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Quando eu tomar o poder

Por Jeremy Clarkson
Atualizado em 20 mar 2024, 08h28 - Publicado em 3 jun 2013, 15h46
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O Alfa Romeo MiTo TwinAir é tão ruim que eu não daria nem para o meu filho, que não entende nada de carro

Um dia, quando eu estiver cansado de gritar e fazer curvas rápido demais, quero ser o Diretor-gerente, CEO, Presidente e Líder Imperioso da Alfa Romeo. Porque eu quero arrumar a empresa. O primeiro carro a ser lançado sob minha ditadura absoluta será um esportivo de dois lugares. Ele será um pouquinho maior que o Mazda MX-5, terá tração traseira, câmbio manual e será chamado de Spyder.

Sob o capô haverá um pequeno e feroz motor de quatro cilindros de 2 litros e duplo comando de válvulas, que bufará e soltará estouros em alta velocidade. Ele será alimentado por carburadores, que farão os burocratas sem rosto do controle de emissão de poluentes da União Europeia me escrever uma carta veemente sobre a necessidade de preservar os ursos-polares do mundo. Eu responderei, em termos ainda mais veementes, explicando que não estou interessado em ursos-polares, geleiras ou em quanto dióxido de carbono existe na atmosfera, porque o carburador é uma coisa de delicadeza extraordinária e simplicidade magnífica. Eu então amarrarei essa carta em um tijolo e jogarei pela janela deles.

Depois teremos de decidir como será o visual do carro. Não vai ser difícil. Eu entrarei no centro de design da empresa com uma arma e anunciarei que eles devem criar o carro mais bonito jamais feito. Anunciarei, olhando para meu AK-47, que falhar não será tolerado.

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O resultado final se parecerá um pouco com uma versão em escala menor da Ferrari 275 GTS. Haverá também alguns traços que lembram o Fiat 124 Spider, talvez com notas do Maserati 3500 GT. Terá rodas raiadas. E talvez faróis escamoteáveis. E, se alguém escrever para dizer que eles são ruins para a segurança dos pedestres, eu vou descobrir se eles estão certos, caçando-os pelas ruas.

O resultado será lindo de olhar, adorável de dirigir e tão procurado quanto fotos de nudez de membros da família real. O dinheiro choverá nos cofres da empresa e ele será todo gasto em um novo hatch, nos moldes do antigo Alfasud. E para trazer o 159  de volta, que saiu de produção sem um bom motivo. Porque não havia nada de errado com ele. Recentemente, assisti ao novo filme do James McAvoy, Welcome to the Punch. No filme ele dirige um Alfa 159, que parecia tão sensacional que perdi o fio da meada do filme. Adoro aquele carro. Gostaria que continuasse conosco. Sinto falta dele.

Eu amo os Alfa Romeo da mesma forma que velhas senhoras amam seus gatos. Sei que eles são pouco confiáveis, não muito inteligentes e às vezes agem feito loucos. Mas é o que os faz parecer humanos. Eu amo os Alfa do mesmo jeito que os torcedores do Arsenal amam seu time. Mas, da mesma forma que os torcedores do Arsenal, estou sendo forçado a ver o amor da minha vida ser arruinado.

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Meu filho vai fazer 17 anos e ganhará um carro. Mas qual? Talvez porque seja meu filho, ele é tão apaixonadamente desinteressado por tudo relacionado a carros quanto acredito que seja humanamente possível. Ele sabe menos sobre carros que o rei Herodes. Tudo o que ele sabe é que não quer um Ford Fiesta, porque é o carro que a irmã mais velha tem. E ele quer ser diferente. Então eu sugeri um Alfa. O MiTo, talvez. A nova versão TwinAir, com o motor 0,9 litro de dois cilindros. Seus olhos começaram a brilhar. “É italiano”, eu disse. Ele gostou de ouvir isso. Ele gosta da Itália.

Então emprestei um para um test-drive e… Santa Mãe de Deus! Foi chocante. Tão ruim que é quase impossível de acreditar. A ideia em si é muito boa. Há muitas pessoas que adorariam ir de um lugar a outro levadas por um motorzinho que promete mais de 25 km/l. Originalmente ele estava disponível apenas no Fiat 500, que para muitos é um carro pequeno demais. Então ele foi colocado no MiTo. O motor é bom como sempre: sobe de rotação com o entusiasmo de um cachorrinho e tem um barulho que faz você sorrir. Mas não há como fugir ao fato de que ele é muito pequeno, e o MiTo é bastante pesado. Então, apesar das rotações histéricas e do barulho cômico, continua andando a 7 km/h.

Várias vezes tentei ultrapassar um Peugeot, satisfeito com o surto de potência inicial, mas então ele murchava e morria como uma uva numa fornalha, e alguma coisa vinha na direção contrária, com suas luzes piscando, e eu tinha de frear e voltar para trás do Peugeot. Rápido esse carro não é. Ele soa rápido. Ele até parece rápido. E é um Alfa Romeo, então deveria ser rápido. Mas ele não é, não importa o que você faça com o DNA. Há um botão que lhe permite escolher entre três acertos: Dynamic, que nem de longe lhe dá potência suficiente; Natural, que dá menos ainda; e All-Weather, que é irrelevante.

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Eu estava feliz com tudo isso. Porque, embora meu filho não esteja interessado em carros, ele é um adolescente. E eu gosto muito da ideia de ele estar dirigindo por aí uma coisa que tem exatamente a mesma velocidade máxima e aceleração que a rainha da Inglaterra. No entanto, algumas outras coisas não eram tão boas. As trocas de marcha eram aflitivas, a suspensão, catastrófica e eu só posso supor que a posição de dirigir foi feita para aquele orangotango que costumava andar com o Clint Eastwood. Os pedais estão praticamente debaixo do volante, o que significa que só ficará confortável uma pessoa cujos braços tiverem exatamente o mesmo comprimento das pernas.

E adivinhe quanto custa? Não. Você errou. Mas não se sinta mal, porque eu também errei. Pensei que seriam umas 13 000 libras (39 700 reais). Mas o carro que eu testei, que tinha um ou dois opcionais, custava 16 500 libras (50 400 reais). Demais para um carro desse tamanho. E, para um carro desse tamanho e tão ruim assim, é uma piada.

É claro, você está pagando pelo emblema. Que vale muito, admito. Há muito simbolismo nele: serpentes, lendas de Milão e uma cruz vermelha que remota ao primeiro cruzado a escalar os muros de Jerusalém. E tem mais. Houve um ano em que a Alfa Romeo venceu todas as corridas do calendário de Grandes Prêmios da Fórmula 1. Foi onde Enzo Ferrari começou sua carreira. Há mais tradição e emoção pura naquele símbolo do que em todo o resto da indústria automobilística.

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E, mesmo assim, a empresa teve o descaramento de colocá-lo no MiTo TwinAir. É como colocar o emblema da Rolls-Royce em uma oficina de esquina. Não, é pior. É como a princesa Anne aparecer em um comercial de TV de empréstimos consignados. Simplesmente não faz sentido.

Então, quando eu assumir a Alfa Romeo – talvez por meio de um golpe armado –, o MiTo TwinAir será tirado de produção, e qualquer biblioteca ou site de internet que contiver alguma menção a ele será varrido do mapa.

Nesse meio-tempo, acho que meu filho vai ganhar um Volkswagen Polo. Vou dizer que é um carro italiano. Ele não vai saber a diferença.

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