Existem SUVs muito mais rápidos que o Cadillac Escalade-V, que chega aos 100 km/h em cerca de 4,4 segundos. O Porsche Cayenne Turbo GT cumpre o mesmo em 3,3 segundos e o Lamborghini Urus, em 3,4 segundos. Mas o norte-americano legítimo consegue este feito pesando quase 3 toneladas e sem comprometer o conforto de nenhum dos sete passageiros.
Tivemos a oportunidade de acelerar esse monstro no Campo de Provas da General Motors em Milford, no Michigan (EUA). Foi rápido, mas ajudou a entender um pouco a cultura dos enormes SUVs construídos sobre chassi de longarinas. Para muitos, isMas so é um SUV de verdade.
Junte a isso o motor V8 6.2 LT4, o mais potente da General Motors. Com o impulso extra de um compressor mecânico de 2,7 litros (enquanto a grande maioria dos fabricantes opta por turbocompressores) ele chega aos 690 cv e 90,4 kgfm. Na verdade, as válvulas de titânio, as bielas forjadas, os pistões de alumínio forjado, o cárter seco e a injeção direta também merecem o crédito.
O câmbio automático de 10 marchas e o sistema de tração integral capaz de jogar até 67% do torque para as rodas traseiras lidam com toda essa força. Eles são especialmente ajudados pelo chamado “V Mode”, o modo mais intenso do Escalade-V que deixa o ronco estridente, deixa a direção e a suspensão mais firmes e ainda libera o uso do controle de largada.
A arrancada é intensa. Mas assim que o SUV ganha velocidade o conforto se sobrepõe à esportividade. Os bancos enormes com função de massagem e a suspensão com molas pneumáticas não escondem a vocação para longas viagens.
Se desligar o V Mode, a suspensão mais macia ainda dará uma sensação de estar flutuando pelo asfalto. E isso valeu mesmo para os trechos com ondulações propositais na pista. Não poderia ser diferente em um Cadillac.
O tradicional luxo e requinte dos carros da marca se faz presente, mas com mais discrição por conta do interior todo preto. As duas telas curvas à frente do motorista se sobrepõem, com 17 polegadas para o quadro de instrumentos, emoldurado por mais 20 polegadas: à esquerda, informações do computador de bordo e à direita a central multimídia. Ambas têm resolução 4k e moldura de couro.
Por se tratar de um carro com até 3,40 m de entre-eixos (há opção com “só” 3,07 m) e 5,76 m de comprimento, o sistema de som AKG com 36 alto-falantes, com direito a caixas no encosto de cabeça, tem um sistema de intercomunicação. A lógica é simples: ele capta o som por microfones e reforça eles pelo sistema de som.
Lyriq, o outro oposto da linha Cadillac
Primeiro elétrico da Cadillac baseado na plataforma Ultium, o Lyriq nem sequer sonha em emitir um ronco como o do Escalade-V, mas ajuda a compensar as emissões do esportivo. O crossover ainda tem visual de carro-conceito, mas já começou a ser entregue aos primeiros compradores e poderia motivar a estreia da Cadillac no Brasil nos próximos anos.
Ainda que seja mais barato nos EUA, o Cadillac Lyriq é posicionado como rival dos Audi e-tron e Mercedes EQC, e não esconde como seu projeto é recente. Os faróis, por exemplo, são pequenos projetores enfileirados na vertical junto com as luzes diurnas de leds e a falsa grade retroiluminada causa um belo efeito em ambientes mais escuros.
Na traseira, as luzes das lanternas envolvem o vidro traseiro, se encontrando sob ele. E ainda tem grandes refletores verticais nas laterais da traseira. Definitivamente, é um design que não remete a nenhum outro carro. Na verdade, ajuda a disfarçar seus quase 5 m de comprimento e os quase 3,10 m de entre-eixos.
Mas o sistema para acessar a cabine, sim, é conhecido: aperta-se um botão, a porta faz um primeiro movimento automático e puxa-se uma alça, exatamente como no Ford Mustang Mach-E.
No painel, em vez de duas telas há apenas uma, curva e com 33 polegadas. Ela repete o bom aproveitamento visto no Escalade e ainda tem comandos para faróis e algumas funções na seção à esquerda do volante.
Não há ligação entre o painel e o console central, mas há uma prática gaveta com interior aveludado que, se aberta, integrará os dois. O console tem grandes porta-copos como manda a tradição dos Estados Unidos e um seletor giratório de cristal, que nada mais é do que um comando redundante para a central.
Ainda que a plataforma Ultium permita um grande intercâmbio de componentes entre carros elétricos de todas as marcas da GM, a Cadillac garante que tudo na cabine do Lyriq é exclusivo. Entram na conta até os apliques de madeira com textura feita a laser.
Por um momento, porém, parece que os Mercedes serviram de inspiração para os criativos da Cadillac. Não é só pelos comandos do banco estilizados no seu formato e colocados na porta, algo que muitas fabricantes já copiaram, mas também pelo seletor de marcha na haste à direita do volante.
Em movimento o acerto de suspensão confortável, mas que não limita uma tocada mais rápida empolga. Talvez a percepção seja favorecida pelo motor de 345 cv e 44,8 kgfm que traciona as rodas traseiras. Uma versão com tração integral, com a adição de um motor dianteiro para superar os 500 cv, será lançada futuramente.
O Cadillac Lyriq consegue uma autonomia de 483 km graças ao conjunto de baterias com 100,4 kWh instalado no assoalho. Com recarga a até 350W, é possível recuperar 320 km de autonomia em apenas 30 minutos.
Se o Escalade-V representa, em partes, o que é tradicional nos Cadillac, o Lyriq representa onde a Cadillac quer chegar nas próximas décadas. Aparentemente, sem se apegar a muitas tradições ou a muitos países: o Lyriq é fabricado nos Estados Unidos e na China, e pode pavimentar a estreia da Cadillac no Brasil de forma oficial nos próximos anos.