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Entrevista: Chip Foose

Renomado designer elogia personalizações brasileiras e diz que foge de tendências

Por Vitor Matsubara
Atualizado em 9 nov 2016, 14h00 - Publicado em 3 set 2014, 18h27
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    Os fãs de carros personalizados sabem bem quem é Chip Foose. Nascido em Santa Barbara, Chip sempre viveu entre automóveis, graças a seu pai Sam, dono de uma oficina. Formado na Art Center College of Design, o jovem Foose começou sua carreira trabalhando para Boyd Coddington, um dos profissionais mais renomados do mundo da personalização automotiva – e que faleceu em 2008. Quase uma década antes, em 1999, Chip deixou a empresa Hot Rods by Boyd para abrir sua própria oficina, a Foose Design.

    Desde então, Chip participou de vários programas de televisão dedicados à customização. O mais famoso deles é o Overhaulin’, atualmente exibido no Brasil pelo Discovery Channel – inspirando a criação de vários quadros no mesmo formato pelo mundo, inclusive no Brasil.

    Na última terça-feira, 2 de setembro, Chip esteve mais uma vez no Brasil à convite da 3M, parceira oficial da Foose Design há anos. Antes de conversar com a imprensa, o designer viu de perto alguns projetos de hot-rods e muscle-cars feitos no Brasil. Foose se disse impressionado com a qualidade do trabalho realizado aqui e revelou curiosidades de sua carreira e do dia-a-dia em sua oficina.

    O que você achou dos trabalhos de personalização feitos pelos brasileiros?

    Os brasileiros são muito criativos e fazem trabalhos de extremo bom gosto. Dos projetos que vi até agora, gostei de uma perua Chevy 1957, que apesar de ter sido vendida aqui com carroceria quatro portas, foi transformada em duas portas, similar ao Chevy Nomad vendido nos EUA. Fiquei muito impressionado com o que vi nestes dias. Todos os trabalhos são lindos e é possível perceber toda a dedicação e paixão com que eles são feitos.

    Qual sua opinião sobre a nova geração de muscle-cars, como Ford Mustang e Chevrolet Camaro?

    Acho fenomenal. Quando me formei, em 1990, a Chrysler propôs a minha turma que criasse um projeto de veículo de nicho. Na escola onde estudei não olhávamos muito para o passado, éramos orientados a seguir apenas as tendências do futuro. Fiz dois projetos: um deles tinha esboços similares ao que eles queriam. E meu segundo projeto foi baseado em muscle-cars e hot-rods do passado. Quando Tom Gale, então vice-presidente de design da Chrysler, viu meus projetos, ele me pediu para mostrar meu outro projeto.

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    É este conceito de veículo de nicho que tento seguir na minha empresa. São veículos que tocam o lado afetivo das pessoas, que eles trazem boas lembranças do passado. Veja os exemplos do Porsche 911 e do Chevrolet Corvette. É possível notar a evolução de estilo ao longo das décadas nestes dois projetos. Não se trata de apenas evocar o passado, como uma onda retrô, e sim de um processo de evolução contínua, baseado no que ocorreu lá atrás. É isso que as montadoras buscam lançando as novas gerações de Camaro, Challenger e Corvette. Um bom exemplo é o novo Mustang, que está prestes a ser lançado. Quando olhamos para ele não o associamos de imediato ao Mustang dos anos 60, mas há vários elementos que remetem ao primeiro modelo. Isso é o que chamamos de evolução no design. E isso dá certo.

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    Você costuma colaborar com projetos da indústria automobilística. Pode citar algum deles?

    Não (risos). Afinal, é por isso que eles são projetos confidenciais, se eu falasse a vocês posso não trabalhar em projetos futuros. Tenho bons amigos em Chevrolet, Ford e Chrysler, e me divirto muito trabalho neles. Posso revelar que participei do desenvolvimento de um projeto que acabou não sendo produzido: o Ford 49. Ajudei no desenvolvimento com J. Mays (na época vice-presidente global de design da Ford) e sua produção em série estava confirmada. Mas a Ford acabou cancelando tudo no último momento.

    Você prefere trabalhar com a indústria automobilística ou no ramo de veículos personalizados?

    As montadoras fazem projetos para serem mostrados à imprensa e depois ficamos esquecidos para sempre em um galpão. Isso não acontece no mercado de veículos exclusivos. É muito gratificante visitar exposições por todo o país e ver centenas de carros que eu e meu pai ajudamos a construir. Melhor ainda é conversar com os proprietários e ouvir suas histórias ao lado dos carros. Costumo dizer que trabalho pensando na satisfação das pessoas, e não apenas nos carros. É por isso que gosto mais de trabalhar com o mercado de personalização.

    Qual é o projeto mais memorável já feito pela Foose Design?

    Todos os carros são inesquecíveis para mim. São como filhos. Gosto muito de ir a exposições e me deparar com veículos que nem sabia que estariam lá. Logo várias lembranças vêm à minha mente. Se fosse pra apontar o carro mais emblemático da história da Foose Design, acho que seria o Impression, que construímos inteiramente do zero, embora ele tenha sido baseado no Ford Roadster 1936. É este tipo de projeto que traduz nossa filosofia de trabalho. Todos os detalhes, até aqueles que você não vê, foram feitos de forma artesanal exclusivamente para aquele projeto.

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    Quantos projetos a Foose Design consegue fazer ao mesmo tempo? Sua oficina acompanha as tendências do mercado de personalização?

    Consigo realizar de 6 a 10 projetos simultaneamente em nossa oficina, incluindo os carros feitos para o Overhaulin. Sobre tendências, procuro ficar longe delas. A última coisa que quero é fazer algo que acho que é tendência. Minha preocupação é fazer bons projetos e que sejam belos daqui a dez ou 20 anos. Acredito que um projeto de qualidade não envelhece, ao contrário de projetos feitos apenas para seguir as tendências do mercado.

    Em um dos episódios de Overhaulin’, acompanhamos a preparação e entrega de uma picape Ford F100 feita especialmente para você (veja acima). Você costuma dirigi-la com frequência?

    Sim. Não só ando com ela como faço toda a manutenção por conta própria. Carrego até um polidor debaixo do banco e sempre que um risco aparece largo tudo para consertá-la. Uma vez estava almoçando com meus amigos quando um carro bateu na minha picape dentro de um estacionamento. A frente dela ficou bastante danificada. Não pensei duas vezes: levei meus amigos até minha oficina e passei boas horas consertando os estragos. Só quando acabei o trabalho é que fomos para um compromisso que estava agendado há dias.

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