Confesso: sou da época em que meu pai acendia o cigarro no carro, puxava a tampinha do cinzeiro e abria o quebra-vento do seu Fusca 1500 ano 1972 para dar suas tragadas.
Pois é, o tempo passou, o cigarro se tornou um dos principais inimigos da sociedade, o quebra-vento foi aposentado, mas ainda tem carro por aí que é vendido com… cinzeiro. Outros automóveis vão além: ainda mantêm o isqueiro.
E esses são só dois exemplos de itens defasados que ainda são encontrados nos veículos por aí. Só que, ao mesmo tempo, tem carro que adota equipamentos modernos, mas cuja aplicação não só é questionável, como beira o supérfluo.
Reunimos alguns destes itens (inusitados ou não) dispensáveis que ainda são encontrados em modelos zero-km.
Confessa aí também: quantas vezes você já usou o comando de voz da sua central multimídia ou o sistema de estacionamento automático do seu “carango”?
Aquecimento dos bancos
É útil em países com invernos rigorosos. Tanto que a esmagadora maioria dos carros com o dispositivo é importada. No nosso país tropical, o motorista vai ligar o sistema em poucos lugares e, talvez, em raríssimas ocasiões. Ou então vai deixar o banco do passageiro quente para fazer uma “picardia” com o carona em pleno verão.
Faróis de neblina
Beleza, até tem serração em muitas estradas do país. Mas quantas vezes você lembrou de ligar os faróis ou lanternas de neblina?
E olha que essas luzes são importantes para aumentar o foco de iluminação no piso o mais próximo do carro (no caso do conjunto dianteiro) e para reforçar a sinalização para os demais motoristas (no caso da lente traseira).
Acaba que a maioria usa os instrumentos de neblina de forma… “estética”.
Os carros mais modernos só permitem acionar as luzes com os faróis baixos acesos, mas muita gente ainda usa essas luzes auxiliares em conjunto com a lanterna acesa, à noite.
E aqui vale o alerta: andar só com lanterna à noite ou com a neblina ligada sem necessidade constituem infração grave, com multa de R$ 195,23 e 5 pontos na CNH.
Isqueiro e cinzeiro
Além do cigarro ser prejudicial à saúde, fumar dentro do veículo deixa a cabine com mau cheiro. Tanto que, mesmo antigamente, os próprios motoristas fumantes evitavam depositar as cinzas nos cinzeiros.
Mesmo assim, tem muito carro zero-km que ainda vem com a peça. Os mais práticos e inteligentes são em forma de recipientes removíveis para serem limpos regularmente – e que servem também como uma pequena lixeirinha.
Já os isqueiros persistem em pouquíssimos veículos. Modelos da JAC ainda o têm, assim como o Dodge Journey. E como o acendedor de cigarros era acionado dentro da tomada 12V, muitos e-commerces também vendem a peça.
Cabideiro
Sabe aquele pequeno gancho integrado à alça de segurança do teto? É um cabideiro. Só que é preciso ter um cabide bem fino para que ele fique sustentado ali. E, mesmo assim, a roupa ficará balançando para lá e para cá no trânsito.
Sensor de pneus
Esse é útil, mas muita gente não sabe para que e nem identificá-lo. É preciso ficar de olho no painel. Se a luzinha que parece um ponto de exclamação dentro de parêntesis ficar acesa, significa que algum pneu está murcho e é preciso calibrá-lo. Isso ajuda na segurança do veículo e, principalmente, na economia de combustível.
Nicho sob o assento
O recurso estreou por aqui no Ford EcoSport de primeira geração e está presente em outros carros, porém tem gente que nem sabe que, ao levantar o assento do carona, há um porta-objetos.
A questão é que não é um recurso intuitivo. Quem já usou, queixa-se de que sai do carro e esquece de pegar o que guardou lá – justamente por não estar visível.
Os VW Fox, Polo, Golf e Jetta foram outros que trouxeram uma gaveta embutida embaixo do banco do motorista. Esse é ainda pior porque obriga o condutor a se curvar e esticar a mão até o assoalho.
Estacionamento semiautomático
Também conhecido como Park Assist, foi um dos primeiros dispositivos de condução semiautônoma a ser oferecido.
Ainda causa espanto e admiração em muitos que veem aquele volante girar para lá e para cá enquanto você dosa o pedal do freio e o carro entra na vaga.
Mas, no mundo real, já tentou fazer isso em uma rua apertada? Pois é, o sistema demanda tempo. Você tem de ver a vaga, acionar a seta, ativar o dispositivo, parar à frente do espaço e engatar a ré para que o equipamento faça a baliza – o que não é imediato, tampouco rápido.
A turma atrás de você no engarrafamento vai soltar impropérios contra seus ascendentes mais antigos.
Teto solar
A peça é símbolo de esportividade, e em modelos ou versões mais caros se transforma em um belo teto panorâmico. Mas vamos combinar: quantas vezes você abriu o teto solar do carro?
Para início de conversa, o clima é pouco favorável na maioria das cidades brasileiras. São Paulo costuma ter as quatro estações do ano em um mesmo dia, enquanto o sol impiedoso do Rio vai queimar os seus fios de cabelo rapidamente.
Fora o fato de que muito motorista fica tenso ao parar o veículo com o teto aberto do lado de um ônibus, com medo de que alguém brinque de Michael Jordan e faça da sua cabine uma cesta de basquete para qualquer sorte de objeto.
Aletas no volante
Essa é polêmica. Nós costumamos lamentar, em nossos testes e avaliações, que tal versão automática “deve aletas para mudanças de marcha no volante”.
Indiscutivelmente, o equipamento faz você interagir melhor com o carro. Além de ser útil para tentar tirar o melhor da conjunto motor/transmissão. Especialmente nos problemáticos modelos com câmbio automatizado de embreagem simples (Easytronic, i-Motion, Dualogic…).
O que acontece é que pouca gente usa o recurso – seja no volante, seja na alavanca do câmbio. Muito menos quando a função está em pequenas teclas no pomo da alavanca, caso de modelos da Chevrolet e Ford.
Entradas auxiliar e SD card
Em tempos de centrais com conectividade com smartphones e espelhamento de celulares, para que servem entradas que não sejam USB? Pois é, ainda tem muito multimídia que vem com entradas auxiliares (P2) – em modelos da BMW, Mini, Jaguar, além do Hyundai Creta e sistemas de som de alguns carros de marcas japonesas.
Menos compreensível é o SD card. Na maioria das centrais, serve apenas para carregar o GPS nativo, mas há tempos a Volkswagen, por exemplo, disponibiliza as entradas SD em suas centrais.
Difícil imaginar que alguém – mesmo anos atrás – carregasse cartões de memória para ouvir música no carro. Era mais prático colocar no Bluetooth.
Bússola
O motorista brasileiro nunca teve a cultura de usar bússola para se guiar. Sempre foi na base da informação com o frentista e com o jornaleiro – ou mesmo na convicção de seus instintos para não ter de pedir informação a ninguém.
As bússolas ainda figuram em modelos com vocação off-road. Mas geralmente aparecem nas centrais multimídias ou como parte das informações do quadro de instrumentos em algumas marcas como Toyota, Honda, BMW e Dodge/RAM. E nas versões Comfortline e Highline do VW T-Cross.
A verdade é que, com o Waze, Google Maps e GPS, a bússola passou a ser totalmente dispensável.
Comando de voz
Por falar em centrais multimídias, hoje até compactos já oferecem comandos de voz para acionar algumas funções do carro.
Contudo, pouca gente sabe como acionar o sistema, que é um ótimo aliado de segurança. Basta apertar uma tecla para mudar uma estação de rádio, fazer uma chamada pelo telefone através do Bluetooth e até regular o ar-condicionado por meio de frases curtas.
Luz ambiente colorida
Modelos de marcas de luxo vendem o tal pacote de luzes como opcional. Mas vamos lá: para que gastar dinheiro e transformar seu carro em um misto de programa do SBT dos anos 1990, com “boate” dos anos 1980 e motel metido a descolado?