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Clássicos: Jeep JPX – o problemático jipe francês de Eike Batista

O jipe franco-mineiro é um bom exemplo de como uma execução equivocada pode arruinar as ideias de um ótimo projeto

Por Felipe Bitu
14 ago 2020, 07h30
Jeep JPX
JPX nacional era derivado do jipe francês Auverland (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Poucos 4×4 tiveram a honra de servir ao Exército Brasileiro transportando tropas, armamentos e feridos em ações táticas. A seleta lista de combatentes sobre rodas é formada por Dodge WC, Willys Jeep, Dodge M37, Willys Pick-up, Engesa EE-34, Toyota Bandeirante, Agrale Marruá e o polêmico JPX Montez.

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A história do Montez começou na década de 1980, época em que o francês Francois Servanin fundou a Auverland. A empresa iniciou suas atividades produzindo uma versão própria do Cournil 4×4, lendário utilitário desenvolvido pelo engenheiro Bernard Cournil, em 1961. Em 1986, surgiu o Auverland A3, uma evolução do Cournil que foi a base do JPX.

Jeep JPX
A versão militar recebia acessórios como grade protetora e sirene, na dianteira… Desenvolvido para as forças armadas francesas, o Auverland A3 obteve grande destaque também nas versões civis devido ao sofisticado esquema de suspensões: os eixos rígidos eram fixados ao chassi por tirantes longitudinais e seu curso controlado por triângulos oscilantes ancorados às carcaças dos diferenciais. O conforto era realçado por molas helicoidais. (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Fundador do grupo EBX, o empresário Eike Batista percebeu a demanda por veículos fora de estrada após a abertura das importações e fundou a JPX em 1992, após adquirir a licença de produção do A3 junto à Auverland.

As primeiras unidades do franco-brasileiro Montez deixaram a fábrica de Pouso Alegre (MG) em 1993. A intenção de Eike era suprir as necessidades do grupo EBX em campos de mineração e extração de petróleo, além de concorrer com o Toyota Bandeirante em licitações de frotas governamentais e também no mercado interno, cada vez mais disputado por utilitários estrangeiros.

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Jeep JPX
…e galão e luzes noturnas, na traseira (Fernando Pires/Quatro Rodas)

O chassi e elementos de fixação da suspensão eram produzidos na fábrica mineira. O motor Peugeot XUD9 A de 71 cv e o câmbio manual de cinco marchas eram fornecidos pela PSA.

A caixa de transferência com reduzida vinha da própria Auverland e os eixos eram da italiana Carraro. A carroceria de aço era feita na Brasinca.

O jipe oferecia ótimos predicados para o fora de estrada: ângulo de entrada de 50°, ângulo de saída de 31°, ângulo central de 19°, inclinação lateral máxima de 40°, vão livre do solo de 25 cm, vau (profundidade de travessia de água) de 58 cm.

Jeep JPX
Os engates de tração e redução eram por meio de alavancas (Fernando Pires/Quatro Rodas)
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O maior problema era lidar com o torque de apenas 12,7 kgfm a 2.500 rpm do motor, insuficiente para o fora de estrada. Foi aí que a engenharia da JPX adaptou uma turbina japonesa IHI, que rendeu 17,4 kgfm a 2.250 rpm e 90,5 cv a 4.600 rpm.

Houve melhora, mas o torque ainda baixo deu origem ao jocoso apelido JPXoxo. Para piorar, o subdimensionamento de componentes internos e do sistema de arrefecimento causavam o superaquecimento do motor.

Jeep JPX
Aviso para soldados tirarem seus cintos de equipamentos (Fernando Pires/Quatro Rodas)

A expectativa do empresário era de comercializar cerca de 400 unidades mensais do utilitário, mas a realidade logo se impôs: a média durante o primeiro foi de apenas 120 unidades por mês.

Ainda assim a linha cresceu em 1995 com a chegada da picape Montez, com as mesmas especificações técnicas dos jipes e capacidade de carga de 1.050 kg. Nesse mesmo ano o Montez ganhou um radiador redimensionado com duas ventoinhas, paliativo que não foi capaz de conter os problemas de superaquecimento.

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A falta de familiaridade de Eike com a indústria automobilística resultou em uma série de dificuldades com a rede de concessionários, incapaz de estabelecer uma política de pós-venda adequada.

Jeep JPX
Motor com 17,4 kgfm (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Os problemas se arrastaram até o ano 2000, momento em que o Montez recebeu uma nova grade frontal e uma entrada de ar no capô para resfriar o intercooler do novo motor XUD9 TE/L, redimensionado pela própria Peugeot.

Mas era tarde: a imagem do empreendimento já estava completamente comprometida e a disparada do dólar acabou por inviabilizar o utilitário, que ainda tinha cerca de 30% de seus componentes importados. A produção foi finalmente suspensa no ano seguinte: cerca de 2.800 Montez deixaram a linha de produção, 450 deles alistados no Exército Brasileiro.

Ficha Técnica

JPX Montez 1996

Motor: longitudinal, 4 cilindros em linha, 1.905 cm3, 2 válvulas por cilindro, comando de válvulas simples no cabeçote, alimentação por bomba injetora

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Potência: 90,5 cv a 4.600 rpm

Torque: 17,4 kgfm a 2.250 rpm

Câmbio: manual de 5 marchas, tração 4×4

Dimensões: comprimento, 385 cm; largura, 154 cm; altura, 176 cm; entre-eixos, 225 cm; peso, 1.490 kg

Pneus: 215/80 R16

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Teste

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Maio de 1996 (Acervo/Quatro Rodas)

Aceleração: 0 a 100 km/h: não aferido

Velocidade máxima: não aferida

Consumo: 9,51 km/l

Preços: (maio de 1996) R$ 27.600

Preço atualizado: R$ 112.727

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