Os chineses começaram a vida no Brasil batendo à porta do segmento básico, tentando seduzir gente cansada de carros pelados. Sem marcas fortes, eles se apoiaram num argumento: oferecer mais conteúdo por preço menor (ou igual) que os rivais. Parece infalível, não? Não é bem assim. Os números mostram que não houve uma invasão asiática e que eles não incomodam os campeões. A desconfiança em relação aos modelos made in China ainda é um entrave a ser superado.
Chery e Lifan decidiram elevar as apostas e investir numa categoria ascendente por aqui. Ambas miraram nos SUVs, numa investida contra Ford EcoSport e Renault Duster, e até em modelos mais caros, como Hyundai Tucson. Na faixa dos 50 000 reais, fazem frente mesmo a quem cogita um Honda CR-V usado.
O Tiggo marcou a estreia da Chery no Brasil, no segundo semestre de 2009, quando havia a intenção de encarar a geração anterior do Eco Sport. Após quatro anos no mercado, a marca já conta com seis modelos no portfólio e acaba de apresentar a reestilização do utilitário. A reforma trocou a aparência do SUV sem incluir uma evolução no pacote de equipamentos. E isso pode custar caro ao Tiggo.
À época, o chinês mostrava-se convidativo. Hoje, sua lista de série, que inclui airbags, chave com controle remoto e rodas de liga, é comum até em carros mais baratos. Também não havia o Lifan X60, que chega simultaneamente custando praticamente o mesmo e com uma lista de itens bem mais recheada.
X60 e Tiggo compartilham qualidades e defeitos. Ambos ficam devendo esmero no acabamento e têm deficiências ergonômicas já resolvidas há décadas pela indústria automobilística consolidada. Uma delas é a proximidade excessiva entre as alavancas de câmbio e do freio de estacionamento. Seu antebraço irá esbarrar no baú entre os bancos dianteiros toda vez que fizer uma troca de marchas.
Por 50 000 reais, sedãs como o New Fiesta e o HB20S vêm com colunas de direção escamoteáveis em altura e profundidade. A dos chineses é regulável apenas na vertical. No X60, não encontrei uma posição de dirigir na qual meu joelho deixasse de esbarrar na capa inferior do painel. Não há sequer ajuste de altura no assento. Minha esposa não aguentou o peso da tampa do porta-malas do Lifan.
O Tiggo mostra um avanço de qualidade nos plásticos. Há acabamento imitando aço escovado nas molduras centrais do painel e novas texturas em dois tons na parte interna das portas.
O Lifan vem de série com uma tela sensível ao toque que exibe as imagens do DVD, GPS, sistema de som e da câmera traseira quando a ré é engatada. Seu quadro de instrumentos tem velocímetro digital – o do Chery é analógico – e o volante oferece melhor empunhadura. A direção e os bancos são forrados por revestimento que simula couro, enquanto o Tiggo usa tecido. Os créditos derradeiros do X60 vêm com o sistema Isofix, lanternas traseiras de led e faróis com acendimento automático. O Chery se defende com faróis elétricos e um retrovisor interno com bússola, altímetro e barômetro integrado.
Uma vantagem do Tiggo sobre o X60 é o motor maior. Conta com um 2.0 de 138 cv, enquanto o rival utiliza um 1.8 de 128 cv. A cavalaria extra provocou uma pequena diferença nos testes de pista. O Chery foi de 0 a 100 km/h em 11,8 segundos, ante 13,4 do Lifan. As retomadas foram parecidas, com exceção das tomadas de 80 a 120 km/h, situação típica de ultrapassagem em uso rodoviário. O Lifan X60 levou a melhor, marcando 19,3 contra 22,5 segundos do rival. Em frenagem e consumo, houve praticamente um empate técnico, já que nenhum dos dois se destacou. Outra condição de igualdade está na alimentação: ambos consomem gasolina.
Apenas a Chery dispõe da tecnologia flex em parte de sua linha (os motores 1.3 e 1.5 do Face, S-18 e Celer). Além disso, só ela investe em uma fábrica no Brasil, localizada em Jacareí (SP). A Lifan traz o X60 do Uruguai e precisa deixar para trás o passado de insucesso da parceria com a Effa Motors. No final das contas, as duas marcas ainda têm muito a provar para o consumidor.
Lifan X60 DIREÇÃO, FREIO E SUSPENSÃO
Direção é lenta. O ABS não responde bem em terrenos acidentados.
★★★☆
MOTOR E CÂMBIO
O 1.8 é competente, os engates são imprecisos e o escalonamento de marchas é bom.
★★★
CARROCERIA
Design conservador não desagrada, mas parece mais antigo do que é.
★★★★
VIDA A BORDO
É agradável, mas a baixa qualidade dos materiais incomoda bastante.
★★★★
SEGURANÇA
Tem o mínimo exigido para 2014. Poderia ter mais, como controle de tração e estabilidade.
★★★☆
SEU BOLSO
Por quase o mesmo preço do Tiggo, oferece pacote mais recheado.
★★★★
Chery Tiggo DIREÇÃO, FREIO E SUSPENSÃO
Direção lenta e suspensão imprecisa nas curvas.
★★★☆
MOTOR E CÂMBIO
Conjunto superior ao do X60, mas fica devendo potência em giro alto.
★★★☆
CARROCERIA
A troca de visual não o atualizou. Continua guardando semelhança com o antigo RAV4.
★★★★
VIDA A BORDO
Não desaponta, mas o conforto é o mesmo que há em carros de segmentos inferiores.
★★★☆
SEGURANÇA
Precisa melhorar em estabilidade.
★★★☆
SEU BOLSO
Preço não é seu forte, embora custe menos que o EcoSport. O Lifan é bem mais equipado.
★★★
VEREDICTO
Os dois valem-se de uma lista de equipamentos recheada, mas o X60 leva a melhor com larga vantagem. Contudo, acima dos 50000 reais, parte da clientela não está disposta a fazer concessões de qualidade e de atendimento da rede. O tempo dirá se estão à altura do desafio. Por ora, deve-se pensar duas vezes antes de fechar a compra.
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