Carro no Brasil nunca foi barato, mas já foi menos caro. Levantamento da consultoria Jato aponta que o preço médio dos carros novos vendido no Brasil em 2022 foi de R$ 130.851. É como se todos os 1.576.960 de automóveis emplacados no ano passado tivessem sido um Fiat Pulse Impetus com pintura metálica (R$ 129.980). Isso representa um aumento de 85% em 5 anos e não passa despercebido.
Em 2017, o preço médio dos preços dos carros novos era de R$ 70.877. Houve um aumento de 4,8% para 2018 (R$ 74.313) e de mais 2,8% em 2019 (R$ 76.430). Aí veio a pandemia da Covid-19 e tudo começou a dar errado.
O aumento no preço médio dos carros acumulado de 2020 a 2022 foi de 51,5%. O gráfico abaixo, da Jato, revela o momento exato que os preços começaram a sair do normal: entre maio e junho de 2020, justamente quando a venda de carros novos despencou por conta do isolamento social.
Mas o aumento de preços constante começou, de fato, em dezembro de 2020. É justamente o momento em que a falta de matérias-primas e semicondutores começou a impactar na cadeia produtiva global.
A empresa coloca essa instabilidade no fornecimento de insumos para as fábricas como primeiro causador do aumento dos preços dos carros novos, forçado pela tolerância zero para a Covid na China, pela paralização nos seus portos e a consequente falta de semicondutores.
A alta no preço dos fretes internacionais (que ainda é um grande problema) e a instabilidade do dólar também são apontados como causadores. Só depois vêm questões que envolvem o desenvolvimento tecnológico, como as mudanças nos automóveis para se enquadrar no Proconve-L7 e para cumprir novas exigências de segurança e a pressão inflacionária.
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia tem impacto indireto, por conta do aumento do preço dos combustíveis., e o principal modal de transporte no Brasil é rodoviário, e pelos dois países serem grandes produtores de matéria-prima para semicondutores: paládio e gás neon.
E quem pensa que essas questões estão controladas se engana. De 2021 para 2022 essa média no preço dos carros novos aumentou 16,9%, de R$ 111.938 para os R$ 130.851.
Preço do carro mais barato vs. salário mínimo
O relatório da Jato também confronta o histórico de preços dos carros mais baratos de cada ano com o salário mínimo da época, desde 2000. Neste ano, por sinal, era preciso 92,42 salários de R$ 136 para comprar o Fiat Uno EX 1.0 a álcool, tabelado em R$ 12.569 à época.
Nesta conta, o melhor momento foi justamente 2017, quando 27,98 salários de R$ 954 compravam o carro mais barato. Tudo bem, este carro mais barato era um Chery QQ de R$ 26.690.
Ainda assim, na virada de 2020 para 2021 o Fiat Mobi Easy de R$ 38.990 representava 35,45 salários de R$ 1.100. Esse valor escalou para 54,94 salários na última virada de ano: salário de R$ 1.212 contra o Renault Kwid Zen de R$ 65.590.
É importante considerar, também, que essa inflação no preço dos carros novos espanta compradores dos carros mais baratos. Quem pode e tem crédito para comprar um carro novo escolhe carros mais caros.
Um dado ilustra isso muito bem: se lá em 2017 os carros compactos representavam 51,5% dos carros novos e os SUVs eram 18,6% das vendas, em 2023 a participação deles praticamente empatou com 35,1% de compactos e 34,4% de SUVs. E SUVs quase sempre custam mais caro.