A associação com a Ferrari, em 1997, fez muito bem à Maserati (que foi comprada pela Fiat, dona da Ferrari, quatro anos antes). A Maserati, que parecia fadada a desaparecer, renasceu posicionando-se no nível mais alto do segmento dos esportivos de luxo. Hoje revigorada, a marca quer crescer. Seu objetivo é aumentar as vendas, que ano passado ficaram em 6230 unidades, volume próximo ao da Ferrari, mas distante das montadoras premium alemãs (Audi, BMW e Mercedes), com modelos menos exclusivos. O primeiro lançamento nesse sentido é o sedã Ghibli, lançado no Salão de Xangai deste ano e mostrado aqui em primeira mão.
O nome, emprestado de um vento do Deserto do Saara, é lendário dentro da marca italiana, que fará 100 anos em 2014. O Ghibli original era um cupê de dois lugares, nascido em 1966, que se perfilava como concorrente de carros como Ferrari Daytona e Lamborghini Miura, equipado com motor V8 4.7 de 330 cv. Depois desse, houve o Ghibli II, lançado em 1992, um cupê V6 que teve algumas unidades vendidas no Brasil, com a abertura do mercado aos importados, dois anos antes. Agora, o “Ghibli III” é um modelo desenvolvido sob medida para o segmento onde se encontram sedãs de luxo como Audi A6, BMW Série 5 e Mercedes Classe E (em suas versões topo de linha). O novo Ghibli tem 4,97 metros de comprimento, 2,99 de entre-eixos e todos os recursos esperados em sedãs dessa categoria, como ar-condicionado bizona, central multimídia, faróis de xenônio e ESP. Na Europa, ele é oferecido em quatro versões, resultado da combinação de três motores V6 (dois a gasolina, com 330 e 410 cv, e um diesel de 275 cv) e dois conjuntos de transmissão, 4×2 (tração traseira) e 4×4 (com diferencial central eletrônico), sempre com câmbio automático de oito marchas. Por aqui, ainda não existe previsão de lançamento, segundo a importadora Via Italia, representante da marca.
Apesar das inovações capazes de fazer os fundadores da marca, os irmãos Alfieri, revirarem no túmulo – como o motor a diesel (o primeiro na história da Maserati) e a tração integral -, a boa notícia para os fãs é que as mudanças não comprometeram o DNA da marca (que fica em Modena, mas usa como símbolo o tridente de Netuno, da cidade de Bolonha). No design, o Ghibli guarda estreita semelhança com o sedã topo de linha da marca, o Maserati Quattroporte, com a grade dianteira (que remete também aos modelos dos anos 50, como o A6 GCS), as saídas de ar nas laterais e as colunas traseiras que formam triângulos no encontro com os para-lamas traseiros. Internamente, o painel tem instrumentos com o tradicional fundo azul e o clássico relógio analógico, no alto do console, e sua qualidade percebida é naturalmente superior – com destaque para o couro Poltrona Frau (curtume da Ferrari). A madeira do acabamento é imitação, mas o motorista pode encomendar o revestimento com fibra de carbono, em seu lugar. O espaço da cabine é amplo, mas os bancos dianteiros poderiam apoiar melhor o corpo nas curvas e o traseiro, acomodar uma pessoa com mais conforto na posição central.
Em nosso test-drive em Siena (Itália), dirigimos duas versões: Ghibli (330 cv) e Ghibli S Q4 (410 cv, 4×4). O desempenho é de nível superior nas duas. Isso não impede, porém, que ao pisar fundo no acelerador se sinta algum atraso na resposta, pelo conhecido efeito de turbo-lag, na versão de 330 cv (mostrada nas fotos), que se dissipa por completo acima das 2 500 rpm. Segundo a fábrica, o Ghibli acelera de 0 a 100 km/h em 5,6 segundos e o Ghibli S Q4 faz o mesmo em 4,8 segundos. O câmbio de oito marchas tem cinco modos de operação: Auto Normal, Auto Sport, Manual Normal, Manual Sport e Ice (este para uso em condições de baixa aderência). Nos modos Normal (automático ou manual, com trocas no volante), o Ghibli se comporta como um sedã de luxo, com baixos índices de ruído e vibração. Nos modos Sport, ele apresenta reações mais rápidas e comunica com maior nitidez o que se passa com o motor e a transmissão. A direção hidráulica se ajusta às situações, variando peso e respostas, e a suspensão (do tipo duplo A na frente e multilink atrás) vem opcionalmente com o sistema inteligente Skyhook, que pode transformar o confortável sedã em um esportivo visceral, enrijecendo todo o conjunto. Na posição Normal o Ghibli roda com suavidade e na Sport ele se comporta como um carro de turismo (o Skyhook equipava as duas versões fornecidas para teste). Seja qual for a opção selecionada, o Ghibli é um carro sempre equilibrado, graças à elevada rigidez da carroceria e à distribuição de peso entre os eixos, que, segundo a fábrica, é de 50/50 nas versões 4×2 e de 51/49, na 4×4.
A Maserati aposta alto no sucesso do novo Ghibli, pois ele deve custar 130 000 euros, ou 60 000 a menos que o Quattroporte. Com ele à frente da sua linha, que deve contar com outros reforços nos próximos anos, como a nova geração do Gran Turismo e um SUV nos moldes do Porsche Cayenne, a fábrica espera chegar a 50 000 unidades vendidas até o fim de 2015.
VEREDICTO
O Ghibli tem tudo para agradar, pois é um autêntico Maserati com preço mais em conta que o habitualmente encontrado nos modelos da marca.