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Cemitério dos Peugeot tenta manter carros franceses vivos a qualquer custo

Ferro-velho no Rio de Janeiro se especializou em carros da Peugeot e da Citroën na tentativa de garantir sobrevida a outros

Por Henrique Rodriguez Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 29 set 2023, 21h32 - Publicado em 29 set 2023, 06h00
Cemitério dos Peugeot
Além dos Peugeot 206 e 306, também tem carros da Citroën no estoque (Henrique Rodriguez/Quatro Rodas)
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Quem chega ao Rio de Janeiro pela rodovia Presidente Dutra certamente verá a placa pintada à mão do “Cemitério dos Peugeot” logo depois do último pedágio, em Seropédica (RJ).

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É difícil dizer o que mais chama a atenção. Se é a placa, que substituiu um banner há alguns meses, as peças penduradas ou os vários carros aos pedaços espalhados pelo terreno da loja construída para ser um bar. A missão desse ferro-velho raiz é adiar a morte de carros que já não valem muito.

Cemitério dos Peugeot
Citroën Xsara Picasso e Renault Clio Sedan ainda aguardam a vez para serem desmantelados (Henrique Rodriguez/Quatro Rodas)

Quem sempre passa por ali sabe que a rotatividade é alta. “Na semana passada desmontamos 10 carros aqui”, conta Rodrigo César de Oliveira, que administra o negócio faz 10 anos.

Ele desmonta, com ajuda de alguns funcionários, os carros que compra em leilões ou de quem desistiu de manter um francês e simplesmente largou o carro lá. “Tem que ter documento, sem documento não tem negócio”, conta antes de mostrar o bloco de registros dos carros e o caderno onde anota as vendas.

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Cemitério dos Peugeot
Peugeot 206 é o carro chefe e com maior demanda de peças (Henrique Rodriguez/Quatro Rodas)

Naquele dia havia quatro Peugeot 206, um 306 Break e ainda dois Citroën C3 dos primeiros anos de produção e um Xsara Picasso. Com exceção do 306, todos nasceram a 90 km dali, também às margens da Dutra, na fábrica de Porto Real (RJ) – hoje comandada pela Stellantis.

Cemitério dos Peugeot
A desmontagem é feita ali mesmo, ao tempo (Henrique Rodriguez/Quatro Rodas)

Dois Renault Clio Sedan, que compartilhavam o motor 1.0 com o 206, diversificavam ainda mais o estoque de carros de origem francesa. Mas já houve modelos como Peugeot 106, 206 Escapade e os Citroën C5 e Xsara por ali.

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São, claramente, carros com passado sofrido. A pintura fosca, a lataria amassada e faróis opacos são uma constante nesses doadores de peças, além dos defeitos que ratificaram seus óbitos.

Cemitério dos Peugeot
Motor ainda preso ao câmbio automático de quatro marchas (Henrique Rodriguez/Quatro Rodas)

Era 10h quando Rodrigo chegou e clientes já esperavam por ele. Um, talvez mais assíduo, o xingou pela demora e por não atender o celular. Dois mecânicos também aguardavam para tentar negociar alguns módulos de ignição específicos. Não chegaram a um acordo, mas já saíram dali avisados de outros carros que chegariam nos próximos dias.

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Em meio aos carros estão espalhados parafusos, eixos, peças das suspensões e também motores, alguns inteiros ainda unidos ao câmbio, caso de um 2.0 com câmbio de quatro marchas que não era de nenhum dos carros ali. Ficam ali, em meio a uma lama de óleo com terra.

Cemitério dos Peugeot
Peças de interesse que sobram ficam penduradas na loja, que foi construída para ser um bar (Henrique Rodriguez/Quatro Rodas)

Outros motores já estavam sem componentes vitais, que são retirados ali mesmo, no chão, na frente do cliente. Alternadores, compressores do ar-condicionado e bombas estão entre os componentes mais procurados, por serem peças que, novas, custam caro perto do valor dos carros que receberiam elas para sobreviver por mais alguns anos.

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Na parte coberta do bar transformado em oficina ficam pendurados para-lamas (que custam entre R$ 150 e R$ 200), faróis, lanternas, peças plásticas dos motores (tampa de válvulas, caixas de filtro de ar e dutos, por exemplo), comutadores e partes do chicote elétrico. Tentam salvar tudo. “As pecinhas e os detalhes eu dou pro pessoal, dá pra ajudá-los também”, conta o proprietário.

Cemitério dos Peugeot
(Henrique Rodriguez/Quatro Rodas)

O negócio começou como um meio de manter um Peugeot 206 vivo usando um carro doador de peças.

“Antes eu vendia panelas, lençóis… Até o dia que eu comprei um Peugeotzinho, o Satanás, aquele 1.0, vivia quebrando aquela desgraça. Tanto que minha mulher, na época, falou que era o carro ou ela. Fiquei com o carro e depois conheci uma menina, e fomos comprando outros. Agora já são 10 anos comprando os carros e vendendo as peças “, conta Rodrigo.

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Cemitério dos Peugeot
Proprietário desistiu dos Peugeot e hoje anda de bicicleta (Henrique Rodriguez/Quatro Rodas)

Pelo menos uma coisa mudou na última década: enquanto tenta prolongar a vida dos velhos Peugeot e Citroën, Rodrigo só anda por ai em uma bicicleta Monark com uma caixa de som ligada na mochila.

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