o V8 de bloco grande FE chegava aos 6,4 litros e nada menos que 315 cv. Rápida e veloz, não demorou para que fosse oficializada com a versão GT.
Recém-lançado em 1968, o médio Torino cedeu a plataforma para a quarta geração do Ranchero, que passava a contar com um V8 5.7. Redesenhado em 1970, chegava à sua quinta geração: o modelo 1971 que ilustra a reportagem pertence ao colecionador paulistano Munir Hayar.
A sexta veio em 1972, com motores mais fracos devido à proibição do chumbo na gasolina: a solução encontrada foi apelar para novos motores de alta cilindrada. O V8 Cleveland subia para 6,5 litros. O formato da grade lhe conferiu o apelido Boca de Peixe, mas a harmonia de suas linhas duraria só um ano: enormes para-choques foram adotados em 1973 para atender à legislação norte-americana.
O modelo permaneceu quase inalterado até 1976, ano em que o Torino deixou de ser produzido. Enorme e desproporcional, a sétima e última geração durou só três anos: derivada do Ford LTD, saiu de linha em 1979, depois de pouco mais de 500.000 picapes produzidas em 22 anos.
Ficha Técnica – Ford Ranchero GT 1971
Motor: 8 cil. em V, 7 litros, 360 cv a 4.600 rpm, 66,4 mkgf a 2.800 rpm
Câmbio: automático de 3 velocidades
Dimensões: comp., 534 cm; largura, 192 cm; altura, 135 cm; entre-eixos, 289 cm; peso, 1.563 kg
Desempenho: 0 a 100 km/h: 7 s, Velocidade máxima de 203 km/h