Deficitária, a Renault passou por uma reestruturação nos anos 1980 e o êxito dessa empreitada não seria possível sem a contribuição do projetista Patrick Le Quemént, responsável pelo desenvolvimento de um dos maiores sucessos da fabricante francesa: o Twingo.
Egresso da VW, Le Quemént aceitou um salário menor para comandar o departamento de estilo da Renault, mas impôs condições como ser independente do departamento de engenharia e ter voz no conselho diretor da empresa.
O primeiro fruto foi o Renault Clio, apresentado em 1990 para substituir Renault 4 e Renault 5. Le Quemént sabia que havia espaço para um automóvel ainda menor, voltado para o uso urbano: a inspiração veio do conceito W60, um monovolume desenvolvido pelo engenheiro Gaston Juchet e pelo projetista Jean-Pierre Ploué.
Aperfeiçoado por Yves Dubreuil, o projeto ganhou personalidade quando Le Quemént esboçou uma dianteira com faróis circulares semelhantes a olhos e uma grade que parecia sorrir.
Tendo a simpatia de Raymond Levy, CEO da empresa na época, mas sem muito dinheiro em caixa, o projeto só se viabilizou adotando o velho motor Cléon-Fonte, dos anos 1960, um antepassado dos motores utilizados no Brasil pelo Ford Corcel e Ford Escort, cuja potência estancava nos 55 cv.
Idealizado por Gérard Gauvry, o interior colorido era muito sofisticado e em nada lembrava um automóvel urbano de baixo preço.
Acomodava quatro adultos e trazia um painel central com instrumentos digitais e um banco traseiro deslizante, capaz de aumentar a capacidade do porta-malas.
Os encostos do banco traseiro eram reclináveis e transformavam o interior em um dormitório para dois adultos.
Houve uma divisão entre os executivos da Renault para a aprovação final do projeto: 50% desaprovaram, 25% apenas gostaram e 25% amaram de forma tão eufórica que o conselho decidiu assumir o risco de produzi-lo.
Um carro com tanta personalidade merecia um nome igualmente original: Twingo, amálgama dos gêneros musicais twist, swing e tango.
Apresentado no Salão de Paris de 1992, o Twingo chegou ao mercado em versão única e quatro cores vibrantes: vermelho coral, amarelo indiano, verde coentro e azul ultramarino.
O teto solar de lona era um dos poucos opcionais: novas cores foram oferecidas em 1994, mesmo período em que ele recebeu acionamento elétrico para vidros, travas e espelhos.
Também foi em 1994 que surgiu a versão Easy, com embreagem automática, sem pedal. No ano seguinte airbag duplo e ar-condicionado passam a ser opcionais.
Em 1996, surge o Twingo Matic, com câmbio automático de três marchas acoplado ao novo motor D7F de 1,1 litro, com comando de válvulas no cabeçote e 60 cv.
O milionésimo Twingo foi produzido em 1997, pouco antes da primeira reestilização: faróis, lanternas e interior foram redesenhados e o monobloco recebeu reforços estruturais para melhorar a proteção contra impactos dianteiros.
A virada do milênio trouxe a segunda reestilização, marcada pela adoção das rodas aro 14.
O motor D4F com quatro válvulas por cilindro e 70 cv chegou em 2001 e acelerava os 850 kg do Twingo de 0 a 100 km/h em cerca de 11 segundos.
A produção chegou a 2 milhões de unidades em 2002 e em 2004 a primeira geração recebe sua última reestilização antes do encerramento da produção na fábrica francesa de Flins.
Cerca de 2,6 milhões de Twingo de primeira geração foram produzidos na França, Espanha, Taiwan, Uruguai e na Colômbia, onde a última unidade deixou a linha de montagem em 2012, 20 anos após sua primeira aparição no Salão de Paris.
A Renault tentou, mas a segunda geração (2007) e a terceira (2014) não foram capazes de repetir o sucesso do Twingo original.
Ficha Técnica
Renault Twingo
Motor: gas., diant., transv., 4 cil. 1.239 cm3, injeção eletrônica, 55 cv a 5.300 rpm; 9,4 kgfm a 2.800 rpm
Câmbio: manual de 5 marchas, tração dianteira
Carroceria: monovolume, 3 portas, 4 lugares
Dimensões: compr., 343 cm; larg., 163 cm; alt., 142 cm;entre-eixos, 234 cm; porta-malas, 168 l; peso, 860 kg; pneus, 145/80 R13