Há cerca de quatro meses, o editor Péricles Malheiros, que está sempre antenado com as novidades tecnológicas, chegou na redação exibindo sua CNH digital em seu smartphone último tipo.
Segundo as autoridades, pouco mais de 600 mil brasileiros têm versões digitais de suas habilitações em um universo de 26 milhões de portadores desse documento.
Para ser um dos primeiros, Malheiros precisou ir a um posto do Detran, depois de agendar o atendimento, e cumprir um ritual que hoje não é mais necessário.
No final de 2018, o Ministério das Cidades decidiu facilitar a vida dos motoristas oferecendo a possibilidade de gerar o documento pela internet.
Com essa medida, o governo espera que mais pessoas optem por baixar a CNH digital, que no futuro poderá tornar-se a forma mais usada desse documento.
Mas será que realmente ficou mais fácil? Para tirar essa história a limpo, o editor Paulo Campo Grande resolveu experimentar o serviço oferecido pelo Denatran. Acompanhe a seguir.
O primeiro requisito para obter a versão digital é possuir a CNH do modelo atual, que começou a ser expedido em maio de 2017 e que possui um código digital (QR Code) no verso.
Quem não possui esse tipo de CNH deve tirar a segunda via atualizada do documento, o que dispensa, em caso de ansiedade mais aguçada, a necessidade de esperar a data de renovação prevista no documento.
No Estado de São Paulo, é possível pedir a segunda via pelo site ou pelo aplicativo do Detran. A taxa de emissão é de R$ 42,41, mais R$ 11 pelo custo do envio.
Tendo a CNH com QR Code no verso em mãos, o próximo passo é baixar o aplicativo Carteira Digital de Trânsito (CDT), elaborado pelo Sepro (Serviço Federal de Processamento de Dados), disponível nas lojas Apple Store (iOS) e Play Store (Android).
Como o nome diz, esse aplicativo cria nos celulares uma espécie de carteira de documentos virtuais, no qual a CNH e outros documentos digitais podem ser guardados. O processo para obter a versão digital do documento é gratuita.
PCG entrou na Apple Store, fez a busca por CNH digital e logo surgiu a tecla OBTER. Com o aplicativo, clicou em ABRIR.
As três primeiras teclas explicam o que é a Carteira Digital de Trânsito, esclarecendo que ela poderá receber outros documentos no futuro, como o Certificado de Registro e Licenciamento de Veículos (CRLV), por exemplo, e que esses documentos digitais terão o mesmo valor jurídico de suas versões físicas.
A quarta tela pede para o usuário informar o número de seu CPF. Quem ainda não possui cadastro no Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) deve se cadastrar nesta etapa do processo.
“Para quem já tem, como é o meu caso, basta entrar com a senha. Fácil, mas quem disse que eu lembrava minha senha?”, conta Paulo. “Cliquei em Esqueci minha senha e fiquei aguardando um e-mail para recuperá-la.”
Chegada a nova senha, PCG voltou ao aplicativo e fez o acesso. Na sequência, abriu-se uma nova tela com o seguinte aviso: Você não possui documentos em sua Carteira Digital de Trânsito.
“No canto superior dessa tela, porém, avistei um sinal de soma (‘+‘) e a orientação para o passo seguinte (em letras pequenas e quase apagadas): Adicione sua carteira de motorista ou seu documento de veículo. Cliquei aí e o aplicativo pediu que eu escolhesse qual documento gostaria de adicionar”, segue o editor.
PCG, então, escolheu a opção CNH Digital.
Veio então a seguinte mensagem: Para usar a sua CNH Digital neste aplicativo é necessário complementar o seu cadastro realizando um dos seguintes procedimentos: validação pelo celular; com certificado digital; sem certificado digital (nas duas últimas é preciso ir ao Detran).
Paulo clicou em validação pelo celular e recebeu outra mensagem: Utilize seu celular para validar o cadastro. Para começar, você precisará ter sua CNH em mãos.
Ele apertou Validar utilizando o celular e, na tela seguinte, veio o próximo passo: Para validar seu cadastro utilizando o celular, é necessário que a Carteira Digital de Trânsito tenha acesso à sua câmera.
Após concedido o acesso, a próxima tela deu a seguinte instrução: Para iniciar a validação, forneça o CEP do endereço informado quando a sua CNH foi emitida.
Após informar o CEP e clicar em Avançar,o aplicativo acessou a câmera do celular, que PCG apontou para o QR Code no verso da CNH. Na tela seguinte, Biometria, veio a mensagem Siga as instruções para realizar a validação pelo celular.
“Era hora de tirar uma foto. Apontei a câmera para meu rosto e nada aconteceu. Tempo expirado, fiz nova pose e nada”, relata.
“Lembrei do leitor Itamar de Carvalho Jr, que nos escreveu reclamando que o aplicativo não reconhecia as pessoas com óculos (mesmo quando seu uso está anotado na CNH), e saquei rapidamente os meus. Não adiantou.”
“Tentei encaixar o rosto no gabarito desenhado na tela, levantei os olhos do centro do celular para a câmera, no alto do aparelho, e nada.”
“Preocupado em acertar, só lembrei de ler as instruções após a quinta ou a sexta tentativa. Só depois entendi o que estava acontecendo e consegui avançar”, continua.
Naquele momento o aplicativo exigiu de PCG uma série de caras e bocas: mandou piscar o olho esquerdo, depois o olho direito, depois mandou sorrir… E, enfim, o processo acabou.
Próxima etapa: Forneça o número do seu celular para concluir a validação.
PCG o fez e apertou Concluir. Mas ainda não era o fim, pois outro aviso apareceu: Antes de adicionar o primeiro documento, cadastre uma chave de 4 dígitos para acessar futuramente todos os documentos.
Nosso editor cadastrou a tal chave e aí sim o processo foi concluído. Por fim, restou apenas fechar o aplicativo ao clicar: Sair da conta.
“Dezesseis telas depois de baixar o aplicativo, eu instalei a minha CNH digital, e de graça. O processo todo levou 20 minutos”, contabiliza Paulo Campo Grande.
A tela de seu celular ganhou um novo ícone azul da Carteira Digital de Trânsito, que agora ele poderá abrir sempre que quiser acessar a versão digital de sua CNH.
“Meu celular não é tão novo quanto o do Péricles, mas se equivale ao dele por também ter uma CNH digital. E eu tive muito menos trabalho para conseguir a minha”, brinca.