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Opinião: todo carro é, foi ou será feio

Decidir o que é feio e o que é bonito cabe a cada um. Mas sabe aquele choque de ver um carro com desenho revolucionário?

Por Henrique Rodriguez Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
30 jun 2024, 17h00
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  • Estou chegando a um ponto em que posso dizer que passei metade da minha vida escrevendo sobre carros. São 31 anos de idade e comecei nisso aos 16, escrevendo em um blog inspirado pelas discussões acaloradas em uma comunidade do Orkut sobre carros. O nome? Quatro Rodas. Mero detalhe, não era a comunidade oficial.

    Aquele espaço era um bom lugar para debater sobre carros, situações e comentar, também, o que a imprensa dizia e comparar os veredictos. Inclusive havia contrabando de fotos dos carros que apareciam nas revistas antes mesmo do lançamento. Aquilo era munição para longas discussões, inclusive sobre o design dos carros.

    Não era tão diferente do que acontece hoje com comentários em redes sociais, exceto pelo fato de algumas dezenas de frequentadores mais assíduos já conhecerem os gostos dos outros. No Facebook ou no Instagram, você nunca mais reencontra aquele que tripudiou sua opinião. Talvez por isso tenho amigos, até padrinhos de casamento, que conheci naquela comunidade do Orkut.

    História do Gol

    Era o final dos anos 2000. Os carros populares ainda existiam, vendiam muito bem e viviam sendo reestilizados para contornar seus projetos datados. Aí apareceu o Gol G5, que envelheceu todo mundo e vivia ganhando os comparativos com seus pares. Eu me lembro da primeira vez que vi ao vivo e fiquei extasiado. Mas hoje, passados 16 anos, é um carro que não me encanta mais.

    Depois veio o Chevrolet Agile. Não era bonito e não é bonito até hoje, mas deixou as expectativas altas quando ensaiou seu design com o conceito GPiX, atração do Salão do Automóvel de 2008. Se tivesse evoluído conforme o conceito, teria sido um grande acerto.

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    Uma coisa que percebi nesses anos é que um design que nos deixa desconfortável não é exatamente feio

    A Chevrolet acabou emendando uma família de carros com visual muito abrutalhado, como Cobalt, Spin e Onix. A grade dianteira era muito grande, assim como os faróis.

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    Lembro-me que no evento de lançamento da primeira Spin Activ (que acabou ganhando o apelido de “capivara de mochila” naquele grupo do Orkut) retornei de van para o hotel com Carlos Barba, mexicano que àquela altura era diretor de design da GM no Brasil.

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    Chevrolet Onix
    Chevrolet Onix e Chevrolet Agile (Marco de Bari/Quatro Rodas)

    Aproveitei a cara de pau de repórter iniciante para perguntar o que ele achava das críticas ao design daquela família de carros. E ele respondeu algo sobre destacar a robustez e versatilidade e que, no caso da Spin, aquela havia sido a proposta mais aceita nas pesquisas da empresa nos mercados onde seria vendida. Escapou pela tangente.

    Pelo menos acabaram corrigindo aquela impressão sobre os Chevrolet nas reestilizações seguintes. Agora, dez anos depois, a Spin está mais interessante de frente e por dentro. Mas, particularmente, preferia a traseira da primeira reestilização. Desculpa, Barba.

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    Uma coisa que percebi nesses anos é que um design que nos deixa desconfortável no primeiro momento não é, exatamente, feio. Acabei me acostumando com o Kia Soul, Fiat Toro e C4 Picasso, por exemplo. Já os achei feios, mas hoje não me incomodam – ainda que o Soul tenha ficado feio depois, quando mudou.

    Aliás, franceses e sul-coreanos são ótimos em fugir do convencional. Pode ser que um dia eu passe a gostar do atual Hyundai Santa Fe quadradão e entenda as formas arredondadas de Hyundai Ioniq 6 e Citroën C5 X.

    Hyundai Ioniq 6
    Hyundai Ioniq 6 (Divulgação/Quatro Rodas)

    Fiquei com isso na cabeça até ouvir, em um podcast, o caso de um jornalista peruano que foi entrevistar Oscar Niemeyer, que não falava espanhol e não escutava bem àquela altura, aos 102 anos. A uma pergunta completamente diferente, ele respondeu: “A minha ideia com a arquitetura é o espanto, a coisa nova”.

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    Isso explica muito sobre sua obra, mas me fez pensar que muito diretor de design de automóveis pensa dessa forma. E faz todo o sentido: é melhor que a criação seja considerada feia do que alguém (ou pior, um jornalista) dizer que o design não é original e parece com o de outro carro.

    HENRIQUE RODRIGUEZ

    Henrique Rodriguez
    (Fernando Pires/Quatro Rodas)

    Jornalista com os dois pés na mecânica. Gosta de mexer em carburador, mas aprendeu a gostar dos carros elétricos.

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