Quando a Audi criou o Q3, não devia saber que havia outros concorrentes. Senão teria feito um carro melhor
É extraordinário com que facilidade, numa sala cheia de adultos bem informados e que dominem um assunto, a conversa pode chegar a uma conclusão totalmente desorientada e idiota. Há alguns anos a Coca-Cola fez isso quando decidiu fabricar na Europa a Coca com gosto de um pano de chão usado. Paul McCartney gravou a música “Ebony and Ivory”. A Philips foi pioneira no laserdisc. O jornal San Francisco Chronicle não quis republicar a história do escândalo de Watergate, afirmando que ela só seria de interesse das pessoas da Costa Leste dos EUA.
É claro, o mundo automobilístico é assolado por mais erros do que quase qualquer outra atividade econômica. Alguém na Pontiac olhou para o desenho proposto para o horrível crossover Aztek e disse “Hum… Sim! Excelente”. E houve frases parecidas na sala da diretoria da Ford quando seus designers mostraram, por engano, seus planos de gozação para o que se tornou o sedã Scorpio.
A Daimler pensou que conseguiria competir com o Rolls-Royce Phantom colocando mais acabamento de madeira em um Mercedes Classe S e chamando-o de Maybach. A Toyota lançou um carro chamado MR2 sem perceber que, em francês, a sigla seria pronunciada “MR deux”, que soa como mer… bem, dá pra imaginar, não? E a Audi decidiu que poderia melhorar o airbag desenvolvendo um sistema chamado Proconten, que usava uma rede fantasticamente complicada de cabos para puxar o volante para a frente no caso de qualquer impacto frontal. É quase como se toda reunião na indústria automobilística fosse planejada especificamente para excluir o pensamento racional, o que me leva à reunião de mentes privilegiadas que deve ter acontecido alguns anos atrás na diretoria da Audi.
Eles obviamente decidiram que seria uma boa piada criar um novo tipo de hatch médio que parecesse estar apto ao off-road, mas que não estava. “Sim”, alguém deve ter dito. “É uma ideia brilhante. Ninguém mais pensou em fazer algo assim.” E eles estavam certos. Não existem outros exemplos de SUVs compactos. Exceto pelo Land Rover Freelander, Range Rover Evoque, Honda CR-V, Toyota RAV4, BMW X1, VW Tiguan, Subaru Forester, Hyundai ix35, Volvo XC60, Kia Sportage, Ford Kuga, Nissan X-Trail, Jeep Compass…
É possível que eles soubessem o tempo todo que havia muitas opções nessa categoria. Mas acho improvável. Porque, se soubessem, eles teriam feito de tudo para que seu novo carro fosse melhor que os de seus concorrentes. E ele não é. Vamos começar pelo porta-malas, que é bem pequeno. E a razão pela qual ele é bem pequeno é que sob seu assoalho aparentemente fica instalado um grande subwoofer. Que tipo de droga alucinógena eles estavam tomando na reunião em que todo mundo concordou que essa era uma boa ideia? Quem levantou e disse que “bons graves são mais importantes do que a capacidade de transportar cachorros, compras ou um estepe”?
Um pouco mais para a frente temos o banco traseiro, que é largo o suficiente para três pessoas, mas somente se elas tiverem rodinhas no lugar de pernas.
Como é dirigi-lo? Bom, não é fácil dizer, porque as rodas do carro que avaliei não estavam bem balanceadas e tentar ser racional quando se vê o mundo por meio de uma visão trepidante é como tentar se concentrar nos detalhes dos argumentos de alguém que está repetidamente batendo na sua cabeça com um machado. Tudo o que posso dizer é que o motor é muito bom. Eu testei a opção a diesel mais potente, que tem muita energia e a sede de uma abelha. Seu som também era legal, de uma forma grave.
No entanto, pela manhã, após ele ter dormido a noite inteira, levou um segundo ou dois para ele lembrar qual seria seu propósito na vida.Você gira a chave e… não acontece nada. Então, logo antes de ele se lembrar de que é um motor, você desiste e desliga a ignição. Isso desencadeia alguns palavrões. Mas, em termos de “sem noção”, a caixa de câmbio é pior. No modo Sport ela simplesmente não trocava de marcha, enquanto no modo Normal ficava trocando o tempo todo. A cada poucos segundos. Sem qualquer razão lógica.
E tem também o recurso do modo Efficiency, que coloca o câmbio deste Audi em ponto morto cada vez que você levanta o pé do acelerador. Em teoria, essa medida para poupar combustível parece uma boa ideia. Na prática, significa que você não consegue andar com suavidade em uma rodovia.
Então, como avalio o Audi Q3? Não é prático. Não é gostoso de dirigir. E não é bem pensado tecnologicamente. Portanto, o que fazer se você quer um carro que parece encarar um percurso fora de estrada e ainda faça isso? Especialmente se você escolher a suspensão esportiva, que deixa o carro com altura livre em relação ao solo comparável à de uma centopeia? Bem, a resposta óbvia é o Range Rover Evoque. Mas se para seu gosto ele for caro demais e seu espaço interno não for suficiente, não se preocupe. Há uma alternativa melhor: ela se chama sedã.