Além de todos os problemas que a pandemia de Covid-19 trouxe, quem buscava comprar um carro zero-km nos últimos anos passou por maus bocados. Os preços dispararam, as filas de espera cresceram tanto quanto e vários lançamentos foram adiados.
Mas a maré virou, e os últimos meses foram marcados por intensa renovação no mercado brasileiro: as chinesas BYD e GWM ampliaram a oferta de veículos elétricos e híbridos, obrigando a concorrência a derrubar o preço de seus produtos. Mesmo entre os carros a combustão, até líderes de venda como a Jeep, entre os SUVs, precisaram dar descontos para manter a atratividade em meio a cada vez mais opções.
As montadoras, entretanto, têm alguns dos melhores calculistas do país, e é raro que algum automóvel seja precificado fora do ponto ideal. Some tudo isso ao fato de que a indústria tem variações cada vez menores de eficiência e o resultado só poderia ser valores (e custo/benefício) muito semelhantes, ao menos no papel.
Um tira-teima útil é este Menor Custo de Uso, onde vamos além do Pix necessário para tirar o carro da loja. Apuramos, também, o montante desembolsado em manutenção, seguro e consumo de combustível, a fim de chegar a um desempate.
Em 2024, incluímos a desvalorização do veículo, que se torna mais importante à medida que as assinaturas se popularizam. Também colocamos híbridos na conta (a fim, inclusive, de avaliar a diferença de custo frente aos carros convencionais) e, na mesma pegada, incluímos os elétricos mais baratos do mercado, com método próprio para calcular o gasto com a recarga.
O IPVA pode parecer inserido por preciosismo, dado que, em São Paulo (nossa base de cálculo), ele raramente variou, mas a repercussão da alíquota foi tira-teima em vários casos.
Os métodos de apuração estão destacados no box acima e os rankings de cada segmento foram definidos com base no valor mensal obtido.
Como o cálculo é feito
Combustível Média ponderada (70% urbano, 30% rodoviário), a partir de números do Inmetro. Preços (R$ 5,84/l gasolina e R$ 5,96/l diesel) são valores médios da Petrobras. A eletricidade (R$ 0,73/kWh-AC e R$ 2/kWh-DC) segue média da Aneel e apuração empírica, respectivamente. Calculamos o custo de rodar 15.000km, referência de distância média percorrida em um ano. |
Manutenção Despesas com as revisões previstas pelas fábricas para o primeiro ano ou 15.000 km. |
Seguro O valor publicado refere-se à menor cotação dentre todas as obtidas pela TEx, fornecedora do TELEPORT, software de gestão e multicálculo para corretoras. Perfil QUATRO RODAS: homem, casado, 35 anos, sem filhos. |
Custo mensal Obtido pela soma das despesas durante um ano dividido por 12 meses. |
Preço de tabela Os valores são os sugeridos pelas fábricas, coletados no final de abril. |
Os hatches com menor custo de uso em 2024
1º – Chevrolet Onix LT MT
Na categoria que reúne os carros mais em conta do país, o preço de tabela fala alto, mas quem optar por um Chevrolet Onix pode se dar bem a longo prazo: o modelo da GM é o mais caro do páreo e, mesmo assim, levou o prêmio com vantagem confortável. Não à toa, é a versão mais emplacada na família do hatch da marca, ainda que não seja a variante de entrada.
O mérito da vitória é da baixa desvalorização, de só 7,2% – praticamente a metade do resto dos concorrentes. Desse modo, quem vendesse um Onix LT manual após um ano economizaria cerca de R$ 580 comparado a quem fizesse o negócio com algum dos outros quatro.
2º – Hyundai HB20 Comfort Plus 1.0 MTPreço: R$ 89.490 |
3º – Fiat Mobi Like 1.0Preço: R$ 72.990 |
4º – Fiat Argo Drive 1.0Preço: R$ 86.990 |
5º – VW Polo TrackPreço: R$ 87.290 |
Em relação ao ano passado, o Renault Kwid saiu de cena por conta das vendas ruins, deixando-o fora do top 5. O Hyundai HB20 herdaria o primeiro lugar, mas perde valor comparado ao Onix, ainda que o vença em termos de seguro e manutenção.
Já no duelo entre Fiat Argo e Mobi, o carro menor fica na frente por meros R$ 19/mês, graças ao IPVA e seguro. Isso porque o Argo tem revisão mais barata e desvalorização nominalmente menor.
Por fim, o Volkswagen Polo Track fica em quinto dado o fato de não ser o mais barato em nada e ainda acumular a maior perda de valor.
Detalhe interessante é a proximidade dos concorrentes em termos de consumo: os gastos com gasolina estão todos entre R$ 6.200 e R$ 6.400 anuais. Um indicativo de quanto os times de engenharia das diferentes montadoras levaram seus motores 1.0 aspirados ao limite de eficiência que essa faixa de preço permite.
Os sedãs com menor custo de uso em 2024
1º – Toyota Corolla XEI
No ano passado, a Toyota venceu entre os sedãs com sua opção mais barata do segmento, o Yaris Sedan. O título de 2024 fica na casa, mas passa às mãos do Toyota Corolla XEi.
Ele custa R$ 158.950 (os oponentes vão de R$ 95.590 a R$ 128.990), mas a desvalorização do Corolla é tão pequena que chega a ser quatro vezes menor. É aí que vemos a transversalidade de nossas premiações: a Toyota, rotineiramente, fica entre as marcas mais bem avaliadas de Os Eleitos. A boa fama importa, e facilita a vida na hora de repassar o carro.
O preço de tabela encarece o IPVA e o seguro do Corolla XEi só é mais em conta do que o cotado para o Fiat Cronos. Logo, em geral, mantê-lo custa mais até a hora da revenda, quando o jogo vira completamente.
2º Hyundai HB20S Comfort Plus 1.0 MTPreço: R$ 95.590 |
3º Volkswagen Virtus ComfortlinePreço: R$ 128.990 |
4º Fiat Cronos Drive 1.3 MTPreço: R$ 99.990 |
5º Chevrolet Onix Plus LTZ ATPreço: R$ 117.580 |
O sedã da Fiat se manteve no ranking, mas tanto a apólice quanto a acentuada desvalorização fizeram-no descer do pódio. O Onix Plus “desonra” o irmão vencedor por também perder muito valor e fica em quinto.
O Volkswagen Virtus é o segundo mais caro da categoria (ainda que seja R$ 30.000 mais barato que o Corolla). A VW, porém, acaba fazendo bonito no aspecto de revenda, com 11% de desvalorização que deixam seu carro muito próximo ao HB20S (17%), o novo vice-campeão.
Para quem não estava sequer entre os sedãs mais vendidos de 2023, o HB20S excedeu expectativas ao beliscar a segunda posição. Mas que ele dê graças ao IPVA, já que o preço de tabela bem inferior do Hyundai reflete no imposto anual e garante que, por apenas R$ 33 mensais, seu custo de propriedade seja inferior ao do Virtus.
Os SUVs compactos com menor custo de uso em 2024
1º – Fiat Fastback T200
Como vemos, o preço de tabela do carro acaba repercutindo em gastos inevitáveis ao longo do tempo de propriedade. Logo, um carro mais barato é ainda mais em conta quando a diferença é acentuada, como no caso do Fiat Fastback T200, o utilitário cupê de entrada da marca italiana.
Entre os SUVs compactos, quase tudo é parelho: preço de seguro, consumo de combustível, desvalorização relativa… Mas a depreciação do Fastback é ponto fora da curva, ficando longe dos 20% que os outros carros circundam; tanto isso quanto (novamente) o IPVA em conta dão o título ao Fiat, ainda que sua manutenção seja salgada.
O peso desses aspectos no Fastback são corroborados pelos carros que completam o top 3: Nissan Kicks e Hyundai Creta são o segundo e terceiro modelo mais baratos e que menos perdem valor, respectivamente. E o Kicks também tem sua primeira revisão acima dos R$ 600.
2º – Nissan Kicks AdvancePreço: R$ 135.990 |
3º – Hyundai Creta LimitedPreço: R$ 152.690 |
4º – Volkswagen T-Cross ComfortlinePreço: R$ 160.900 |
5º – Chevrolet Tracker PremierPreço: R$ 170.140 |
No caso de Volkswagen T-Cross e Chevrolet Tracker, a lógica se inverte, pois ambos têm preço de tabela elevado e depreciação um pouco mais acentuada, compensando nos bons preços de seguro e revisão.
Considerando o poder aquisitivo de quem se dispõe a pagar mais de R$ 160.000 nesses SUVs compactos (com opções muito mais baratas disponíveis), dá para dizer que o custo de uso extra é bem pago – desde que as virtudes de cada um também satisfaçam seus donos, é claro.
Ainda vale ressaltar que, mais uma vez, os custos de combustível, sempre parelhos, ficaram longe de determinar alguma posição nos rankings.
Os SUVs médios com menor custo de uso em 2024
1º – Toyota Corolla Cross XRE
Corolla Cross tem destaques, mas o equilíbrio garante a média em seu favor
É difícil parar o Corolla: tal como nos sedãs, o título entre os SUVs médios cabe ao Toyota Corolla Cross XRE, ainda que por motivos diferentes. Esse é o primeiro ano em que híbridos têm uma categoria à parte, e todo top 5 dela é formado pelos utilitários desse porte, mas só o campeão dela teria lugar aqui (e não é surpresa quem ele é).
O Corolla Cross XRE, com seu 2.0 aspirado, desvaloriza mais do que o Jeep Compass Longitude 1.3 turbo flex. Mas seguro e manutenção do Toyota são menores e seu consumo já salva cerca de R$ 100 por mês.
2º – Caoa Chery Tiggo 7 Sport
Preço: R$ 134.990 |
3º – Jeep Compass Longitude T270 Flex
Preço: R$ 196.990 |
4º – Mitsubishi Eclipse Cross HPE
Preço: R$ 185.990 |
5º – Volkswagen Taos Comfortline
Preço: R$ 186.990 |
Entre os dois, vem o novo Caoa Chery Tiggo 7 Sport, que vende muito graças ao preço de SUV compacto: apenas R$ 134.990. O IPVA ajuda e o custo de manutenção não o atrapalha. A desvalorização de 13% é, nominalmente, leve.
O seguro é caro, mas tende a melhorar se o novo centro de distribuição da Caoa Chery diminuir o tempo de reposição de peças e ainda barateá-las, como prometido.
O Mitsubishi Eclipse Cross HPE, por outro lado, tem a manutenção mais cara de todas e a desvalorização, ainda que percentualmente adequada, é acentuada pelo preço. Números de seguro e consumo do 1.5 turbo, por outro lado, ficam na média.
A queda de 21% no preço do VW Taos Comfortline significa quase R$ 40.000 perdidos. A manutenção é grátis e sua apólice é a mais barata do páreo, de modo que acontece fenômeno inverso ao dos que têm um Corolla XRE: manter um Taos Comfortline é a opção mais atraente, até que, na hora de vendê-lo, as coisas se invertem.
As picapes com menor custo de uso em 2024
1º – Volkswagen Saveiro Robust CS
Apesar do seguro alto, Saveiro aproveita IPVA menor e Strada com revenda ruim
O segmento mais diverso do Menor Custo de Uso é o das picapes, então, mais do que um mérito subjetivo, é importante contextualizar os números.
Coube às duas caminhonetes compactas os primeiros lugares, mas, se nas vendas a Fiat Strada esbanja, a Volkswagen Saveiro dá o troco aqui.
Suas versões mais vendidas são de cabine simples, com IPVA mais barato do que o restante desse especial no estado de São Paulo; só 2%. A Saveiro Robust é mais um veículo que vence pela desvalorização, que é duas vezes e meia menor do que a da Strada Endurance, com cerca de R$ 15.000 a menos de perda após um ano.
2º – Fiat Strada Endurance 1.3 CPPreço: R$ 103.490 |
3º – Fiat Toro Freedom 1.3 FlexPreço: R$ 156.990 |
4º – Ram Rampage Laramie DieselPreço: R$ 262.990 |
5º – Toyota Hilux SRX PlusPreço: R$ 334.890 |
Só assim para que ela saísse vencedora, já que bebe mais e tem manutenção mais cara. Mas nada como o seguro, que é quase o dobro e, como no Tiggo 7 Sport, pode estar relacionado ao fato de esse ser um modelo novo. Como os cálculos das seguradoras ainda estão sendo calibrados, a tendência é que sejam “arredondados” para cima.
Fiat Toro e Ram Rampage têm a mesma base, com mudanças na carroceria e interior. Mas o 2.0 turbo diesel da Rampage Laramie a encarece e prejudica a revenda, quando a diferença para a Toro Freedom 1.3 turbo flex fica em torno dos R$ 13.000. O IPVA bem maior da Rampage também ajuda a deixá-la em quarto lugar.
Única média do páreo, a Toyota Hilux SRX Plus tem gastos com combustível até menores que os da Toro, mas tem, de longe, o maior seguro e a maior perda de valor do Menor Custo de Uso de 2024. É soma equivalente a um carro zero-km, e nisso o quinto lugar vem naturalmente.
Os híbridos com menor custo de uso em 2024
1º – Toyota Corolla Cross XRX
E deu Corolla de novo. Desta vez, o Toyota Corolla Cross XRX Hybrid que leva a taça na estreia da categoria dedicada aos híbridos no Menor Custo de Uso. Mas foi por pouco, dado que o GWM Haval H6 HEV (também híbrido convencional) vem logo atrás.
Aqui, o consumo de combustível bem melhor do Corolla Cross determinou sua colocação. São 17,8 km/l, contra 13,8 km/l do Haval H6, cuja revisão custa o dobro.
É curioso que o carro-chefe da GWM desvalorize menos não só que o Corolla Cross, mas que o Corolla Altis Hybrid, que fica em terceiro. O consumo do sedã (18,5 km/l), vale citar, representa economia de R$ 1.645 no ano, que não compensam sua perda acentuada na revenda.
2º – GWM Haval H6 HEVPreço: R$ 214.000 |
3º – BYD Song PlusPreço: R$ 229.800 |
4º – Toyota Corolla Altis HybridPreço: R$ 198.890 |
5º – Caoa Chery Tiggo 8 PHEVPreço: R$ 239.990 |
Os híbridos plug-in decepcionaram. O preço maior dos PHEV reflete no IPVA, mas o BYD Song Plus até que tem a menor depreciação dessa categoria jogando a seu favor.
O seguro do Song Plus, todavia, é muito maior do que de todos os outros – o que é parcialmente ligado ao fato de o SUV médio ser importado e ter mecânica mais complexa. O Caoa Chery Tiggo 8 Pro também é assim, mas tem apólice bem menor.
A vantagem no seguro é compensada pelo consumo fraco do Tiggo 8 (11 km/l), que representa até R$ 3.000 a mais de gastos no ano. E frente ao Song Plus, a desvalorização é 4% maior, que implica em cerca de R$ 10.000 de diferença na queda do preço depois de 12 meses.
Note, entretanto, que, do Toyota Corolla Cross ao Tiggo 8, são R$ 818 de diferença por mês. Pro-porcionalmente, é a categoria mais acirrada deste especial.
Os elétricos com menor custo de uso em 2024
1º – Renault Kwid E-Tech
No outro segmento que estreia no Menor Custo de Uso, consideramos carros elétricos até R$ 200.000, a fim de destacar os modelos que vêm ganhando volume digno de veículos comuns nas ruas. Mesmo assim, tudo é muito novo no mundo dos EVs, e números frios podem confundir.
O Renault Kwid E-Tech é o segundo carro mais barato de se manter dos 35 que existem no segmento. Seu trunfo é, claro, o preço da eletricidade, principalmente quando utilizada a recarga doméstica. Mas, por ser o elétrico mais barato, ganha fôlego no IPVA e o compartilhamento de muitas peças com o Kwid 1.0 derruba o preço do seguro se comparado aos outros. Além disso, sua manutenção só é mais cara que a do BYD Dolphin Mini, segundo colocado, cuja primeira revisão acontece fora do período de cálculo do nosso regulamento.
2º – BYD Dolphin MiniPreço: R$ 115.800 |
3º – BYD Dolphin GS 180EVPreço: R$ 149.800 |
4º – GWM ORA 03 SkinPreço: R$ 150.000 |
5º – JAC e-JS1Preço: R$ 126.900 |
O Kwid ainda traz a menor desvalorização, mas são números bagunçados pelo desconto de R$ 50.000 que a Renault aplicou ao carro nos últimos meses. Simultaneamente, Dolphin e Dolphin Mini ainda carecem de maior volume para que a depreciação seja mais precisa. Já o GWM Ora 03 Skin perde para seus maiores rivais em aspectos como a revenda, manutenção, consumo de eletricidade e seguro, deixando em quarto.
O JAC e-JS1, com a presença reduzida da marca e exigência de usar adaptadores para se conectar aos eletropostos nacionais, é o que mais perde valor e que tem a apólice mais elevada. Mas, de longe, os cinco EVs são os que menos gastam com combustível, com três híbridos vindo em seguida. 80% do top 10 nesse aspecto.