Toyota Etios
Em versões hatch e sedã e motores 1.3 e 1.5, ele é a porta de entrada da Toyota no segmento dos pequenos
A Toyota acalentava a ideia de ter um compacto no Brasil, condição para alavancar o volume de carros comercializados, desde o fim dos anos 90. Eis que agora, finalmente, chega o Etios, um modelo talhado para prencher a lacuna de então. A questão que chega a reboque é se durante a longuíssima gestação sua concepção teria acompanhado os anseios de um mercado em plena transformação, como é o caso do nosso. Ele traz como proposta ser um veículo para mercados emergentes, perfil que o Brasil, o quarto maior mercado do planeta, está deixando para trás. Fábricas que estão chegando agora ou renovando sua linha estão aproximando sua oferta das opções que possuem nos países desenvolvidos. O caso mais emblemático é o da Hyundai com o HB20, um compacto que traz o que há de mais novo no segmento. Mas há também os exemplos da Ford, com New Fiesta e EcoSport, da Peugeot, com o 208, e de sua conterrânea Citroën, com o C3.
A própria Toyota já deu sinais de ter entendido essa nova realidade ao reavaliar o posicionamento do carro no lançamento. Há três meses, quando fez a avant-première do Etios no Japão, a empresa falava em ter preços competitivos. Mas sem fazer concessões ao mercado. Ainda sem valores definidos, executivos estimavam preços a partir de 35 000 reais. O carro apresentado na ocasião vinha com duplo airbag, ABS, ar-condicionado, CD player e vidros e travas elétricos como itens de série. No lançamento, no fim do mês passado, porém, o preço anunciado para a versão de entrada foi de 29990 reais, tendo como destaque, em termos de equipamento, airbags frontais, porta-luvas ventilado e alertas para afivelamento do cinto de segurança e abertura das portas.
O Etios, oferecido nas versões hatch e sedã, tem duas opções de motor flex, 1.3 16V e 1.5 16V, com câmbio manual (pelo menos, por enquanto) e sem refinamentos como comandos variáveis e suspensões independentes nas quatro rodas. Entre os pacotes de equipamento há quatro níveis para o hatch (Etios, X, XS e XLS) e três para o sedã (X, XS e XLS). Recursos como ABS e direção elétrica só estão disponíveis a partir do nível X, no qual ar-condicionado ainda é opcional. O pacote XLS (apenas nas versões 1.5) acrescenta rodas de liga leve, faróis de neblina, chave com controle remoto, alarme, desembaçador traseiro, sistema de som e vidros, travas e abertura do porta-malas elétricos.
Se optasse por oferecer um produto da mesma categoria que as rivais mencionadas anteriormente, a Toyota poderia lançar aqui o compacto Yaris, um modelo que, apesar de ser um veículo de entrada nos mercados desenvolvidos, conta com suspensão independente e freios a disco nas quatro rodas, motor VVTi (com comando de válvulas variável), câmbio automático e diferenciais como sensores de pressão nos pneus, sistema de fixação de cadeirinhas de bebê, cintos de segurança de três pontos para todos ocupantes, ESP e nove airbags de série, desde a versão mais barata.
No que diz respeito aos preços anunciados, no entanto, pode-se dizer que o Etios é uma opção competitiva. Entre os hatches equipados com motores acima de 1.0, apenas o Fiat Uno 1.4 Economy custa menos que os 29990 reais cobrados pela Toyota pelo Etios 1.3. O Fiat sai por 28 180 reais. E, entre os sedãs, o Etios 1.5 X (36 190 reais) tem preço intermediário ao de rivais como Chevrolet Cobalt 1.4 LS (37 759 reais) e NissanVersa S (33 490 reais), em versões básicas.
É bonito ser feio?
Se a lista mais anêmica de equipamentos e recursos pode ser justificada pelo custo, mais difícil é explicar a diferença de estilos. Compare o Etios com o Yaris. O Yaris é bem mais bonito, elegante, discreto. Será que o custo de produção de um carro bonito é mais caro? Depende. Às vezes sim. Mas não se pode dizer que, no caso do Etios, o estilo foi ditado pelo departamento financeiro: ele não economiza vincos na carroceria, vidros curvos e outros recursos estéticos que exigem algum desprendimento no orçamento. Justiça seja feita, o Etios não está sozinho no bloco dos visualmente menos dotados voltados para os mercados emergentes.
Por outro lado, ao volante, o Toyota nos surpreendeu positivamente. O Etios se revelou um carro bem acertado, com sua direção leve, mas rápida e precisa, e a suspensão com uma calibragem equilibrada, que concilia dirigibilidade e conforto. Sua carroceria firme contribuiu para a sensação de bem-estar a bordo, seja pela estabilidade nas manobras, seja pelo baixo nível de ruído. Na pista de testes, o Etios hatch 1.3 acelerou de 0 a 100 km/h em 12,8 segundos, com as médias de consumo de 8,7 km/l na cidade e 11,2 km/l na estrada. Comparando com o principal rival, o VW Gol 1.0, ele foi mais rápido e manteve equilíbrio no consumo. O VW fez de 0 a 100 km/h em 16,6 segundos e ficou com as médias de 8,2 km/l no ciclo urbano e 12,6 km/l no rodoviário. O HB20 foi avaliado nesta edição, mas as condições do teste não seguiram os padrões de QUATRO RODAS.
Internamente, a cabine acomoda bem quatro adultos. O espaço é o mesmo nas duas carrocerias, apenas a capacidade do porta-malas é diferente. No hatch cabem 270 litros e no sedã, 562 litros. O acabamento tem altos e baixos. A parte horizontal do painel, que abriga o console central, as saídas de ventilação e a tampa do porta-luvas, é de boa qualidade, com o mesmo material, cor, textura e grafismo do Toyota Corolla. Os problemas começam na seção superior, onde o revestimento é de menor qualidade. O velocímetro e o conta-giros são formados por um visor de plástico com as escalas pintadas e os ponteiros correndo por trás, em um espaço vazio (que parece ainda mais oco quando a luz entra e bate no fundo). Além disso, durante o teste, os instrumentos mostraram-se imprecisos, com erros de até 10% no velocímetro.
Abaixo dos mostradores há um compartimento para as luzes-espia e o hodômetro digital de difícil leitura por causa do reduzido tamanho e do ofuscamento pela luz ambiente. As laterais das portas são bem-acabadas. As colunas têm revestimento e o material do teto é de boa qualidade. Mas o tecido dos bancos é simples. Entre os recursos a bordo, aprovamos o volante com regulagem de altura, a saída de ventilação dentro do porta-luvas, os espelhos embutidos nos dois para-sóis e os 17 porta-objetos. Mas, em contrapartida, reprovamos os cintos de segurança sem ajuste de altura.
Pós-venda ampliado
A Toyota aposta muito na justificada boa fama de seu pós-venda para o sucesso do Etios. Levando em conta que a partir de agora suas concessionárias terão um fluxo maior de clientes – o que poderia prejudicar a qualidade do atendimento -, a Toyota empreendeu um projeto com a rede que aumentou em 52% o número de boxes de trabalho nas oficinas, 37% o quadro de técnicos e 64% o de consultores de serviços. O crescimento ocorreu basicamente com as concessionárias já existentes. No período, surgiram apenas dez revendas, totalizando 132. Além disso, a marca ampliou as garantias para o consumidor, inaugurando um plano de revisões com preços fixos e criando kits de manutenção contendo as peças de troca mais frequentes e a mão de obra necessária para a substituição com valores predeterminados. A garantia de fábrica é de três anos.
Atualmente, a Toyota é a oitava marca do país, respondendo por 2,7% do mercado de automóveis e comerciais leves. Com o Etios, em 2013, ela espera alcançar 4% de participação – a fábrica de Sorocaba (SP) tem capacidade para produzir 70000 unidades/ano – e, até 2020, quer chegar a 10%. Para isso, a marca terá de ampliar sua linha e entrar em outros segmentos, em ritmo mais acelerado do que o que embalou o Etios. Cabe a ele abrir novos caminhos. Como seu avô, o jipe Toyota Bandeirante, que migrou para cá no fim dos anos 50.
DIREÇÃO, FREIO E SUSPENSÃO
A direção é rápida e precisa. os freios funcionam bem e a suspensão é competente.
★★★★
MOTOR E CÂMBIO
O conjunto mecânico foi bem desenvolvido para o carro, que apresentou rendimento satisfatório.
★★★★
CARROCERIA
A montagem é bem- feita, mas há materiais que parecem ter qualidade inferior. O estilo não empolga.
★★★☆
VIDA A BORDO
O carro é agradável de dirigir, tem espaço para quatro, mas peca em pontos como os instrumentos, difíceis de visualizar.
★★★☆
SEGURANÇA
Tem duplo airbag, na versão básica, e AbS, a partir do pacote X. Mas os cintos não contam com ajuste de altura.
★★★☆
SEU BOLSO
Com três anos de garantia, preços competitivos e pós- venda que promete fazer a diferença, o Etios deve ser uma boa compra racional.
★★★★
VEREDICTO
O Etios não seduz pelo estilo. Mas é uma opção interessante para quem faz escolhas racionais. Ele tem três anos de garantia e herda a boa reputação da Toyota em robustez, qualidade técnica e serviços pós-venda.
>> Confira aqui o Desempenho do carro
>> Confira aqui a Ficha Técnica do carro