Dodge Kingsway
Embalada no sucesso dos irmãos Dodge, a Chrysler conquistou novos mercados nos anos 30 com o honesto Kingsway
Fundada em 1914 pelos irmãos John Francis e Horace Elgin Dodge, a Dodge Brothers foi adquirida pela Chrysler Corporation em 1928 e logo conquistou a reputação de produzir carros bem-construídos. Decidida a ampliar sua participação no mercado mundial, a Chrysler optou por aproveitar esse prestígio para criar um modelo de entrada. Foi assim que nasceu o Dodge Kingsway.
Produzido na fábrica canadense de Windsor a partir de 1934, ele era na verdade um Plymouth, tradicional rival de marcas mais populares, como Ford e Chevrolet. Travestido de Dodge, foi oferecido nas versões cupê (de duas portas) e sedã (duas ou quatro portas). Era espartano demais: vinha com uma única lanterna traseira e limpador de para-brisa apenas no lado do motorista. Mas fez tanto sucesso que a produção em Detroit começou no ano seguinte.
Ao contrário dos concorrentes, o Kingsway não apelava para um desenho ousado e chamativo: era bem convencional, com linhas arredondadas, conservadoras e funcionais. A proposta defendida pelo teimoso presidente K.T. Keller era a de um carro confiável e espaçoso, com um teto alto capaz de acomodar passageiros usando chapéu. Utilitário ao pé da letra, o Kingsway não tinha compromisso com estilo ou desempenho.
E não era mesmo para ter pressa: projetado nos anos 30, o seis-em-linha de 3,6 litros e válvulas laterais entregava só 97 cv. O longo curso do virabrequim garantia o generoso torque de 24,2 mkgf a baixos 1 200 rpm, poupando o câmbio manual de três marchas. Direção e freios sem assistência eram um convite para uma tocada tranquila e despretensiosa.
O nome oficial só foi adotado em 1949, ano marcado pela chegada do designer Virgil Exner: a despedida do engenheiro K.T. Keller da direção da Chrysler favoreceu a adoção de um estilo mais ousado a partir de 1953, quando o para-brisa passou a ser construído em peça única. O capô mais baixo e os para-lamas traseiros pronunciados eram modificações discretas, que antecipavam a revolução de estilo que estava por vir.
As mudanças mais significativas vieram na linha 1955: o estilo Forward Look de Exner era inspirado em aviões e foguetes, tornando o Kingsway maior, mais baixo e mais largo. Após adotar barbatanas com lanternas verticais, o Forward Look entrou em sua segunda fase em 1957: reformulada, a carroceria ficou ainda mais baixa e larga, incorporando os quatro faróis dianteiros.
Sucesso no mundo todo, o Dodge Kingsway deixou de ser produzido em 1959, no ápice da carreira: poderia ser adquirido em qualquer versão de acabamento que também fosse oferecida pelo primo Plymouth, incluindo o conversível Belvedere e as peruas Custom Suburban de nove lugares. Muitos deles vieram parar no Brasil, caso deste exemplar fabricado em 1951 e que se encontra aos cuidados do empresário Pedro de Souza Neto, da PJS Restaurações Especiais.
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“É um carro de visual sóbrio e conservador e seu padrão de qualidade era referência então. Roda por horas ao redor dos 100 km/h sem esforço, pois a baixa taxa de compressão era adequada à gasolina brasileira”, diz Souza. A qualidade do Kingsway foi fundamental para o sucesso do Dodge Dart, modelo que o sucedeu em 1960 e que foi escolhido para ser produzido no Brasil em 1969.
O CARRO DO DOUTOR LAURO
Um dos responsáveis nos anos 50 e 60 pela ida de VW, Willys, Toyota e Mercedes a São Bernardo do Campo (SP), o prefeito Lauro Gomes gostava de levar os executivos das montadoras para conhecer a então Detroit brasileira a bordo de seu famoso Kingsway.
Motor | 6 cilindros em linha de 3,6 litros; |
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Potência | 97 cv a 3 600 rpm |
Torque | 24,2 mkgf a 1 200 rpm |
Câmbio | manual de 3 marchas, tração traseira |
Dimensões | comprimento, 492 cm; largura, 186 cm; altura, 156 cm; entre- eixos, 301 cm |
Peso | 1 395 kg |
0 a 100 km/h | 21 segundos |
Velocidade máxima | 135 km/h |