No mundo automotivo existem vários carros que até viram a luz do dia, mas não chegaram à linha de produção e o Jaguar C-X75 é um deles. Ele surgiu como protótipo de um supercarro híbrido em 2010, marcando presença durante o Salão de Paris daquele ano. Mas os planos da Jaguar mudaram e a montadora abandonou o projeto.
Mas ele era bom demais para ser esquecido. Tanto é que, mesmo depois de abandonado, o superesportivo se tornarnou estrela do filme “007 contra Spectre” de 2015.
Ainda assim, não era um “carro de verdade”, uma vez que os modelos foram feitos apenas para as acrobacias do longa. Porém, seu criador, Ian Callum, não deixou a ideia morrer e, após sair da Jaguar e fundar sua empresa homônima, decidiu tornar o C-X75 em um carro legalizado para as ruas. Em fevereiro ele apresentou uma primeira e mais rústica versão, agora, meses depois segunda versão desse projeto traz melhorias que deixam C-X75 do jeito que um superesportivo deve ser.
Digamos que essa seja — pelo menos até o momento — a versão definitiva do protótipo de 2010. Enquanto no modelo de fevereiro a Callum focou em conseguir a IVA (Aprovação de Veículo Individual, do Reino Unido), adicionando comutadoras, conversores catalíticos escapamento silencioso e ajustando a calibração do motor, agora o foco foi melhorar a experiência do motorista.
“O C-X75 foi ‘aquele que escapou’ – um carro repleto de potencial não realizado. Combinamos os desejos do cliente com soluções cuidadosamente projetadas para levar o C-X75 à conclusão totalmente satisfatória que sempre mereceu.”, explica Ian Callum.
Mas isso não significa que ele não teve alterações mecânicas. O novo C-X75 abandona o trem de força híbrido mantendo apenas o V8 superalimentado, que ganhou também uma transmissão de dupla embreagem. Junto disso, a Callum utilizou um novo software, que permite ao motorista alternar entre um modo mais pacífico de rua e o esportivo. Segundo a montadora, isso torna as respostas do acelerador mais rápidas, as trocas de marcha mais nítidas e aprimora a experiência acústica do motorista.
A Callum também melhorou a aerodinâmica do C-X75, de modo que em velocidades acima de 60 km/h a geração de downforce é aumentada para dar mais estabilidade ao veículo. Há ainda novos freios a ar para aprimorar frenagens bruscas e uma suspensão hidráulica de elevação para facilitar a condução nas ruas.
A Callum afirma que foram necessárias mais de 1.000 horas de trabalho para alinhar os detalhes visuais externos do C-X75. A carroceria tem pintura num tom de verde que remete às folhas de salgueiro. O design mistura elementos em fibra de carbono nos difusores, metal polido na grade e alumínio escovado na moldura das janelas. Já as rodas se mantiveram idênticas às originais, sendo de 20’’ na dianteira e de 21’’ na traseira, todas calçadas com pneus Pilot Sport 4S da Michelin.
Mas onde podemos ver mais claramente o trabalho na empresa é no interior, que agora sim se parece com um carro de rua. A mudança foi radical, trocando todo o cockpit de um carro de acrobacias por uma cabine digna de modelos premium. O acabamento mistura a cor creme, encontrada principalmente nos bancos de couro, com o verde escuro. Essa foi a forma que eles encontraram de mesclar a sensação de conforto e esportividade.
“Os carros esportivos geralmente apresentam interiores mais escuros, enquanto o conforto é frequentemente associado a tons mais claros. Queríamos fundir esses elementos de uma forma dinâmica para refletir a natureza dupla deste carro. Limpo e bonito, o interior é simples, não simplista”, disse Aleck Jones, chefe de design da Callum.
Um detalhe interessante é que não há um console central como conhecemos. Ao invés disso, há três seletores circulares com telas sensíveis ao toque. Infelizmente, não foi explicada qual a função de cada um. Outras funções do carro, incluindo o botão de partida, foram movidos para o teto, logo acima da cabeça do motorista, uma mudança inspirada na aviação. Há ainda outros recursos tecnológicos, como espelho retrovisor interno digital, freio de estacionamento eletrônico integrado à transmissão, carregador de celulares sem fio, conexão com Apple CarPlay e sistema de som com subwoofer.
A transformação do C-X75 nos deixa com um gostinho de quero mais. Isso porque a Callum não especificou seus números de potência e desempenho. Talvez ficaremos sem saber, já que esse é um projeto único, feito em parceria com um dos proprietários do C-X75 usado no filme.
Após as gravações, quatro dos cinco modelos foram leiloados. Dois deles foram parar nas mãos da Callum para virarem carros de rua. Teremos sorte se outros dois compradores tiverem a mesma vontade — e dinheiro — para realizarem transformações como essa.