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Sapatinho de cristal?

Por Péricles Malheiros Com menos de 3 000 km, detectamos a primeira bolha no pneu do Golf, surgida desacompanhada de qualquer relato de impacto significativo. Seguindo a recomendação da rede VW, colocamos o estepe para rodar e, no seu lugar, guardamos o conjunto danificado. Pouco antes dos 10 000 km, dessa vez após a passagem […]

Por Redação
28 jul 2014, 10h03
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  • Por Péricles Malheiros

    Com menos de 3 000 km, detectamos a primeira bolha no pneu do Golf, surgida desacompanhada de qualquer relato de impacto significativo. Seguindo a recomendação da rede VW, colocamos o estepe para rodar e, no seu lugar, guardamos o conjunto danificado. Pouco antes dos 10 000 km, dessa vez após a passagem por uma lombada sem sinalização, outra bolha nos levou à compra de um par novo (por R$ 1 020) – aproveitamos para trocar o estepe danificado pelo pneu usado sem bolha. Aos 34 986 km, um novo calombo (novamente, surgido sem motivo especial) nos obrigou a uma segunda utilização do estepe. Menos de 1 000 km depois, outra bolha nos levou à compra de um segundo par de pneus (por R$ 876) e à recolocação de um usado no estepe.

    O técnico da Valetão, loja da Pirelli onde compramos os pneus nas duas ocasiões, explicou que o modelo trazido pela fábrica tem especificação ligeiramente diferente da original: “A Pirelli só importa o Cinturato P7 225/45 R17 94W e o seu Golf saiu da fábrica com Cinturato P7 225/45 R17 91W. A diferença está no índice de carga, determinado pelos números finais. Não há problema em utilizar o pneu de reposição porque a sua especificação é superior à do original”. O fato é que hoje o nosso Golf está com quatro pneus 94, pois os 91 foram aposentados em decorrência das bolhas nas laterais. Seriam, então, os pneus originais inadequados para o Golf rodar em solo brasileiro?

    Nosso A 200 tem uma história parecida com a do Golf. Mas é bom lembrar que os seus pneus são do tipo Runflat, ou seja, são reforçados para rodar mesmo furados. Por serem mais duros, funcionam bem em locais com asfalto regular, o que, definitivamente, não é o caso do Brasil. Estes pneus especiais são bem mais caros que os convencionais: no nosso caso, R$ 1 466 ante R$ 474 dos do Golf. Nosso A 200 foi adquirido com pneus Dunlop e todos já foram trocados – o segundo par é a vítima mais recente, sendo substituído no dia do fechamento desta edição, novamente pelo surgimento de bolhas. Assim como no Golf, apenas um pneu do A 200 se aposentou após um acidente. Os demais ganharam as erupções durante uso normal, sem choque com nenhum obstáculo mais severo.

    Resumindo: todos os oito pneus danificados (quatro no Classe A e quatro no Golf) tinham índice de carga 91. Intrigados, perguntamos aos fabricantes dos pneus e dos carros se o índice mais leve não poderia ser o responsável pelas bolhas. Veja a resposta de cada uma das partes envolvidas a seguir:

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    VOLKSWAGEN A fabricante do Golf disse apenas não ter em sua rede um volume de reclamações que indique uma fragilidade dos pneus com índice de carga 91. Também foi evasiva ao explicar que uma bolha surge do impacto com cantos vivos de um buraco, por exemplo. Disso, claro, já sabíamos.

    PIRELLI A marca dos pneus do Golf reconheceu o que relatamos: o mercado de reposição tem apenas o pneu com índice de carga 94, mas alegou estar às vésperas de iniciar a importação do 91 – o 94, aliás, é produzido no Brasil. A Pirelli esclarece que optou pela produção local do 94 para atender à grande maioria dos carros fabricados na América Latina. Mais um forte indício de que as condições do piso no Brasil exigem um pneu mais forte.

    MERCEDES A marca deu resposta parecida com a da VW: a rede não reportou reclamações sobre o tema em volume que caracterize uma inadequação do produto. Mas foi além: “Não há como negar que o raciocínio da QUATRO RODAS está correto. Portanto, não podemos descartar a hipótese de que o 94 seja mais indicado para o Brasil do que o 91. Mas precisaríamos analisar os pneus danificados para ver se temos elementos que nos permitam chegar a uma resposta mais conclusiva. Apesar de a rede ainda não ter nos sinalizado tal fragilidade, a experiência da revista será levada em conta. Se for o caso, podemos alterar a especificação a fim de evitar transtornos ao cliente”, disse Nivaldo Mattos, gerente de pós-venda.

    DUNLOP A fabricante de pneus, há apenas dois anos no Brasil, disse não ter participado do processo de homologação do Classe A . Deu ainda outra informação que corrobora nossa suspeita: “Analisamos os carros vendidos no país para determinar quais especificações deveriam ter os produtos a serem oferecidos no mercado local. Hoje, com o catálogo já definido, todos os pneus com medida próxima a 225/45 aro 17 têm índice 94”, disse Hugo Terazaki, supervisor técnico de produto. A Dunlop reforçou que, apesar da construção mais robusta dos pneus Runflat – e de suas inquestionáveis vantagens diante dos convencionais –, eles se mostram um tanto sensíveis ao encarar nosso piso tão ruim.

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