Oswaldo Barros: o mecânico que viveu em Alfa
Uma homenagem ao especialista que manteve o cuore sportivo acelerado
* Oswaldo Barros faleceu em São Paulo no último dia 19 de julho. Para homenageá-lo, vamos relembrar este perfil publicado na QUATRO RODAS em abril de 2012.
Ao volante de seu conversível, um impecável Alfa Spider 1974, a imagem de Oswaldo Barros contraria qualquer estereótipo de idoso. O mecânico de 78 anos, dos quais 63 dedicados ao ofício, fala com entusiasmo de adolescente quando o assunto é Alfa Romeo, marca de sua devoção.
Já aos 15 anos, em São Carlos, interior de São Paulo, Oswaldo se aventurava nos carros. Mudou-se para a capital e, aos 20, era ajudante em uma oficina. Seis anos depois, ficou hipnotizado quando viu passar o recém-lançado FNM JK, o sedã nacional mais esportivo da época.
Na busca de oportunidades de ficar perto de sua paixão, conseguiu um emprego na única concessionária especializada de São Paulo, chamada “A Veloz”. Mas seu objetivo era abrir a própria oficina. Trabalhou por quatro anos e, em 1965, inaugurou sua mecânica especializada em Alfa.
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Não demorou para que Oswaldo conquistasse confiança entre os alfistas. “Em 1973 realizei o maior de todos os meus sonhos: comprei um JK”, afirma ele, que após a aquisição foi convidado a integrar a escolinha de pilotos em Interlagos.
O ano de 1988 foi marcante na vida do alfista, que incorpora o espírito do cuore sportivo (coração esportivo, em italiano), símbolo da marca presente na dianteira dos carros da fábrica: além da fundação do Alfa Romeo Clube do Brasil, marcou sua primeira vitória nas pistas de Interlagos. “Desde então, passei a correr com o número 88”, diz.
Dois anos depois, em 1990, ele resolveu dar um Alfa GTV 1973 para seu filho Fernando, para assim poder acompanhá-lo nas pistas, parceria que durou até 1999, quando Oswaldo pendurou o capacete.
Hoje, Oswaldo trabalha na preparação dos carros do colecionador Fabio Steinbruch (nota do editor: falecido em dezembro de 2012), com quem chegou a revezar o volante em provas mais longas. “Acabei fechando a oficina, mas não tive coragem de me desfazer do espaço, que utilizo até hoje para mexer no JK 2150 1970, no conversível Spider 1974 e no GTV 1973. Não tem um dia em que não mexo em um dos três.”
No dia a dia, o entusiasta é visto com um Alfa 145 1998 ou com seu 166 de 1999. E, para os que consideram a mecânica dos Alfa delicada e misteriosa, Osvaldo diz: “Basta ter um pouco de intimidade com a marca e se entender bem com o duplo comando no cabeçote”. Haja cuore.